segunda-feira, 29 de setembro de 2008

AMIZADE


Acho que a Amizade é isso:
- uma vontade bem grande
de ver você muitas vezes;
de olhar seus olhos limpos
e neles espelhar meu rosto
(ou “sentir” sua alma)...

Acho que a Amizade é assim:
- uma festa no coração
quando o encontro;
uma alegria infinita
quando estendo os braços
e o abraço...

Acho que a Amizade é o nossa:
- para além das fronteiras do “tudo”...
- fortalecida pelos pequenos “nadas” de cada dia...

Acho que a Amizade é para sempre,
como uma soberba palmeira
que os ventos podem castigar
(com jeito de quem quer dobrá-la)
e não lucram nada,
porque existem raízes
que vento nenhum derruba!

Acho
Acho que o meu amigo é VOCÊ!!!

(Publicado no meu livro “As muitas faces do bem-querer”, Recife, 1981)

domingo, 28 de setembro de 2008

CURIOSIDDES DE FERNANDO DE NORONHA


VOCÊ SABIA?

1. Que cerca de 18 naufrágios aconteceram nas proximidades de Fernando de Noronha e que alguns desses são extremamente procurados pelos que se aventuram no mar, sendo o Arquipélago considerado, por isso, o “paraíso dos mergulhadores”?

2. Que a Estação Meteorológica da Marinha entrou em funcionamento em 1910 e ficava situava no morro de Santo Antônio, onde está hoje o Hotel de Trânsito da Aeronáutica? E que uma das visões dessa edificação foi desenhada em técnica de "bico-de-pena", pelo famoro artista Percy Lau, em 1936?

3. Que existem três faróis de orientação à navegação aérea e maritima instalados na ilha, sendo um no alto do Morro do Pico; outro no alto da Bandeira (esses na ilha principal) e um na Ilha Rata (ilha secundária)?

4. Que existem na ilha diversas associações, reunindo pousadeiros, taxistas, pescadores, idosos, etc e que isso é uma forma de organização somente permitida a partir do tempos de comando civil?

5. Que no passado mudas de plantas todos os tipos eram enviadas para a ilha, a partir do Jardim Botânico de Olinda,sem nenhuem critério cientifico que norteasse a remessa?

6. Que não se pode mergulhar nas piscinas em pedras, usando protetor solar, pela preocupação de ambientalistas com os corais que revestem as pedras vulcânicas?

7. Que em Fernando de Noronha é realizado, todos os anos, o “Campeonato Internacional de Surf”, com uma participação enorme?

8. Que todas as ilhas secundárias estão incluídas na área de Parque e, por isso, não podem ser visitadas e sim "rodeadas", nos passeios de barco?

9. Que é a iniciativa privada que abastece a ilha com combustível, gêneros alimentícios e demais suprimentos necessários?

10. Que existem três pontes sobre o riacho Mulungu, que banha a Vila dos Remédios e esse riacho fica quase completamente seco, no tempo da estiagem?

11. Que o Palácio São Miguel foi erguido em 1947/48, sobre as ruínas da antiga “Directoria do Presídio”, no governo do Major Mário Fernandes Imbiriba?

sábado, 27 de setembro de 2008

SABEDORIA DE DOM HELDER

"Existem pessoas que são como a cana:
mesmo postas na moenda, reduzidas a bagaço,
só sabem dar doçura."
Dom Helder Câmara

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

DOM HELDER E A SINFONIA DOS DOIS MUNDOS


Algum dia você soube que Dom Helder Camara também possui - entre as suas obras - uma SINFONIA, já apresentada pelo Mundo inteiro, inclusive na terra onde ele viveu seus últimos anos de vida, que é Pernambuco / Brasil???

Pois essa é uma das criações maravilhosas daquele homem iluminado, nascido em 1909. Para fazê-la, ele procurou o musicista Padre Pierre Kaelin, autor de uma Cantata famosa, “Messire François” (na qual São Francisco de Assis de Assis pede perdão a Deus por ter se deixado abater pela tristeza).

