quinta-feira, 31 de julho de 2008

NÃO PASSAREI


Não passarei duas vezes
Por um mesmo caminho...

Por isso,
Tudo aquilo de bom
Que eu puder fazer
Precisa acontecer depressa,
Antes que o tempo se vá,
Breve e derradeiro,
Deixando-me vazia
Do que eu podia dar
e não tentei...

Não passarei duas vezes
Por um mesmo caminho...

Por isso
Os rastros que eu deixar,
Não podem ferir
Os que vierem depois de mim,
Nem se constituir em uma cilada
Para os que cruzarem
A minha estrada,
desavisados e crédulos...

Não passarei duas vezes
Por um mesmo caminho...

Por isso,
Enquanto eu vou,
Eu devo apenas
Distribuir felicidade,
Como gotas de chuva
em terra fértil!

(do meu livro “No silêncio do coração”, Catolicanet / SP)

quarta-feira, 30 de julho de 2008

DOM HELDER CAMARA - OBRAS COMPLETAS


Na caminhada “rumo ao centenário de nascimento de Dom Helder Câmara”, está proposta a edição de livros que tragam ao mundo o pensamento e a ação do profeta por ocasião do Concílio Vaticano II.

Muito em breve estará sendo lançado o Tomo 2, do volume I das Cartas Conciliares e uma tiragem pequena, em 2ª edição, do Tomo 1 dessa coleção, a primeira das “Obras Completas” do profeta, já lançada.

Pelo menos seis livros comporão essa editoração, a ser feita pela Companhia Editora de Pernambuco – CEPE, que aceitou o desafio de, até o final de 2009 – ano do centenário de nascimento – cumprir essa meta.

Para todos que vierem a ter acesso à cada um dos volumes das Obras Completas, restará o encantamento diante da força das mensagens ali contidas, tão atuais como se o saudoso Arcebispo Emérito de Olinda e Recife ainda estivesse entre nós...

terça-feira, 29 de julho de 2008


Não foi aqui que nasci:
vim por acaso...
Menina ainda
e já gostava de te ver, faceira
e contemplar o teu feitiço,
Oh! Linda!

Não foi aqui que nasci:
cheguei mais tarde...
Guiou-me a mão do sol, do mar sereno,
a doce brisa que te embala o verde,
no encanto terno de te ver,
Oh! Linda!

Não foi aqui que nasci:
foste escolhida
para abrigar meus sonhos de futuro
e agasalhar os filhos que te trouxe,
por meu desejo, filhos teus,
OLINDA!

Não foi aqui que nasci:
mas renascida,
selei meu compromisso e vim contigo,
buscando assim firmar minhas raízes
no teu fecundo e lindo ventre,
OLINDA!
(poema publicado no meu 1º livro de poesia,
"As muitas faces do bem-querer", em 1981)

FERNANDO DE NORONHA É UMA MARAVILHA!


Um lugar distante do continente, isolado no Atlântico Equatorial. Um arquipélago pequenino, de origem vulcânica, com apenas 26km², formado por 21 uma ilhas, ilhotas e rochedos abruptos, sobre os quais se derrama o “guano”, resultado dos excrementos de aves marinhas solidificados, conferindo-lhe uma aparência esbranquiçada, inesquecível... Isto é Fernando de Noronha, o Arquipélago brasileiro pertencente ao Estado de Pernambuco, uma verdadeira jóia entre lindos tons de azul do mar que o rodeia, candidato a ser uma das "maravilhas do mundo"..

Sua história fala de um passado difícil, da predação que vinha pelas abordagens dos tantos navegadores- aventureiros, pelo oceano. De um longo tempo de Colônia Correcional, para presos comuns. E de tempos menores para abrigar apenas prisioneiros políticos. Esses relatos ganharam força, nos tempos de agora, e garantiram as medidas preservacionistas que hoje vigoram, para que sua esplendorosa natureza seja protegida, seu patrimônio conservado e a sua beleza guardada para as gerações que se seguirão.

São 16 praias, baías e enseadas. Pura beleza e prazer, nas águas mornas, nos contornos voluptuosos de cada recanto, nas pedras que lembram símbolos fálicos, nas piscinas naturais, entre rochedos... São trilhas que avançam para o interior da ilha principal, sempre em direção aos mirantes naturais, entre enormes paredões e lajedos... É o mar – soberano e claro, na sua inacreditável transparência que chega a mais de 20 metros -, permitindo o prazer dos mergulhos indescritíveis, em inúmeros pontos escolhidos em torno desse ambiente silencioso e limpo... E, nessa aventura, vale a descoberta da diversificada fauna marinha e o encontro com rastros do homem, nos muitos naufrágios ali ocorridos.

Isto é Fernando de Noronha. Uma verdadeira maravilha, na terra e no mar, a 375km da costa nordestina do Brasil, onde habitam simpáticos golfinhos, que fazem da “baía” o lugar de maior concentração, no mundo, em animais dessa espécie. E onde desovam tartarugas verdes, chamadas “aruanã”, em algumas das praias noronhenses.

Este mar, com seu ambiente tranqüilo, habitado por diversificadas espécies – entre peixes, lagostas, polvos, arraias, moréias e até os temidos tubarões (que no Arquipélago jamais causaram dano ao homem) – é a perfeita moldura para um lugar excepcional, de elevações significativas – onde se destacam o Morro do Pico (com 323m) e os Dois Irmãos, inspiradores de lendas que lhes atribui uma fantástica narrativa, vendo-os como símbolos de amores proibidos.

Viver Fernando de Noronha é sonho, expectativa e prazer! Viver em Fernando de Noronha é crer na afirmativa que atravessou esses cinco séculos, no dizer do seu descobridor, Vespúcio: “O PARAISO É AQUI... Por isso, VOTAR EM FERNANDO DE NORONHA, COMO UMA DAS MARAVILHAS DO MUNDO, É UMA QUESTÃO DE JUSTIÇA!

segunda-feira, 28 de julho de 2008

RECONHECIMENTO

Certos gestos são tão grandes, tão imensos
em sua silenciosa aparição,
que as palavras, ou outros gestos esboçados,
não conseguem traduzir nossa emoção!

Cada gesto permanece, quando passa,
mas não passa o imenso bem que ele gerou...
Cada gesto não se apaga mesmo quando
apaga-se a chama que, por ele, incendiou!

(publicado no livro "Cantando o amor o ano inteiro", Ed. Paulinas)

A CACIMBA DO PADRE, EM FERNANDO DE NORONHA.


A praia com esse nome, muitos conhecem... A “cacimba” que a re-batizou, não. O lugar é muito quieto e bonito e, por ele se chega à Praia da Cacimba do Padre (antiga “Praia da Quixaba”). No caminho, em meio à vegetação, ela resiste, abandonada e semi-destruída.


Outrora, no tempo em que haviam presos na ilha, sua água cristalina era reservada aos doentes, pela excelência do sabor e as propriedades terapêuticas que possuía. Depois, nos difíceis tempos do Destacamento Misto da II Guerra Mundial e do Território Federal, continuou a ser privilégio dos que mais precisassem, usada quase como remédio. E poucos sabem que a 120 anos atrás – em 1888 - um padre – Francisco Adelino de Brito Dantas - descobriu aquele lugar silencioso e aquela fonte de água limpa e doce, conduzindo a construção, pelos presidiários, da cacimba de 14 metros de profundidade, que eternizou sua presença na ilha.


A cacimba quase não é percebida até pelos ilhéus, que caminham por entre ruínas da habitação do padre lendário, personagem de histórias fantásticas. No dizer popular, é o seu fantasma que aparece nas noites sem lua, cavalgando uma mula branca, sem cabeça, chegando até a beirada da cacimba, como se estivesse a vigiá-la...


Sabe-se pouco sobre a legendária figura. Os arquivos do presídio registram a chegada, na década de 1880, de um padre-sentenciado, que bem poderia ter sido o padre imortalizado ali... Câmara Cascudo, em “O livro das velhas figuras”, fala do inquieto e trabalhador Padre Francisco Adelino de Brito Dantas, do R.G.do Norte, que foi designado capelão do presídio noronhense no século XIX. Quem sabe os dois não a mesma figura, do preso atuando como capelão???

Hoje, arruinada, a cacimba do padre nada possui de destaque, invadida pelo mato e poluída, deixada ao abandono. Um pouco adiante dela está a praia, no seu cenário de sonho, tendo à beira-mar os rochedos Dois Irmãos.


Lugar de meditação e de paz, a Cacimba do Padre de Fernando de Noronha vive esses 120 anos de história, como um patrimônio fernandino de todos os tempos, infelizmente esquecido.

PAR UM ANIVERSARIANTE ESPECIAL

Não é o tempo que conta
e sim o que dele fizeste
pela vida...

Não é a idade que importa,
mas o que alcançaste
enquanto amadurecias...

Não é só o dia do aniversário que louvo,
mas todos os dias em que fizeste,
ao outro, mais feliz!

Feliz aniversário, querido amigo!

domingo, 27 de julho de 2008

FESTA DO SALVADOR DO MUNDO EM OLINDA

Começa neste dia 28 de julho, o novenário da FESTA DO SANTÍSSIMO SALVADOR DO MUNDO, padroeiro de Olinda e da Arquidiocese de Olinda e Recife.


No dia 06 de agosto, data em que é celebrada a "Transfiguração do Senhor", quando Jesus, no Monte Tabor, diante dos discípulos, mostrou sua glória, como Salvador, será o encerramento da festa, com celebração na Igreja da Sé, Catedral do Arcebispado de Olinda e Recife, e procissão pelas ruas do sítio histórico de Olinda.

É uma antiga comemoração, que por mais de vinte deixou de acontecer, sendo reativada a partir de 1978, a pedido do historiador e então presidente perpétuo do Instituto Histórico de Olinda, Gaston Manguinho (chamado "Patriarca de Olinda), hoje falecido. A continuidade da celebração trouxe de volta o gosto olindense por ela, que conta agora com a participação de todas as Paróquias do setor Olinda e de toda a Arquidiocese e a coordenação da Paróquia da São Pedro Mártir (à frente, Monsenhor Valdenito Oliveira) .

Falaremos sobre os fundamentos históricos dessa titulação do
Salvador em Olinda, em breve.

sábado, 26 de julho de 2008

RAIZES FORTES


Olho a árvore,
soberba, imensa, forte...
Seus galhos dispersos
carregam vida para cada folha,
para cada flor...

Não se podem ver as raízes.
Apenas adivinhá-las,
no seu papel de amparo e fortaleza,
sem exibições,
sem evidências.

Nenhuma ventania,
por mais forte que seja,
consegue atingi-la.

Às vezes,
a luta é desigual
e o agitar-se dos braços/galhos
espelham a luta
que parece não ter fim.

Assim é a vida.
O homem se enraíza, fortemente,
nas teias da afeição
e resiste às ventanias da dor,
da tristeza,
do desamor,
sobrepondo-se a tudo
e vencendo sempre,
quando as fortalezas invisíveis
construídas no coração,
pode defendê-lo...


****************************

(Do livro "EM LOUVOR DO AMIGO", de Marieta Borges Lins e Silva)

PRESENÇA FARROUPILHA EM FERNANDO DE NORONHA

Em 1844 a Revolução Farroupilha, ocorrida no Rio Grande do Sul, levou para Fernando de Noronha um contingente de revolucionários. Havia a intenção de ser encaminhado para a ilha-presídio o mais famoso daqueles revolucionários: Bento Gonçalves. No brigue-escuna “Constância” saiu o herói do Rio de Janeiro (onde já estava preso) em direção ao arquipélago. Fazendo escala em Salvador, não pode o navio prosseguir... Era velho e precisava de reparos. Por isso, Bento Gonçalves foi recolhido ao Forte baiano de São Marcelo, que parecia o lugar mais seguro.

A tentação de isolar no arquipélago nordestino parte dos revolucionários acabou acontecendo, quando esses prisioneiros políticos estavam sendo levados para a Bahia e, sabendo os comandantes da operação, que emboscadas tentariam matar os heróis gaúchos, desviaram as embarcações para Fernando de Noronha, onde sabiam já estar instalado uma colônia penal. Nada foi divulgado na época.

Somente em 1938, quando veio comandar o Presídio Político o gaúcho Nestor Veríssimo foi que alguns seus auxiliares tentaram organizar velhos papéis, reunindo-os cronologicamente e por assuntos. Com surpresa, encontraram a relação dos revoltosos da Farroupilha, que teriam sido recambiados para a ilha, pelas dificuldades de desembarque na Bahia. O responsável pelo “arrumação” do arquivo, João Henrique Domingues, copiou a lista e, anos mais tarde, enviou cópia para o primo do seu antigo Diretor, o escritor Érico Veríssimo que, conhecendo seu conteúdo, repassou-a para o historiador gaúcho Walter Spalding, que escrevia a obra “Um forte baiano ligado ao Rio Grande do Sul”. E então a lista foi incluída no trabalho, esclarecendo e prisão na ilha nordestina, jamais antes divulgada.

Foram 49 prisioneiros farroupilhas, chegados na ilha em 28 de outubro de 1844, na barca “Esmeralda”. Devem ter vindo antes outros presos, dos quais não se conhece a relação nem o número de pessoas, mas se sabe, com certeza, que, em 20 de novembro daquele ano, menos de um mês após ter chegado essa meia centena de presos, 17 do primeiro grupo encaminhado - da qual perdeu-se a relação completa - estavam sendo “devolvidos”, todos embarcados para a Capital da Província de Pernambuco sendo que 16 deles “com o fim de sentarem praça” e um remetido como “criminoso de morte”. Essas iformações só foram divulgadas quando a relação chegou nas mãos de um historiador. Sabe-se que os originais foram enviados para o Arquivo Nacional no Rio de Janeiro, onde estão até hoje.

Pena que - mesmo no Rio Grande do Sul - esse momento histórico é pouco conhecido... O trabalho de Walter Spalding, publicado pelo Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, circulou no restrito círculo de pesquisadores interessados pela história pátria. A grande divulgação não se fez.

Em 2007, o episódio dos farroupilhas em Fernando de Noronha foi incluído na obra “FERNANDO DE NORONHA – CINCO SÉCULOS DE HISTÓRIA, divulgando essa aventura. Ainda bem que foi assim!

sexta-feira, 25 de julho de 2008

PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA

Na madrugada fria,
o céu fartamente estrelado
e a coragem de muitos
conspiravam a favor dos republicanos...

Naquela noite especial,
assumiam todos os brasileiros
um compromisso novo,
que transformaria a História.

15 de novembro de 1889
- fez-se a República no Brasil –


E para a lembrança de sempre,
transportou-se o céu daquela madrugada fria,
para o centro da bandeira auriverde
que tremulava nos mastros erguidos.

E para a lembrança de sempre,
banhou-se de estrelas o belo pendão,
apontando o luminoso rumo que se iniciava
com a coragem e o coração.

15 de novembro de 1889
- fez-se a República no Brasil –

(Publicado no meu livro “Cantando o amor o ano inteiro” Paulinas, 1986).

PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA

Na madrugada fria,
o céu fartamente estrelado
e a coragem de muitos
conspiravam a favor dos republicanos...

Naquela noite especial,
assumiam todos os brasileiros
um compromisso novo,
que transformaria a História.

15 de novembro de 1889
- fez-se a República no Brasil –


E para a lembrança de sempre,
transportou-se o céu daquela madrugada fria,
para o centro da bandeira auriverde
que tremulava nos mastros erguidos.

E para a lembrança de sempre,
banhou-se de estrelas o belo pendão,
apontando o luminoso rumo que se iniciava
com a coragem e o coração.

15 de novembro de 1889
- fez-se a República no Brasil –

(Publicado no meu livro “Cantando o amor o ano inteiro” Paulinas, 1986).

PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA


Na madrugada fria,
o céu fartamente estrelado
e a coragem de muitos
conspiravam a favor dos republicanos...

Naquela noite especial,
assumiam todos os brasileiros
um compromisso novo,
que transformaria a História.

15 de novembro de 1889
- fez-se a República no Brasil –

E para a lembrança de sempre,
transportou-se o céu daquela madrugada fria,
para o centro da bandeira auriverde
que tremulava nos mastros erguidos.