Conversaram. Trocaram idéias. Dom Helder falou da sua luta em favor dos mais necessitados, do seu sonho de usar a Música como instrumento em prol da Justiça e da Paz, fruto do seu desejo de ajudar a “criar um Mundo mais justo e mais humano”. Nas mãos do Padre Kaelin foi deixado o resumo daquilo que movia nosso pastor ao pensar numa “Peregrinação da Paz”, circulando pelo mundo, provocando mudanças de modo pacífico, mas corajoso, em todo o terceiro mundo.

Dessa parceria nasceu a SINFONIA DOS DOIS MUNDOS... Um texto primoroso, criado por Dom Helder, tendo-o como “Recitante”, em todas as apresentações, até sua partida para a Casa do Pai, “transfigurada” (como o próprio Dom considerava) permeada de uma música lindíssima, composta em seis movimento de uma Sinfonia.

E a bela composição ganhou o mundo, mesmo... Começou em 1980, em Genebra, na Suíça (País do maestro e parceiro). Ainda naquele ano, era a vez de Friburgo, na Alemanha. Foi lançado em Disco e Vídeo-Cassete em 1981. Foi para a França, em 1982, apresentada em Paris e Marseille. No mesmo ano foi a vez de Avignon, Parma, garia à Roma, Florença, Marseille e Strasburg. Atravessou o oceano em 1983 e chegou ao Canadá (em Sherbrookw), aos Estados Unidos (em St. Louis e Madison). E voltou à Europa, sendo apresentada em Paris, em Bruxelas, na Antuérpia, em Bois-le-Duc, em Milão... Em 1984 foi a vez de Toledo. Em 1985, Bois-lu-Dic, San Sebastian, Bilbao, Pamplona, Montididéo, Kordsdorf, Genève e, enfim, o Brasil – Rio de Janeiro (“Projeto Aquário”), João Pessoa e Olinda (“Projeto Acauã). Em 1988 for apresentada na Catalunha. Em 1989 em Kortruk, Izagem, Costende, Jeper, Gent, Brugge, Suenos Aires, Sevilha e Friburgo. Em 1990 em St. Galen e Zurich. Em 1991, em Joliete... E passaram-se dezesseis anos para que a Sinfonia voltasse aos palcos, no Recife, como parte do projeto musical “Virtuosi”, em 2007.

Em todas as apresentações foi sempre o Dom o “Recitante”, com sua voz tão característica... Após a sua partida, na primeira apresentação feita no Recife, foi o Padre Antônio Maria que assumiu, emocionado, a tarefa...

E como se desenrola a SINFONIA DOS DOIS MUNDOS:
* No I Movimento, imagina o homem diante de Deus, reconhecendo que a Criação era a prova da “audácia e da humildade do Criador”;
* No II Movimento, é a Criação que se volta para o homem, escolhido para ser o Co-Criador, avisando “A Natureza toda te contempla”;
* No III Movimento é o Homem que luta entre a inteligência e o egoísmo, que atrapalham a vida no homem na terra;
* No IV Movimento surge a Esperança diante dos problemas enfrentados tanto nos Países pobres como nos Países ricos, que faz o Espírito de deus soprar sobre o Universo;
* No V Movimento nos lembra que a Miséria gera a Violência, sendo a causa da “Espiral da Violência, que parece não ter fim;
* No VI e último Movimento é a Esperança que renasce, na voz das crianças, sinalizando que “QUANTO MAIS NEGRA É A NOITE, MAS BELA É A AURORA QUE ELA CARREGA NO SEU SEIO”.

Os textos de Dom Helder são extraordinários... Falam das relações entre o Homem e o seu Criador. Apontam uma luta de classes, claramente identificada na expressão questionadora QUEM VAI GANHAR??? Alimentam a esperança no sopro alentador do Espírito Santo, único capaz de fortalecer o Homem e faze-lo acreditar-se capaz de enfrentar e vencer a violência, identificando muito bem, no coro final, o canto dos “pessimistas” e a esperança dos “otimistas”.

Se Deus permitir, os que preparam a celebração dos cem anos de nascimento de Dom Helder Camara, tudo farão para que a SINFONIA DOS DOIS MUNDOS volte a ser apresentada, com sua mensagem de força e de fé, apregoada nos valiosos ensinamentos desse profeta do século XX:

“Aurora, após a noite,
Tu verás dois mundos reunidos?
Um canto, uma sinfonia!
Dois mundos reunidos!
Um canto!