E para a lembrança de sempre,
banhou-se de estrelas o belo pendão,
apontando o luminoso rumo que se iniciava
com a coragem e o coração.

15 de novembro de 1889
- fez-se a República no Brasil –

(Publicado no meu livro “Cantando o amor o ano inteiro” Paulinas, 1986).

PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA


Na madrugada fria,
o céu fartamente estrelado
e a coragem de muitos
conspiravam a favor dos republicanos...

Naquela noite especial,
assumiam todos os brasileiros
um compromisso novo,
que transformaria a História.

15 de novembro de 1889
- fez-se a República no Brasil –

E para a lembrança de sempre,
transportou-se o céu daquela madrugada fria,
para o centro da bandeira auriverde
que tremulava nos mastros erguidos.

E para a lembrança de sempre,
banhou-se de estrelas o belo pendão,
apontando o luminoso rumo que se iniciava
com a coragem e o coração.

15 de novembro de 1889
- fez-se a República no Brasil –

(Publicado no meu livro “Cantando o amor o ano inteiro” Paulinas, 1986).

PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA


Na madrugada fria,
o céu fartamente estrelado
e a coragem de muitos
conspiravam a favor dos republicanos...

Naquela noite especial,
assumiam todos os brasileiros
um compromisso novo,
que transformaria a História.

15 de novembro de 1889
- fez-se a República no Brasil –

E para a lembrança de sempre,
transportou-se o céu daquela madrugada fria,
para o centro da bandeira auriverde
que tremulava nos mastros erguidos.

E para a lembrança de sempre,
banhou-se de estrelas o belo pendão,
apontando o luminoso rumo que se iniciava
com a coragem e o coração.

15 de novembro de 1889
- fez-se a República no Brasil –

(Publicado no meu livro “Cantando o amor o ano inteiro” Paulinas, 1986).

INVOCAÇÃO


Que cessam todos os limites,
sobretudo (e principalmente)
os invisíveis laços
que podem tolher a liberdade...

Que se acabem todas as opressões.
Em especial (e primeiramente)
as formas disfarçadas
de domínio, de coração, de força...

Que destruam todas as barreiras.
Particularmente (e que seja logo...)
aquelas que se erguem no coração,
impedindo que o amor se exteriorize...

Que o homem seja livre,
soberano e senhor do seu destino,
capaz de entregar-se à grande aventura
de cada dia,
guardando, na alma,
a chama quente da ternura infinita...

Que seja a semente geradora
de enormes ideais,
a ser plantada no coração

do amigo, do companheiro, do amado...

Que assim seja,
para que retorne ao mundo
a felicidade, a paz, o bem!

DEVE FICAR...


Deve ficar,
nos lugares onde vivemos,
a lembrança de nossa presença,
como uma marca...

Eco de palavras,
carregadas de emoção.

Sonho de passagens,
em andanças de tantos dias.

Cheiro de um tempo distante.
Rastro de passos que se foram...

Deve ficar,
por essas paredes,
por esses telhados,
por esses caminhos,
a nossa irreal presença,
impressa, indelevelmente,
naquilo que fomos
... e não seremos nunca mais!

Publicado no meu livro "No silêncio do coração"

DEVE FICAR...


Deve ficar,
nos lugares onde vivemos,
a lembrança de nossa presença,
como uma marca...

Eco de palavras,
carregadas de emoção.

Sonho de passagens,
em andanças de tantos dias.

Cheiro de um tempo distante.
Rastro de passos que se foram...

Deve ficar,
por essas paredes,
por esses telhados,
por esses caminhos,
a nossa irreal presença,
impressa, indelevelmente,
naquilo que fomos
... e não seremos nunca mais!

(publicado no meu livro "No silêncio do coração"

DIA DOS AVÓS


Esses braços já experimentaram os abraços
de filhos que um dia quiseram ter...
Seus corações guardam ecos distantes,
de vozes infantis, de passos apressados,
que fizeram o encanto do tempo
em que foram PAI e MÂE...

Esses colos foram abrigos bem seguros,
regaço protetor em cada queda,
em cada momento de partilha,
saboreando a doçura do crescer
e do amadurecer desses filhos
gerados no amor e na paz...

E quando tudo parecia ser apenas saudade,
eis que chegam, de repente,
sem a inquietação da espera
e as dificuldades no chegar,
outras vozes, que aparecem no horizonte,
“derretendo” esses HOMENS, essas MULHERES,
na descoberta da enorme aventura
que é ser AVÓ / AVÓ!

E seus corações se alargam, se engalanam,
nessa acolhida que repete o encanto,
daquele tempo que parecia tão distante...

São os NETOS, essa aventura tardia,
essa lufada de amor que chega agora,
quando o corpo já nem pode correr tanto
e o colo nem está tão disponível...
Que varrem o que se estabelecera,
como vento novo, floração recente,
arejando o viver dos que experimentam
a alegria de ser AVÓ, de ser AVÓ...

Abençoados sejam os NETOS,
que levam de volta a um passado amoroso,
para re-descobrir a alegria de amar,
com jeito, voz e cor da criança que chega!

Abençoados sejam os netos!


*******************

(Dia 26 de julho, DIA DOS AVÓS,
em homenagem aos avós de
Jesus, Sant´Ana e São Joaquim).



UM SELO PARA HOMENAGEAR DOM HELDER CAMARA

Em 07 de fevereiro de 2009 dar-se-á o CENTENÁRIO DE NASCIMENTO DE DOM HELDER CAMARA. Uma data especialíssima, para todos aqueles que, no mundo inteiro, reconhecem ter sido Dom Helder uma das figuras do Brasil mais conhecidas e admiradas internacionalmente, pela sua participação na história da Igreja no século XX, e, particularmente, a sua luta por justiça social e o seu amor e dedicação aos pobres. Uma data que sensibiliza aqueles que perseveram e dão continuidade à sua mensagem, fazendo surgir instituições, espalhadas por vários países e que, em constante contato entre si, declaram o seu afã de manter aceso o ideário helderiano que tivemos o privilégio de ver consolidado.

Este homem extraordinário, simples na sua vida de cada dia, grandioso em cada palavra pronunciada e em cada um dos seus livros e milhares de manuscritos deixados, merece que sejam preparadas homenagens para marcar o centenário da sua chegada ao mundo, em 07 de fevereiro de 1909, em pleno domingo de Carnaval. E, dentre essas homenagens, que começam a tomar forma desde agora, tanto no Recife (onde ele viveu e morreu) como em Fortaleza (onde ele nasceu e se fez padre) e no Rio de Janeiro (onde foi Bispo Auxiliar, criador do Banco e da Feira da Providência e da Cruzada São Sebastião), já poderemos contar como certa a emissão de um SELO POSTAL, que traga sua imagem à lembrança de todos.

Sabemos da importância de ter um SELO que apresente ao mundo o importante momento do centenário de um profeta. Sabemos da alegria com que essa peça será recebida, não só no mundo católico mas dentre os cristãos de todos os credos, muitos dos quais, pelo mundo afora, atribuíram a ele premiações especialíssimas, como o “Nirvana da Paz”, dado pelos japoneses, concedido somente nessa única vez a um religioso cristão.

E isso vai ser uma realidade pela decisão soberana da Empresa Brasileira dos Correios, que se une assim às homenagens ao Dom da Paz, que hão de se suceder, como uma justa forma de reverência àquele que deixou-nos a todos uma surpreendente e ainda não completamente conhecida herança de fé e valor!

O lançamento será em fevereiro dde 2009.

Se Deus quiser!

OLINDA - O SONHO LUSITANO DE ALÉM-MAR, á sombra da cruz plantado!

Caminhar em Olinda, por entre ladeiras suaves, ruas estreitas, casario, sacadas, beirais, azulejos que resistem ao tempo, sinos seculares em sólidas torres engastados, pedras que contam histórias, louças que brilham no alto dos pedestais é reencontrar uma presença secular distante, eternizada nos marcos aqui deixados pelo donatário Duarte Coelho; é reencontrar, no Brasil, pedaços de Portugal.

Foi do norte que ele partiu. Trazia nas mãos a marca real de uma doação valiosa: a Capitania de Pernambuco em terras brasileiras. Na bagagem - de sonho e destemor - o eco de campanhas enfrentadas, a defender a coragem portuguesa que se atirava à conquistas e descobertas, confirmando a vocação do seu povo para o mar.

De pés fincados no chão encontrado, Duarte Coelho se fez senhor e dono, administrador e desbravador, coragem e lenda, força e lirismo, plantando a sua NOVA LUSITÂNIA com sementes que haveriam de ficar, quando ele partisse.

E nasceu OLINDA! Da “linda situação para se construir um vila” à ação. Do primeiro aglomerado de povo e de esperança, a verdade historicamente reconhecida. Nascia, no nordeste do Brasil, a mais sólida e bonita das cidades brasileiras, matriz e mãe de uma civilização que se firmava, germinando frutos de pioneirismo que haveriam de torna-la “semelhante à Coimbra” ou a denominá-la “escola de heróis”, ou ainda escolhendo-a para experimentos oportunos e imorredouros, dando-lhe razões para ser, 448 anos mais tarde, inscrita na lista da UNESCO como “PATRIMÔNIO MUNDIAL”!

Em 1535, depois de brilhantes serviços prestados ao seu País, no Oriente e na África, Duarte Coelho – nobre guerreiro português – recebeu do rei de Portugal a Capitania de Pernambuco, para onde veio com toda a sua família. Aqui, após haver fundado a vila de Igarassu, procurou um local onde pudesse estabelecer uma cidade senhorial e imponente, à beira-mar.

Descobrir as colinas ao norte de sua capitania foi surpresa e revelação! Ali construiu ele seu castelo fortificado. Dali fez progredir a cultura da cana-de-açúcar. Ali viu crescer uma vila de luxo e beleza, atraindo o interesse de ordens religiosas – jesuítas, carmelitas, franciscanos, beneditinos...). Dois anos mais tarde daquele em que chegara, confere à Câmara da Villa d´Olinda a Carta de Foral. Não demora muito e ele é chamado de volta à sua pátria. Seus filhos e sua mulher assumem o comando da Capitania.

À bela cidade, tão lusitanamente nascida, chamou de “muy nobre e sempre leal Villa d´Olinda”, único título que ela haveria de possuir ao longo dos séculos que se seguiram, até os dias atuais, quando a ousadia dos seus governantes e o mergulho nas valiosas fontes históricas fizeram-na receber três outros títulos: "
Cidade Monumento Nacional", em 26/11/1980; "Cidade Ecológica", em 29/06/1982; "Cidade Patrimônio Cultural da Humanidade", em 14/12/1982.

A dominação holandesa foi nefasta para Olinda. Incendiada e arrasada em 1631, só a muito custo ela se reergueu, reconstruindo grande parte dos seus monumentos, deixando registrada, mais uma vez, a marca de um povo forte que, em 1710, tentou tornar-se independente de Portugal. Outros episódios históricos nasceram em Olinda. A bravura foi sempre uma constante, em atitudes que registrariam a destinação do seu povo, de sua gente.

Hoje, os séculos permanecem vivos, ecos de uma civilização que, passando, deixou-se ficar naquilo que semeou de bom e de belo, na força como se construiu, tão longe da Pátria-Mãe, a cidade-irmã de tantas vilas portuguesas, nas suas características mais autênticas, nos seus azulejos genuínos, nas torres de suas 22 igrejas e 11 capelas, nas imagens trazidas através do oceano, nesse lirismo autêntico que se constitui na mais bonita herança recebida.

OLINDA: um sonho lusitano plantado tão distante...
OLINDA: próspera capitania do passado, sentinela avançada para um futuro que começa no reconhecimento mundial do comitê da UNESCO...
OLINDA: alegre e aberta aos que buscam a contagiante euforia que vem do povo e que tem registros tão fortes: Carnaval, Natal, São João, Violeiros, Serenatas...
OLINDA: misteriosa e religiosa, das procissões que repetem gestos e crenças de todos os tempos...
OLINDA: do nome de mulher – Amadis de Gaula, do romance português – ou da simbologia poética: “Oh! Linda situação para uma vila”...
Sempre e sempre a OLINDA portuguesa, a Nova Lusitânia, a cidade sonhada por um bravo, berço dos heróis que se seguiram, exemplo para o Brasil e para o mundo!

(publicada no jornal “O Mundo Português”, em setembro de 1983).

Ilustração: Cartão e selo "série Patrimônio Mundial da Humanidade" - EBCT

O QUE É CULTURA?



Há quem pense
Que cultura só se aprende na escola
Ou que a cultura acadêmica
É aquela que prevalece sobre todas...

Ah! Como o homem se engana...

Como é rica a cultura
Que nasce e cresce no meio do povo,
Que se enriquece dos saberes e fazeres
Dos homens de todos os tempos...
Que se expressa na música, na dança,
Na fala, nos gestos, nos modos,
Nos sabores, na vida...

Culto é todo homem que respira,
Que se reconhece ser humano em crescimento,
Que busca aprender cada vez mais,
Junto aos que carregam o compromisso
De repassar o saber herdado...

Culto é o homem que vive, ama,
Traduz de muitas formas o seu amor
E faz do seu conhecimento
Um bem a ser repartido com muitos,
Sendo fonte de onde jorra a herança recebida...

Culto é o homem que sabe chamar, atrair,
Dividir o saber, partilhar o que tem
No intimo do seu coração,
Como uma força a ser distribuída
E que cresce exatamente porque se fez partilha...

Culto é todo homem, cada um a seu tempo,
E com o que armazenou dentro de si,
Sendo farol nas caminhadas
A iluminar a estrada por onde seguem os outros homens,
Muitos perdidos, à espera desse facho clareador...

Há quem pense
Que cultura é só para os sábios?
Pois sim!

CURIOSIDADES DE FERNANDO DE NORONHA





Vamos falar dessas curiosidades pouco a pouco...

VOCÊ SABIA?

1. Que os franceses viveram em Fernando de Noronha no século XVIII (entre 1734 e 1736) e, talvez por causa da presença dos golfinhos, batizaram a ilha de como “ile Delphine”?

2. Que existem 15 espécies de corais no Arquipélago, das 18 que se encontram no mundo e que isso é facilmente identificado no mundo submarino noronhense?
3. Que é proibida a introdução de plantas e animais no Arquipélago, para que sejam evitados os erros do passado, quando eram indiscriminadas as remessas, sem o devido controle, interferindo no meio ambiente insular?

4. Que em 1879, um navio americano levou da ilha Rata, em Fernando de Noronha, uma grande quantidade de “guano” (fosfato de cálcio), sem esclarecer o valor que aquele terra possuía e só então o Brasil se deu conta da riqueza natural que havia ali?

5. Que os holandeses viveram na ilha entre 1629 e 1654, construindo aí casas de moradia, armazéns para estocar alimentos, uma congregação reformada calvinista e até um pequeno forte (no mesmo lugar onde hoje está a Fortaleza dos Remédios)?

6. Que dentre as mais de 40 espécies de aves de Fernando de Noronha, as que têm pés curtos nidificam nos rochedos, sendo mais fácil voar, quando alcançam a idade adulta?

7. Que desde 1995 acontece o “Torneio de Pesca Oceânica de Fernando de Noronha”, sempre com grande participação?

8. Que a dessalinização da água do mar foi a única maneira de diminuir o histórico e angustiante problema da falta d´água no Arquipélago?

9. Que o Arquipélago foi o primeiro lugar onde chegaram os aviadores portugueses Gago Coutinho e Sacadura Cabral, em 1922, quando da 1ª travessia aérea sobre o Atlântico e esse registro está tanto na ilha – no monumento doado pelo governo português, localizado em frente ao Palácio São Miguel – como em Lisboa, próximo ao monumento que homenageia os descobrimentos portugueses?

10. Que “Neuronha” é a “neurose” de Noronha, uma espécie de “doença” que às vezes ataca quem fica muito tempo na ilha, chamada no passado de “fernandite"?

11. E que “Euforonha” é uma das formas de designar o encantamento de quem chega na ilha e se deslumbra com sua beleza? E que aí haveria e “euforia” de Noronha”?