Quem vai ganhar,
homem meu irmão!?...
O Espírito sopra
no meio da noite
uma Sinfonia.”
(texto do Dom, ao findar-se a Sinfonia)

terça-feira, 23 de setembro de 2008

OLINDA ETERNA...



Minha alma vagueia pelos aconchegantes espaços dessa cidade tão igual em tudo ao que vi sempre, mas essencialmente diferente na honraria de que hoje se orgulha tanto, de ser PATRIMÔNIO CULTURAL DA HUMANIDADE!

Ali está o secular cruzeiro. Aqui, o deslumbrante verde que parece se expandir, em busca de um mar de muitos azuis e um céu quase sempre luminoso e claro.

Ali, a rua estreita, dimensão tão pequena do espaço antigo, acompanhando casas e pessoas, deixando brotar uma alegria solta e contagiante, que reza nas procissões da Quaresma e explode num carnaval único e inesquecível.

Meus pés pisam nas pedras e quase pressentem a marca das pegadas de todos os tempos, quando o sonho de criar-se uma civilização lusitana no continente que nascia era a determinação maior, estimuladora dos ousados gestos contidos em decisivos passos. E esses passos que agora ressoam, acostumaram-se, desde sempre, a conviver com a beleza, familiarizados que foram com a majestade de igrejas e conventos, com a paz derramada no verde que a tudo rodeis, com o nostálgico sino que apregoa o canto gregoriano que começa.

Ah! Soubesse eu que um dia retornaria por esses caminhos, sentindo-os alvo da curiosidade do mundo...
“Olinda – Patrimônio Cultural da Humanidade. Declaração do
Comitê do Patrimônio Mundial da Unesco, em sua sexta sessão,
realizada em Paris, a 14 de dezembro de 1982”.
(Placa descerrada em cerimônia pública, em 21 de março de 1983,
no Alto da Sé, em presença do Delegado Geral da UNESCO,
Mr. Amadou Mahtar M. Bow)

E o meu coração cativo nem se deixa abater pelo que há por fazer. Em todos os gestos pioneiros repousa a minha confiança. Hoje, como ontem, um amor de muitos, tão grande como o que foi capaz de despertar sempre, conduzirá OLINDA ao seu destino eterno: o de encantar sempre e preparar, a cada hora, o momento da volta, para de novo engolfarem-se de luz aqueles que a contemplarem, no alto de suas sete colinas de sonho.

Vale relembrar a citação: “Cada vez que uma inscrição é acrescentada à Lista do Patrimônio Mundial, pela qual a comunidade inyernacional reconhece o particular valor de uma maravilha arquitetônica, de um espaço natural, de uma cidade amada por sua beleza, e manifesta, assim, seu desejo de coloca-las sob a proteção da comunidade internacional, a UNESCO vê nisso a prova de um destino comum que une cada vez mais todas as nações e que permite assim, a todos os povos, de enriquecerem-se mutuamente com suas respectivas e mais significativas criações”. (Amadou Mahtar M. Bow – Diretor Geral da Unesco – 21.03.1983)

Olinda de agora. Confirmação das tradições libertárias que a história do Brasil registra. “Cidade Monumento Nacional”, em 1980. “Cidade Ecológica”, em 1982. A sempre “muy nobre e sempre leal villa d´Olinda” do destemido donatário português, Duarte Coelho. Herança. Esperança. Amor que não se iguala.

Salve!


*******************
(Texto construído por mim, na data em que Olinda tornou-se “Patrimônio Cultural da Humanidade”, em 14.12.1982 e distribuído por ocasião da entrega do título, em março do ano seguinte)

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

MARIA - A SENHORA DOS MIL TÍTULOS


Uma interessante reflexão que os católicos precisam fazer seria sobre os nomes pelos quais costumam chamar Nossa Senhora.

A Mãe de Jesus Cristo, é reverenciada pela fé católica de muitas formas e com muitos títulos... Todas os nomes dados a Maria possuem uma justificação. Isso acontece desde os primeiros séculos, pois a reverência à Virgem Maria é comum entre os cristãos de todos os tempos. Já nas catacumbas romanas, a Virgem era representada de muitas formas, com aparências diversas, com o Filho nos braços, sozinha, em pé, de braços abertos, coroada ou revestida de um manto, cercadas de anjos...