As curiosidades não param por aqui... É só esperar e acompanhar.

quinta-feira, 24 de julho de 2008

SANTO ANJO DA GUARDA


Disseram-me, desde pequenina,
Que quando eu nasci
Um anjo foi designado
Para caminhar comigo,
Protegendo-me pela vida afora...

Por muito tempo duvidei.
Por anos a fio quis muito senti-lo perto,
Como garantia de proteção e aconchego.
Nunca consegui.
Mas cresci imaginando-o forte, ao meu lado.

Hoje sei que esse anjo existe,
Embora não possa vê-lo
E a ele rezo, como o fazia em criança,
Confiando na sua presença acolhedora
E na fidelidade com que cumpre a missão recebida.

Hoje, amo esse anjo-da-guarda-companheiro,
Esparramando suas asas protetoras
Sobre o meu coração,tão pouco perseverante,
E sei, com absoluta certeza,
Que contarei com ele sempre.

Santo anjo do Senhor,
Vela por mim. Amém.

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Entrevista concedida ao programa Café Colombo, da Rádio Universitária

Mais uma "invenção" neste BLOG: a entrevista dada no programa CAFÉ COLOMBO, na Rádio Universitária, no Recife/ PE, em 21 de janeiro de 2008, a respeito do lançamento do livro "FERNANDO DE NORONHA- CINCO SÉCULOS DE HISTÓRIA".


Na conversa descontraída com o radialista Renato Lima, um pouco do sugnificado do Arquipélago na minha vida. Vale a pena conferir. Basta clicar o botão abaixo.


PARTE UM









PARTE DOIS








CURIOSIDADES DE OLINDA

Olinda é uma cidade histórica, mágica e singular... Cada ladeira, cada beco, esconde delícias para os olhos e para o coração, nem sempre percebidas pelo turista apressado e desavisado, todas elas guardadas no interior de claustros, das casas seculares, dos baús antigos, fechados a “sete chaves”.
Quase sempre, elas encantam, quando descobertas! Algumas até assustam o observador, que somente chega a elas guiados por mãos amigas e experientes nessas “manhas olindenses” .

Que tal identificar algumas dessas maravilhas? Pois então saiba que, só no Convento franciscano de Olinda – o mais antigo do Brasil, fundado em 1585 – são inúmeras as curiosidades a serem conhecidas... Vejamos:


ð Ao entrar, um largo espaço conduz o visitante ao pátio, onde está a cacimba que recolhe as águas das chuvas que vem do claustro interno, e existiu o “relógio do sol”... A vista daí é surpreendente: o mar, lá adiante; as janelas do convento, abrindo-se para essa paisagem, muitas com moringas que ficaram “no sereno”, esfriando a água para os frades...

ð No claustro, azulejos portugueses retratam a vida de São Francisco de Assis, passo a passo, em painéis deslumbrantes. Alguns desses azulejos perderam-se, pelo abandono dos homens, restando vazios que indicam essa falha... E arcos que rodeiam todo o pátio, nas galerias entorno dele, dão um ar solene e belo...

ð Do claustro avista-se a torre da igreja, igualmente revestida de azulejos... E por ele chega-se à antiga portaria, um amplo salão revestido de azulejos que falam da vida de Nossa Senhora, com um altar primoroso, onde está Sant´Ana...

ð Para o claustro se abre a Capela Primitiva, anterior à construção do convento, reservada e também decorada, inclusive com teto em pinturas e entalhes...

ð Na Igreja principal, dedicada a Nossa Senhora das Neves, outros painéis em azulejos mostram a vida da Sagrada Família, desde o casamento de Maria e José. Dentre esses, um é especial, pois apresenta a “circuncisão de Jesus”, cena raramente vista em igrejas...

ð Um arco-cruzeiro em madeira entalhada é a abertura para a Capela de São Roque, padroeiro da Ordem Franciscana Secular (antigamente chamada “Ordem Terceira de São Francisco”), outro espaço riquíssimo em arte, entalhe e douramentos. Ali acontecem as celebrações dos “irmãos-terceiros”...

ð Aliás, essa é a Fraternidade de leigos mais antiga do Brasil, existindo desde 1577, quando os primeiros frades franciscanos passaram por Olinda e quiseram aí ficar, sendo impedidos por não terem sido liberados oficialmente para isso. Mas uma devota senhora – Dona Maria da Rosa - que já era “irmã terceira” no seu coração, deu origem à Fraternidade, que existe até hoje...

ð No corredor de acesso à sacristia, outra raridade: azulejos profanos lembram a colonização, com nobres (adultos e crianças), barcos, casas...

ð A Sacristia é um encanto. Azulejos e peças em jacarandá de cor escura, compõem um cenário irreal. Ao centro a mesa em mármore. Em um dos lados, a pia que servia para os sacerdotes lavarem as mãos...

ð Há ainda o cemitério, em meio às árvores centenárias do enorme pátio externo e o espaço social dos Irmãos Terceiros, com saída de acesso para a rua.

Sem duvida, entrar o caminhar pelo Convento franciscano de Olinda e descobrir os encantos que ele guarda, é um refrigério para a alma!

terça-feira, 22 de julho de 2008

UM FILHO / UM SONHO

Para aquela que "começa" a ser mãe...


Todos os sonhos que povoaram tua infância
Concretizaram-se no aconchego ao filho que chegara,
Verdade consciente de teus braços alongados
Para o abraço que, enfim, o amor concretizara.

Das bonecas do distante tempo de menina
Vinha a vontade agora de ser apenas berço
E espremer ao seio o pequenito real e tenro,
Sonho-verdade desse tempo. Vida em começo.

Nada do antes tinha agora importância.
Nada ficara, senão essa realidade-criança,
Prêmio-ternura, amor que se multiplicara...

Agora, mãe, sobre o mundo reinas, soberana,
Porque assim pairam as mães, que geram vida,
Cumprindo o plano que Deus mesmo traçara!

Hino de Fernando de Noronha

O Hino de Fernando de Noronha é um canto de amor à ilha, feito pelo Cel. Gercy Teles de Menezes, quando ali vivia. Suas palavras poéticas trazem a lembrança da esplendorosa beleza noronhense, nele eternizada.


"Entre ondas bravias, azuis

Sob um céu sempre cheio de luz,
Há um pedaço da minha terra,
Esta ilha, que a todos seduz.
Brancas praias, rochedos, luar
E o Pico, altaneiro, sem par,
Fernando de Noronha é um sonho
Do qual ninguém quer despertar.

Quem já viu qualquer coisa mais bela
Que os abismos do Sancho e Sapata,
Italcable, Cacimba do Padre
E o mar, espumando na Rata?
Atalaia, baía Sueste,
E, no mastro do forte, a bandeira,
São cenários que nunca se esquece,

São lembraças para a vida inteira!.

Seu autor, coronel reformado do Exército, serviu em Fernando de Noronha como intérprete dos americanos do Posto de Observação de Teleguiados, entre 1957 e 1965. A bela melodia que compôs era – originalmente – uma valsa: “Saudades de Noronha”. Foi adaptada para dobrado pelo musicista pernambucano Laffayte Lopes e gravada em compacto, na extinta Fábrica de Discos Rozemblit, do Recife / PE, com a Banda e o Orfeão da Polícia Militar de Pernambuco e solo do Cel. PM Leogivildo Maranhão. E gravada na ilha, pela cantora paulista Valéria Zogbi, acompanhada pelo musicista Roberto Braga, ao violão.
Publicar aqui esse hino é reafirmar meu profundo amor por Fernando de Noronha!


CAPOEIRA E CAPOEIRISTAS - PRISÃO EM FERNANDO DE NORONHA

Falou-se sempre sobre Capoeira e Capoeiristas. Em diferentes tempos e por razões diversas aplicaram-se penas aos praticantes dessa modalidade de desempenho físico, olhando-a como luta, como contravenção, como origem de danças populares – o frevo, por exemplo - como arte e, finalmente, como prática desportiva.

Estudiosos debruçaram-se em documentos, à cata de razões que explicassem o fascínio que a Capoeira exercia sobre os homens, sobretudo os jovens, levando-as a aprendê-la e exercitá-la, mesmo na marginalidade. Artigos, reportagens, charges, estudos acadêmicos registraram esse saber que identificado, construindo a história dessa forma de destreza corporal, nos seus aspectos lúdicos ou conflitantes e na repressão que gerou, estimulando debates em muitos níveis, sobre o tema.

No século XIX, a prática parecia ser entre a população preta e pobre. atribuía-se ao povo carente o gosto pela Capoeira e, nele, as pessoas de cor negra. A realidade não era essa... Muitos brancos, filhos de família abastada, também eram envolvidos por essa magia, tornando-se membros de grupos, até no anonimato.

Isso cresceu no final do século XIX, contaminando a República recém-proclamada, provocando a discussão e adoção de medidas coercitivas. E em 1890, motivado pelas discussões dos que integravam o Conselho de Ministros do Governo Provisório Republicano, o Chefe de Polícia Sampaio Ferraz, com apoio do Ministro da Justiça, Campos Salles, foi designado para exterminar os capoeiras de todo o Brasil. Temendo o que precisaria enfrentar para executar a tarefa, diante do envolvimento de gente graúda na prática da Capoeira – recebeu de Deodoro da Fonseca “carta branca para agir como quisesse, desde que limpasse o país daquela gente”. Estava selado o destino desses “subvertores da ordem”: ficou combinado que “todos os capoeiras, sem distinção de classe e de posição, seriam encarcerados no xadrez comum da Detenção, tratados ali severamente e, pouco a pouco, deportados para o presídio de Fernando de Noronha, onde ficariam certo tempo, empregados em serviços forçados.

Todos reconheciam que “a prática era uma arte, uma verdadeira instituição mas, radicada nos costumes, resistindo a todas as medidas policiais – as mais enérgicas e mais bem combinadas - esse flagelo dava eternamente uma nota de terror às próprias festas mais solenes e ruidosas, de caráter popular.” Em nota, no trabalho “Actas e Actos do Governo Provisório”, organizado por Dunshee de Abranches, publicado em 1907, fica evidente o medo de realização de festividades patrióticas ou religiosas, nos conturbados tempos pós-República, sobretudo à noite, temendo cenas sangrentas de confronto entre policiais e capoeiristas... Isso culminou com a deportação dos “indesejáveis” de todo o Brasil para o arquipélago distante, como medida saneadora. E como, na arte da capoeiragem, desde os tempos da Monarquia, não somente os das “classes baixas” estavam envolvidos, mas também personagens ilustres e até políticos, atingiram-se logo esses homens, livrando o povo de indivíduos que atentavam contra a ordem.

A polícia conhecia bem quem eram os capoeiristas. Uma “lista” dos “facínoras que infestavam as cidades” foi feita, desconsiderando pedidos de condescendência para com alguns deles... A imprensa acirrou os posicionamentos. Os Ministros se dividiram em opiniões contra ou a favor das medidas que estavam sendo tomadas. Deodoro não recuou dos seus propósitos. E poucos meses depois começava a remessa, de homens de muitas classes, até com “padrinhos”, para o distante arquipélago, onde viveriam submetidos a trabalhos forçados.

Para Fernando de Noronha essa página da história parece ter sido propositalmente ocultada, tornando desapercebida a presença, na ilha, de todos os capoeiristas brasileiros e estrangeiros, embora se saiba que até 1930 continuaram a ser enviados homens marginalizados, por serem capoeiristas.. E, no entanto, nenhum lugar do Brasil tem um diferencial tão precioso e importante como o arquipélago... Por isso, em nenhum outro lugar do Brasil a Capoeira merece ser escrita com o brilho dos feitos do passado, mesmo que tenham sido dolorosos. E isso cresce de importância no momento em que a Capoeira é inscrita como “patrimônio imaterial brasileiro”.
Ilustração: Litografia de Géricaulkt, 1818

segunda-feira, 21 de julho de 2008

CARNAVAL DE PERNAMBUCO - FESTA DE TODOS

CARNAVAL – no passado, era a “festa da carne”, os ritos romanos pagãos de celebração do fim do Inverno e de início de Primavera... Era o ‘adeus carne’, que anunciava que a Terça-Feira Gorda era o último dia do calendário cristão no qual era permitido comer carne... Era também o tempo das festas dionisíacas, nas quais um carro, transportando um grande tonel, distribuía vinho aos foliões da Roma imperial. Festejado no início do ano agrário, no limiar da Primavera, o Entrudo simbolizava a purificação e a renovação da vegetação, como prenúncio mágico da alegria derivada da esperada abundância nas colheitas

Esse foi o CARNAVAL – que veio pelas mãos dos colonizadores europeus, na forma de “entrudo”, uma festa de gente mascarada, fazendo troça com autoridades e os costumes da moral vigente; de desfiles pelas ruas, saudando as pessoas jogando “água-de-cheiro” ou lama... Festa para comer muita carne, despedindo-se desse prazer para entrar na Quaresma.

CARNAVAL – que, no Brasil, foi se transformando numa grande manifestação popular, de liberdade e de cor, de pessoas fantasiadas, deixando aflorar instintos, alegrias, partilhas... Uma festa iniciada logo após as festas dos Reis, em janeiro e que segue até a quarta-feira da Quaresma, quando deveriam acabar mas, a pouca religiosidade dos dias atuais, estende por mais algum tempo, com desfiles de troças, clubes e blocos pelas ruas...

Em nenhum outro lugar do Brasil o Carnaval ganhou ritmos e formas tão variadas, como em Pernambuco... Foi em Pernambuco que nasceu o FREVO, com todas as suas variantes: tocado só por instrumentos de sopro, tocado e cantado em lindas melodias e até acompanhado por instrumentos de pau e corda. E a corruptela de palavra "ferver"... ou "frever" (como parecia estarem os participantes, enquanto se esbaldavam) deu origem ao nome FREVO.

A origem do frevo é fácil de explicar... Era comum verem-se bandas de música tocando seus dobrados pelas ruas, protegidos por capoeiristas que, com suas pernadas, defendiam os músicos e os instrumentos, do povão que seguia o cortejo. Nada mais natural que esses movimentos fossem seguindo a cadência do ritmo tocado... Assim nasceu o PASSO, uma dança pernambucana, marca registrada dos carnavais de Pernambuco. O “passo” é um malabarismo do dançarino de frevo, que usa todo o corpo para expressar sua alegria; que se abaixa, rodopia, joga as pernas em várias direções, equilibrando-se com uma sombrinha, em movimentos graciosos e, ao mesmo tempo, vigorosos e belos! Há mais 100 anos é assim! E esse é o FREVO-DE-RUA, tocado pelas orquestras.

Para os que brincavam o carnaval, a necessidade de cantar enquanto dançavam foi crescendo, quase exigindo a colocação de poesias naquelas músicas agitadas. Nascia assim o FREVO-CANÇÃO, de cadência mais suave, empolgando as multidões pelas ruas e imortalizando grandes compositores. O mestre Capiba, o grande maestro Nelson Ferreira, José Michiles, Antônio Maria, Alceu Valença e tantos outros, dedicaram seu talento de compositores para criar o repertório pernambucano de frevos-canção, que foram passando de geração a geração. E atrás dos clubes e troças que cantavam e tocavam, seguiam bonecos-gigantes, “cobras” que carregavam gente sob os panos do seu corpo, “almas penadas”, “papangus” mascarados e tudo aquilo que a liberdade para criar pudesse sugerir. “O, bela!!!”, “Voltei, Recife”, “Madrugada do 3º dia”, canções que ficaram, para sempre...

No meio da efervescência cultural do carnaval, surgiu uma outra variante do ritmo chamado FREVO: aquele que passou a ser dançado e cantado ainda mais lentamente, numa cadência fácil de ser acompanhada com movimentos fáceis do corpo e poesias repletas de lirismo. Chamou-se FREVO-DE-BLOCO a essa diferença. E mais: para acompanhar os cortejos cada vez maiores dos que queriam brincar o carnaval de forma mais suave, vieram músicos que tocavam violões, violinos, flautas, clarinetes, banjos, em orquestras de pau e corda, andando sem pressa pelas ruas, fantasiados nas cores azul e encarnado, em trajes ricos e enfeitados. Os blocos de multiplicaram. Os compositores para esses blocos, também. Novamente Capiba e Nelson Ferreira deixaram-se imortalizar em versos, seguidos por Edgar Morais, Raul Morais, Getúlio Cavalcanti e muitos outros. Abram alas para os BLOCOS que passam, cantando o amor e a alegria!