Após o Concílio de Éfeso, houve um grande incentivo ao culto da Virgem Maria, destacando-se o seu papel de Mãe de Deus. Desde então, as representações da Virgem com o Menino Jesus, foram se tornando cada vez mais comuns. E a devoção dos povos foi criando uma série de invocações, pelas quais estes mesmos povos devotavam sua devoção à Mãe de Deus. Estas invocações, conforme sua origem, podem ser:
· Litúrgicas: criadas pela Igreja e relacionadas ás comemorações religiosas.
· Históricas: as invocações surgidas ao longo da história, referindo-se, geralmente, aos lugares onde Maria apareceu ou o seu culto foi iniciado.
· Populares: as invocações surgidas da devoção popular, conforme as necessidades de cada povo.

Diz a tradição que as primeiras imagens da Virgem Maria, foram pinturas nas catacumbas, baseadas no ’’retrato da Virgem’’, pintado por São Lucas. Todas são baseadas nas fases da vida de Maria: a Infância / o nascimento sem pecado (Imaculada Conceição) / a Encarnação do seu Filho / a Maternidade / a Paixão e morte do seu Filho / a Glorificação no céu como Mãe de Deus e muitos foram inspirados nas invocações da Ladainha.

Na Igreja há dois tipos de culto:
· o culto de adoração, chamado de latria, prestado somente a Deus, como supremo Senhor de toda vida e de todo o universo
· a veneração, chamado de dulia, prestada aos santos e, em especial, à Virgem Maria, que está acima de todos na corte celeste e é culto especial de veneração, chamado hiperdulia.

A veneração a Maria é responsável pelos muitos nomes como a chamamos... Assim, a Nossa Senhora do Carmo é a mesma Nossa Senhora da Luz, Nossa Senhora do Bom Conselho, Nossa Senhora das Dores, Nossa Senhora do Rosário, Nossa Senhora das Neves, Nossa Senhora da Ajuda, Nossa Senhora de Lourdes, Nossa Senhora de Fátima, Nossa Senhora dos Anjos, Nossa Senhora dos Remédios, Nossa Senhora Bom Parto e tantas outras titulações, que chegam a mil formas de chamar Maria Santíssima, gerando iconografias diversas da representação de Maria em cada um desses nomes.

Não foi por outra razão que o “rei” Roberto Carlos concluiu sua famosa canção mariana dizendo, sabiamente, “Todas as Nossas Senhoras são a mesma Mãe de Deus”... E nós repetimos, com fervor: “Dá-nos a bênção, ó Virgem Mãe”!, com um carinho semelhantes àquele que fazia com que Dom Helder Camara a chamasse sempre MÃE QUERIDA!

(Trecho da palestra proferida na Academia de Artes e Letras de Pernambuco, em maio/2007)

sábado, 20 de setembro de 2008

SAUDAÇÃO À ÁRVORE



Existes.
És um poema verde, por Deus pensado
para ser guarida, repouso, remanso...

Nenhum acaso te fez bonita como és.

Desde sempre o Criador te quis verde-esperança,
plantada como refúgio de aves cansadas por incessantes vôos,
ou porto de chegada de andarilhos homens,
no cansaço que resta
ao fim das caminhadas longas.

Árvore amiga,
verde amigo,
quase te escuto cantando
a melodia que brota do sereno aconchego
do vento entre teus fartos cabelos-galhos...

Quase te vejo andando,
no suave ondular do teu tronco
quando a brisa sopra...

Quase te vejo na luta,
quando te açoitam as pancadas inevitáveis,
nascidas dos instantes de tempestade...

És como a vida:
há momentos de sorver a calmaria
em pequeninos tragos quase inconscientes;

há momentos de entregar-se ao vendaval da dor
que machuca, infalivelmente,
sabendo-se que, no entanto, que nada é definitivo:
nem a paz, nem a guerra,
pois todo o plano do Criador acontece,
serenamente,
nas criaturas que Ele fez,
no tempo,
no ar,
na árvore aparentemente sem importância!

Árvore amiga,
verde-amigo,
que lição continuas a dar aos homens,
sempre, sempre, sempre!

(Publicado no meu livro “Cantando o amor o ano inteiro”, Paulinas/ SP, 1986)

- HOMENAGEM AO "DIA DA ÁRVORE" - 21 de setembro

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

FEIRA DE CARUARU - UM PATRIMÔNIO DO BRASIL



A feira livre é um espaço público de integração social, que acontece nas comunidades e praticam um comércio voltado a venda de produtos frescos (verduras, frutas, carnes, goma, etc) aos moradores da localidade onde semanalmente existe.

Pelo Brasil afora não é comum que artistas participem das feiras livres. Não parece, em princípio, ser ali um espaço também destinado à apresentação e venda de produtos artísticos e artesanais. Mas, como o comércio que se estabelece é operado por seus próprios donos, nada impede que artistas e artesãos considerem aquele lugar também como uma “vitrine” para mostrar – e vender - a sua Arte.

Em Pernambuco uma feira quebrou essa quase certeza, começando de forma singela e despretensiosa, tornando-se, com o tempo, uma referência tão grande que foi tombada como “Patrimônio Imaterial Brasileiro”. Estamos falamos da FEIRA DE CARUARU, no agreste do Estado,

Caruaru, no início do séc. XVIII, era uma fazenda de gado, ponto de apoio aos viajantes que passavam rumo ao sertão... Junto à pequena capela de Nossa Senhora da Conceição, aos domingos, juntavam-se os moradores e eventuais visitantes, para rezar e trocar mercadorias entre si e com outros comerciantes de fora. Foi essa a origem da grande feira que hoje atrai multidões, que dura a semana inteira e que foi crescendo, devagarzinho, diversificando seus produtos pouco a pouco.

Vendia-se de tudo: frutas, hortaliças, cereais, carne de boi e de bode, rapadura, artesanato, utensílios populares, roupas, calçados, chapéus, bijuteria...No começo, quase sempre não era “dinheiro” a moeda de “troca” mas a própria possibilidade de barganhar um bem por outro bem. E o crescimento desse comércio informal foi ganhando uma força tão grande que os pesquisadores afirmam: “Caruaru nasceu da Feira, e com a Feira: são inseparáveis”. E a voz do povo repete: “A Feira é de Caruaru e Caruaru vive para e em função de sua Feira”. Isso foi assim no passado e o é até hoje.

Cantadores de cordel vieram caminhar pela Feira, improvisando versos. O compositor da cidade, Onildo Almeida, numa procura inusitada identificou todos os produtos à venda com terminação em “u” e compôs a deliciosa canção “Feira de Caruaru”, com rimas no mínimo curiosas “Tem massa de mandioca, batata assada, tem ovo cru. Banana, laranja e manga, batata-doce, queijo e caju”, canção essa imortalizada em disco pelo grande Luiz – Lua – Gonzaga... Outras canções, outros escritos foram registrando esse saber popular, a começar pela descoberta do Mestre Vitalino e seus seguidores, diversificando a feira de tal forma que tornou-se foco do levantamento primoroso elaborado pelos alunos e técnicos da UFPE (Janine, Jacira, Bárbara, João Paulo, Carlos Frederico, Felipe – fotógrafo e cinegrafista/, e o arquiteto Gustavo,) coordenados pelo Doutor em Antropologia, Bartolomeu (Frei Tito) Figueiroa de Medeiros, sob a supervisão da 5ª Superintendência Regional do IPHAN, com sede em Pernambuco, através dês suas entusiastas pesquisadoras Mabel Baptista e Graça Villas.

Foram inúmeras as viagens a Caruaru, para as entrevistas, o preenchimento de fichas, as gravações, as fotos recolhidas. O dossiê tomou forma, foi discutido, recebeu importantes inserções da bibliografia existente, em especial a excepcional obra do mestre Nelson Barbalho, que debruçou-se sobre a vida e a história caruaruense, eternizado-SE nas publicações feitas pelo Centro de Estudos de História Municipal, um órgão completamente voltado para o resgate de cada município pelo saber e pelo amor de seus historiadores.

E o resultado não podia ser outro. Nacionalmente, em janeiro de 2007, a FEIRA DE CARUARU foi considerada PATRIMÔNIO IMATERIAL, o segundo título dessa natureza concedido a um reconhecido bem intangível no País. Tombava-se o saber popular, a permanência de uma forma singular de proceder, um conjunto de tradições merecedoras de reconhecimento e valorização, todas ocorridas em um lugar delimitado, pleno de vida! .