Três raças se interligaram em Pernambuco: o índio que habitava essas terras; o branco colonizador e o negro trazido como escravo. Cada um desses grupos tinha sua forma própria de fazer música, de dançar, de celebrar a vida... Foi a herança indígena que guardou um pouco da sua origem, na difícil e bela dança dos CABOCLINHOS. As “tribos” de caboclinhos foram surgindo e passando para as gerações mais jovens sua dança, seus volteios, seu ritmo produzido por pífanos e, acompanhados de percussão, misturados ao barulho das preacas que traziam nas mãos... Salve a presença indígena no carnaval, com seus CABOCLINHOS!!!

E os ESCRAVOS, nas senzalas, também fizeram da dança uma forma de cultuar seus orixás e reverenciar seus antepassados, reis e rainhas, arrancados da sua terra para serem escravos... Surgia o MARACATU, uma dança de força e reverência, de toques preciosos dos atabaques e loas que são cantadas e passadas de uma geração a outra. Maractus de BAQUE- SOLTO ou de BAQUE-VIRADO, força e poesia de tempos remotos.

Cheia de ritos que se repetem, dançar Maracatu é reviver um pouco da majestade perdida... Lá vai dama-do-paço, que carrega nas mãos a CALUNGA ou BONECA, um totem respeitado por todos. E as baianas, os pagens, o povo que segue o ritmo alucinante, dançando sempre, com passos graciosos e fortes. E como sentinelas, lá vão os caboclos-de-lança, com suas golas bordadas e seus chocalhos pendurados nas costas... Salve, homens e mulheres de todas as senzalas, que continuaram fiéis ao seu povo e às suas origens!

Tudo isso existe em Pernambuco. Em outros períodos do ano, outros folguedos são revividos, com a força da sua tradição, repetindo danças, costumes, cantigas que se perdem no tempo e no anonimato do povo. Nenhum é tão fraterno e solidário como a CIRANDA. Não as “cirandinhas” das crianças que fomos, mas a Ciranda, dança de adultos, braços entrelaçados, movimentos unidos, o pé que vai à frente e retorna, fazendo com que a roda gire. Ciranda, imortalizada na ilha de Itamaracá, nos versos de Lia, que os ouviu da mãe e da avó e não guardou para si esse saber popular, dividindo-o com todos. E a Ciranda pode e é dançada o ano todo, fazendo supor o quanto o homem pode ser feliz, quando se junta, partilha, une suas mãos em torno de um mesmo ideal.

Não. Não há um carnaval igual ao de Pernambuco! Basta conferir em Olinda, no Recife, em Bezerros, em Nazaré da Mata e tantos outros lugares fiéis às tradições herdadas. Que bom que é assim!

sábado, 19 de julho de 2008

20 de julho - DIA INTERNACIONAL DO AMIGO E DA AMIZADE


MEU CREDO DE AMIZADE

Creio na verdade do sentimento
que nasce, soberano,
e que se alimenta de tão pouco...

Creio nas possibilidades do ser humano
que se permite a entrega
aos ditames do coração.

Creio nos gestos de ternura,
nas evidências do afeto,
na coragem de anunciar-se cativo.

Creio naquele que carrega a ousadia
de confessar-se amigo, ainda que
tema as responsabilidades decorrentes.

Creio no amigo fraterno,
na minha capacidade de fazê-lo entender
a beleza da minha amizade.

Creio no amor, infinito amor do homem...
Creio no Pai, que tantas maravilhas
nos permite descobrir e compartilhar.

Creio na vida, na aventura de viver,
como predestinados caminheiros de sonhos,
abrindo sulcos na emoção de encontrar companheiros.

Creio em mim, em ti, em nós
e nessa profunda afeição
que merecemos viver, amigo!

***********************************

(Do livro "Em louvor do amigo", de Marieta Borges)

sexta-feira, 18 de julho de 2008

O IMAGINÁRIO EM FERNANDO DE NORONHA


Os lugares são lembrados, pela que tenham de excepcional no seu meio ambiente... Os lugares são lembrados pela força da sua cultura, das suas tradições, da contribuição do homem interferindo naquele meio e impondo ali a sua marca... O quê faz lembrar Fernando de Noronha?... Que traços marcantes tornam o arquipélago inesquecível?

Histórias que vieram do passado, que falam de seres fantásticos, de aparições temidas, de encantos que povoam os espaços, de paisagens de marcante beleza, de cenários de sonho, da transparência das águas, da diversidade de vida marinha, do pôr-do-sol a cada dia mais bonito e de tantas coisas serenas que, uma vez desfrutadas, conhecidas, guardam-se cativas nos corações das gentes.

Das lendas, duas aparecem à frente, no imaginário popular: uma é aquela que imagina uma espécie de sereia, loura, linda e sedutora, a encantar desavisados com seu sortilégio, atraindo-os para os rochedos, em noites sem lua, levando-os à morte, a menos que um clarão qualquer desfizesse o encanto. É a ALAMOA, a mulher tentadora e traiçoeira, capaz de destruir o objeto do seu desejo... É a MULHER DE BRANCO que tantos juram ter visto, pelos caminhos noronhenses. A outra, imagina o castigo dado a dois seres gigantescos que pecaram e, por isso, foram condenados a virarem pedra, ela tendo seus seios aflorados à beira d´água, no morro dos Dois Irmãos e ele tendo seu órgão genital transformado no morro do Pico, dando origem à LENDA DO PECADO (“atualizada” nos nossos dias com os apelidos de “Fafá de Belém” – para ela – e “Bráulio” – pela ele).

Outras histórias do universo popular permaneceram, através dos tempos... A que imagina o CAPITÃO KIDD, célebre pirata, escondendo seu tesouro numa caverna... A que fala do CAJUEIRO DA CIGANA, recordando uma cigana, prostituindo-se na lha até morrer e aparecendo junto ao cajueiro plantado na sua cova, para oferecer seu amor... A que lembra um TESOURO ENCANTADO, enterrado num local deserto, próximo à uma cajazeira, anunciado por um velho de longas barbas brancas... A que imagina uma LUZ DO PICO, saindo de uma fenda do morro do Pico e se transformando numa mulher, atraindo suas vítimas para o morro, fechado após a passagem. A que fala do MISTÉRIO DA CACIMBA DO PADRE, que lembra a aparição de um padre junto à uma cacimba, na praia da Quixaba, montado numa mula branca, sem cabeça... Ou a que fala no GIGANTE DA MEIA NOITE, um “pescador” gigantesco, atrapalhando a pescaria e assombrando os pescadores... E a que lembra o MONSTRO DO SUESTE, disfarçado à beira d’água, confundindo e assustando pescadores, na baía Sueste... A que imagina um MENINO DO DENTÃO, assustando criancinhas... Ou supõe ouvir o arrastar de correntes do HOMEM DOS TELHADOS, na Fortaleza dos Remédios, nas noites sem lua...E a LENDA DO PECADO, referente àquele casal de gigantes, transformados em pedra, ela com os seios à flor d’água, no morro Dois Irmãos e ele tendo o falo petrificado no morro do Pico e que espelha o erotismo reprimido do habitante de área insular.

Outras histórias saborosas foram sendo recolhidas ao longo dos tempos, falando de presos que permaneceram aí, depois de merecerem a liberdade; de comidas ligadas àquilo que vem do mar, inovando no sabor e no tempero, misturando cores e gostos criadores de uma gastronomia insular; de tradições mantidas nas festas populares; de ritmos dançados com pés descalços e molejo belo de olhar; de charmosos casamentos alternativos unindo casais desgarrados das leis e das normas; de tantos e tantos fazeres, de tantas e tantas lembranças...