Suas muitas “feiras” contidas numa só hoje estão protegidas... A “Feira das Frutas e Verduras”; a “Feira de Raízes e Ervas Medicinais”; a “Feira doTroca-Troca”; a “Feira de Flores e Plantas Ornamentais”; a “Feira do Couro (calçados, chapéus, bolsas...)”; a “Feira Permanente de Confecções Populares /“Feira de Roupas”; a “Feira dos Bolos, seção de Goma e Doces”; a Feira das Ferragens”: a “Feira de Artigos de Cama, Mesa e Banho”; a “Feira das Galinhas”; a “Feira do Fumo“: a “Feira dos Importados”; a “Feira do Artesanato”; a “Feira da Sulanca” e a “Feira do Gado”. Todas continuarão sua ascensão, enchendo Caruaru de gente, de sons, de orgulho, de crescimento e de modelo a ser seguido...

E isso só acontece quando há a Verdade no que se faz, no que se acredita, no que se propaga como saber para as gerações futuras. E é isso que apregoa a imortal melodia de Onildo Almeida:

A feira de Caruaru
Faz gosto a gente ver
De tudo que há no mundo
Nela tem prá vender
Na feira de Caruaru
I
Tem massa de mandioca
Batata assada, tem ovo cru
Banana, laranja e manga
Batata-doce, queijo e caju
Cenoura, jabuticaba,
Guiné, galinha, pato e peru
Tem bode, carneiro e porco
E se duvidar inté cururu
II
Tem cesto, balaio, corda
Tamanco, gréia, tem tatu
Tem fumo, tem tabaqueiro,
Tem peixeira e tem boi zebu
Caneco, alcoviteiro,
Peneira boa e mel de uruçu
Tem calça de arvorada
Que é prá matuto não andá nu
III
Tem rede, tem baleeira
Móde menino caçá lambu
Maxixe, cebola verde,
Tomate. coentro, couve e chuchu
Almoço feito na corda
Pirão mexido que nem angu,
Mobia de tamborete,
Feita tronco de mulungu
IV
Tem louça, te ferro velho,
Sorvete de raspa que faz jaú
Gelado caldo de cana,
Planta de palma e mandacaru
Boneco de Vitalino, que são
Conhecido inté no Sul
De tudo que há no mundo
Tem na feira de Caruaru”

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

LEMBRANDO DOM HELDER CAMARA

Mais um lindo pensamento de Dom Helder Camara, que merece ser partilhado:

Aceita as surpresas
que transtornam teus planos
derrubam teus sonhos,
dão rumo totalmente diverso
ao teu dia
e, quem sabe,à tua vida......

Não há acaso.
Dá liberdade ao Pai,
para que Ele mesmo
conduza a trama
dos teus dias.

(Dom Helder Camara)

terça-feira, 16 de setembro de 2008

A CAPELA DE SÃO PEDRO, EM FERNANDO DE NORONHA.



De longe, ela parece uma figura encantada de presépio: pequenita, singela, isolada - lá no alto -, como um pequeno farol de fé, cheio de beleza...

De perto, a minúscula capela se entrega fácil: sem ornamentos, sem riquezas, ainda sem seu sino para espalhar badaladas pelo ar, apenas com um frágil e pobre cruzeiro, indicando-lhe a dedicação sagrada. Restaurada diversas vezes, ela é um marco referencial entre tantas belezas do patrimônio cultural noronhense, pelo qual parecia não haver respeito, tamanho é o estado de degradação a que quase tudo foi relegado.

Ao seu redor, a paisagem exuberante... Pois a Capela de São Pedro dos Pescadores, em Fernando de Noronha, é principalmente isso: um símbolo de fé, plantado em meio a uma paisagem deslumbrante, de qualquer dos lado para os quais os olhos sejam atraídos.

A cada ano, ao seu redor - no "Dia de São Pedro" - unem-se praticantes e profissionais da pesca, velejadores, condutores de visitantes pelo mar e turistas, todos dispostos a reverenciarem o padroeiro dos pescadores, o senhor protetor daquele mar azul-turquesa, pedindo bênçãos para o ano todo, como fizeram tantos dos seus antepassados, que passaram um dia pelo Arquipélago, seja qual for a condições em que isso tenha ocorrido: prisioneiros comuns, presos políticos, militares, cientistas, turistas fascinados...