GASTRONOMIA INSULAR
O peixe é assado na palha da bananeira, de forma rudimentar... O tubarão servido em postas secas, salgadas e assadas, comido com saladas cruas e cozidas ou apresentado em forma de bolinhos ou recheio de empadas... As “sinfonias marítimas” trazem o polvo, a lagosta, o peixe, o camarão que, junto com as muitas verduras, são servidos com pirão leve e saboroso... O arroz se cozinha com polvo, com peixe, com lagosta e até com café ou sucos regionais (doces mangas, cajus ou pitangas)... O leite de coco inunda os molhos dos peixes, das lagostas, dos siris, dos polvos... Os enormes caranguejos lambuzam bocas, rostos e braços dos que se aventuram... Delícias que não se esquecem nunca!

FESTAS MARCANTES O ANO TODO
No tempo do Carnaval, grupos que há muito buscam diversão juntos se encontram, se preparam e fazem um carnaval que tem seus caminhos, que unem idosos, jovens, sambistas, turma do reguee e brincantes de maracatu... Na Quaresma, gente da terra revive o sofrimento do Cristo pelas pedras da Vila dos Remédios, no alto das torres sineiras, diante da escadaria da Igreja... Nas festas juninas dança-se na terra (quadrilhas, coco-de-roda, xaxado...) e na água (com direito até a casamentos submersos, com noivos equipados para mergulho)... No Natal os pastoris reaparecem, trazidos como um costume do tempo militar, zelosamente mantido e repassado aos jovens... E o fim de ano se antecipa, no “Reveillon dos Ansiosos”, tão ansiosos que nem agüentam chegar ao costumeiro 31 de dezembro e acontece num dia qualquer de dezembro, de forma mágica, cheia de mungangas, de símbolos esotéricos e cristãos... Depois, no último dia do ano, quase todos vestem branco, procuram o mar ali tão perto, festejam, comem, bebem, amam... E, ao longo do ano inteiro, as rodas de Capoeira rememoram o tempo em que todos os capoeiristas do Brasil foram banidos para Fernando de Noronha, considerados desordeiros e contraventores...

DANÇAS NORONHENSES
Sobre todos, pairam a lambada, dançada descalça, cheia de sensualidade e ginga; o forró, de corpos muito unidos, suados e gingados; os passos de frevo, desengonçados e com pouco malabarismo; o ensurdecedor baque de maracatu; ou ainda as contagiantes danças do ciclo junino, como quadrilha, coco-de-roda, dançadas até embaixo d´água...

Danças que aconteciam lá fora, no continente, em tempos passados e que aqui chegavam para ganhar características próprias. Danças e ritmos que se repetem, ensinados por pessoas da ilha que se apropriaram e adaptaram o forte universo de brincantes do nordeste... Essa é a herança recebida por esses que hoje formam a comunidade noronhense.

CASAMENTOS ALTERNATIVOS
A razão só pode ser o amor. Seres que se amam, resolvem se casar numa atmosfera irreal, diante das pedras dos fortes ou da minúscula capela no alto do mirante, tendo – em ambos os espaços – a paisagem por testemunha e a decisão definitiva guiando-lhes os passos.

Não há validade oficial... O compromisso é oficioso. As palavras do rito improvisado falam da eternidade do amor e da urgência na vida em comum. O clima que se instala suscita ousadias maiores, como a chegada da noiva de vestes “aciganadas”, montada num cavalo cheio de enfeites, ladeada por pajens de roupas alvas e turbantes sensuais... Noivos, convidados, ilhéus, todos são cúmplices dessa busca da felicidade que tem nomes e caminhos próprios, numa terra de decisões surrealistas! Isso é a FERNANDO DE NORONHA que nem todos descobrem e que a todos encanta...

(Textos extraídos do livro “Fernando de Noronha – Cinco Séculos de História”, Cap.8 - "Patrimônio Imaterial")

ORAÇÃO NA MADRUGADA


Quero “mergulhar” no Teu amor de Pai amoroso e terno... Quero rezar, Senhor, com todos os que estão cansados, fatigados, sofridos, ansiosos, fragilizados... Quero pedir Tua bênção e Tua proteção, para tantos irmãos que se inspiram nos exemplos e na sabedoria dos que espalham Tua mensagem de amor e seguem em frente, perseverantes na sua fé, tentando ser verdadeiros cristãos...

Quero pedir paz, meu Pai... Paz para mim, para os meus... Paz e consolo para os enfrentam o seu calvário de luta contra doenças... Que eles tenham forças para enfrentar tudo o que a espera, nesse tempo doloroso e sofrido...

Cada um sabe, na sua alma, o egoísmo que precisa superar, a humildade que precisa praticar, a aceitação que precisa treinar, para enfrentar as dificuldades da vida... Cada um sabe como precisa ser tolerante com os erros dos outros... Cada um sabe que é limitado, sabe dos seus anseios, dos seus sonhos... E Tu, meu Pai, conheces a todos, entendes as diferenças entre os homens, sabes a verdade da prática religiosa de cada um e aceitas cada um da forma que é...

Meu Pai, o homem é o ser inteligente da Tua Criação, mas ele comete tantos erros em nome do desenvolvimento, desrespeita a natureza, os animais, as criaturas irracionais que criastes e desequilibra o mundo por causa disso... Faz com que todos possam olhar esse mundo com olhos amorosos, dando graças pelo alvorecer de cada dia, pela beleza da noite, pela lua que ilumina a escuridão, pelo sol que acorda as madrugadas e afasta as trevas, pela sombra das árvores, pelos pássaros, pelo vento, pelas flores, pela música, pelo frio, pelo calor, pelo alimento, pela VIDA!

Pai, nessa madrugada silenciosa, sinto-me unida aos irmãos por esse mundo afora, como parte de uma família querida, que se junta pelo força da fé... E quero pedir Tua bênção para aqueles que, nesse instante, atravessam a madrugada em oração, pedindo paz e conforto aos que precisam de um ombro onde repousar suas mágoas...

Quero agradecer a alegria dos que vivem à minha volta e que, com sua atenção e amizade, oferecem, até sem o saber, a ternura, a sabedoria, a mansidão, a disponibilidade em ajudar... Sossega o meu espírito, Pai. Acalma o meu coração. Dá-me serenidade, docilidade, amor...

E quando eu adormecer e quando todos os meus irmãos adormecerem, vela pelo nosso sono, abençoando a todos e permitindo que estejamos sempre disponíveis para o Teu serviço...

Maria, mãezinha doce e bela, abençoa-nos também com Teu amor de Mãe. Ajuda-nos a compreender e repetir a teu exemplo, quando dissestes “Fazei tudo o que o meu Filho mandar”. Sê luz na escuridão da nossa alma...

Tudo isso peço, nesta madrugada, para a glória de Deus e O louvor a Ele. Amém.

POEMA AO LIXEIRO


Nada há de belo
no trabalho daquele
que recolhe lixo,
dia após dia:
nem perfume, nem limpeza,
nem a disposição ordeira
das coisas arrumadas e estáticas...

Pressurosos e aparentemente felizes,
caminham, correm, apanham fardos,
reviram, misturam,
- misturam-se, como lixos humanos –
sobrevivendo da dolorosa profissão
que se alimenta de restos...

Dolorosa partilha de uma vida
que se mantém porque existem sobras...
Suado pão que se ganha
sujando as mãos no que foi desprezado...
Terrível certeza de permanecer limpo
na alma de trabalhador,
em luta pelo seu quinhão,
sob o eco e o desdém da palavra lixo!

E, enquanto apanham cacos
e mergulham as mãos na podridão dos úmidos dejetos,
sabem-se homens de verdade,
no enfrentar de uma desdita
cobrada por todos os outros homens,
que precisam – de algum modo –
safar-se do que lhes sobra,
do que foi, ontem, razão de ordem,
do que já não serve mais
senão para ser jogado fora.

Lixeiro-irmão,
que limpas os caminhos dos homens,
com o teu sacrifício diário e anônimo,
ergue os olhos para o céu tão limpo
e acredita na justiça que fará de ti
o primeiro entre os últimos
a aspirar a claridade dos espaços definitivos,
onde não há teias,
sombras,
restos!

(Publicado no livro “No silêncio do coração”, de
Marieta Borges Lins e Silva, Ed.Catolicanet, SP/2006)