E neste começo de século, recomeça-se a corrida para o soerguimento dos bens móveis e imóveis noronhenses, salvando-se a capela da destruição, investindo-se na sua plena segurança, permitindo que ela continue a ser o farol bonito de cristandade, na homenagem simples dos homens afeitos ao mar.

Construída no século XX, a Capela de São Pedro dos Pescadores de Fernando de Noronha está situada no alto da região onde viveram os franceses a partir de 1927, para serviços de apoio à aviação que, àquele tempo, experimentava as travessias por sobre o Atlântico desafiador, plenas de dúvidas e incertezas. Até hoje, o lugar ainda é chamado “Ponta da Air France”. A capela é uma das atrações desse insólito lugar, visível de muitos pontos, inclusive do mar, pelos barcos que partem do porto de Santo Antônio. À sua frente, o mar-de-dentro: lá longe, o Brasil-continental. Na sua retaguarda, o mar-de-fora: mais de dois mil quilômetros de distância do continente africano e, bem abaixo do alto, a curiosa "piscina dos tubarões", onde dormem os tubarões menores, retidos pelas pedras quando o mar está secando. Ela própria, no seu mirante excepcional, é um dos poucos lugares de onde essa privilegiada visão dos dois "mares" e dessa "píscina" é oferecida.

Hoje, sua paisagem sugere até a realização dos chamados "casamentos alternativos", que nada legalmente significam mas expressam o amor, consolidado diante de uma beleza contagiante e inesquecível...

Que bom que a capelinha está a salvo! Que bom que o patrimônio cultural noronhense não está fadado ao desaparecimento, apesar de tudo!

domingo, 14 de setembro de 2008

DEVE FICAR...


Deve ficar,
nos lugares onde vivemos,
a lembrança de nossa presença,
como uma marca...

Eco de palavras,
carregadas de emoção.

Sonho de passagens,
em andanças de tantos dias.

Cheiro de um tempo distante.
Rastro de passos que se foram...

Deve ficar,
por essas paredes,
por esses telhados,
por esses caminhos,
a nossa irreal presença,
impressa, indelevelmente,
naquilo que fomos
... e não seremos nunca mais!

(Do meu livro "No silêncio do coração")

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

CURIOSIDADES DE FERNANDO DE NORONHA


· Que durante a existência do Presídio Comum, em Fernando de Noronha, existiu, a partir do século XIX, uma fábrica de tecidos, para fornecer pano do fardamento dos presos, utilizando o excelente algodão então produzido na ilha?

· Que os franceses da Companhia Aeropostal, antecessora da Air France, instalaram-se na ilha em 1927 e por isso a região é chamada, até hoje, de Air France?

· Que a Igreja evangélica Assembléia de Deus noronhense começou a existir na ilha no século XX, como uma extensão de uma igreja de Abreu e Lima, em Pernambuco?

· Que em 1988/1989 construíram-se as lagoas de estabilização noronhenses, para tratamento de dejetos?

· Que o mergulho a reboque, popularmente conhecido como “Plana Sub”, é uma das maiores atrações para o turismo na ilha?

· Que a desobediência a qualquer norma estabelecida para o PRNAMAR/FN pode acarretar multa e apreensão de equipamentos usados?

· Que em 1937 dois navios gregos - o Maria e o Themone Sthathatos - naufragaram em Fernando de Noronha, e que eram da mesma companhia daquele que até hoje está afundado no porto – o “Eleani Sthathatos", naufragado em 1929?

· Que quem nasce em Fernando de Noronha é chamado de “noronhense” e também conhecido como “ilhéu”?

· Que os golfinhos rotadores são assim chamados porque saltam fora d´agua e fazem um giro ao redor do próprio corpo?

· Que o preso político da Revolução Praieira, Borges da Fonseca, em 1849, ficou isolado na ilha Rata durante três meses, por ser considerado “de alta periculosidade”?

· Que uma pequena parte da energia produzida na ilha vem da turbina eólica aí instalada, sendo o restante gerado a óleo diesel?

· Que a Aeronáutica assumiu o governo do Território Federal em 14/12/1981, atuando até 1986, quando foi substituído pelo Estado Maior das Forças Armadas - EMFA?

· Que existem ainda as ruínas da “casa do padre”, na região Quixaba, próxima à Praia da Cacimba do Padre, onde morou – no século XIX – o Pe. Francisco Adelino de Brito Dantas?

· Que no Arquipélago estão as maiores colônias reprodutivas de aves marinhas dentro das ilhas oceânicas do Atlântico Sul?

· Que o monumento localizado em frente ao Palácio São Miguel, doado pelo governo português, foi inaugurado em 1947, para comemorar os 25 anos da 1ª travessia aérea sobre o Atlântico?

· Que desde 1998 oito trilhas interpretativas foram definidas em Fernando de Noronha, sendo três fora do Parque Nacional Marinho e cinco dentro dele?

· Que os Territórios Federais foram extintos pela Constituinte, em 1988, inclusive o de Fernando de Noronha, ocorrendo então a sua reintegração ao Estado de Pernambuco?
(Dados do "Programa de Resgate Documental sobre Fernando de Noronha")

domingo, 7 de setembro de 2008

MINHA PÁTRIA, MEU AMOR!


Foi em seu solo fértil
Que me fiz gente.
Foi a ela que cantei
O meu amor juvenil e adulto.
Foi por ela que cresci
Buscando a minha maneira
De provar ser merecedora
De ser chamada filha...

Que importa se muitos dos nela nascidos
Não criaram raízes
Nem se sentiram motivados
Para defenderem-na na paz ou na luta...

Que importa se alguns dos seus filhos
Foram traidores, omissos, rancorosos,
Portando-se de forma vil
Nos momentos em que foram solicitados...

Importa, realmente, que a legião dos homens de fé
Continuem a sua dedicação exclusiva
E mantenham acesa no coração
A chama do amor por este Brasil sofrido e amado...

Importa, sobretudo, que nunca o desencanto
Abata nossa certeza e arrefeça o nosso amor,
Para que possamos crer que ainda há esperança,
De merecermos um Brasil digno e grande.

Importa ser brasileiro de verdade,
E por toda a vida!


(No "Dia da Independência, em 2008)

sábado, 6 de setembro de 2008

CANTA COMIGO, AMIGO!


Canta comigo a alegria renovada,
nesse nascer que juntos experimentamos.
Teu canto solitário me atingira
e despertara em mim grande ternura
e, assim eu vim, ansiosa à procura,
do teu cantar tristonho e magoado,
para juntar a minha voz e contigo desfrutar a vida...

Deixa que aqui, ao teu lado, eu permaneça,
na prontidão da amizade que o afeto encerra
e que, em cada abraço,
demonstrado seja que és, para mim,
o preferido companheiro e, de tão grande,
esse carinho se extravase
e vá fazer-se verdade inesperada...

Canta, pois, amigo, que é longa a madrugada,
quando sozinho por ela atravessamos
e suave é o fardo, quando partilhado,
em mãos amigas, plenas de verdade.
Canta o dia que se vai, a noite que já chega,
canta a certeza de saber-se amado,
pois que a ser amigo foste destinado...

Canta a canção de sol de primavera,
a louca canção de amor que não se espera,
a canção que vem do coração que ama
e se faz oferta ao amigo escolhido...
Canta, amigo. Canta amigo!
Canta comigo!
(Do meu livro, inédito, "Em louvor do amigo")

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

A MAIS ANTIGA IGREJA CARMELITA DA AMÉRICA LATINA


Já ao passar por ela o coração se enternece... Numa colina suave, o templo majestoso desponta, robusto e belo, em meio ao verde da praça, visível de todas as outras colinas que rodeiam aquela construção de mais de quatro séculos.

O bairro ao redor carrega seu nome: bairro do Carmo. A praça também é assim chamada, embora tenha outros nomes, aplicados pelos homens através dos tempos. Seu declive suave sempre serviu de inspiração para encontros de poetas, seresteiros e repentistas, ofertando o clima ideal para encontros, desafios, namoros.

Ela é a Igreja do Carmo de Olinda, a primeira das muitas igrejas carmelitas espalhadas pelo continente americano. Foi ainda no século XVI que aqui chegaram – por acaso – alguns frades da ordem do Carmelo, que iriam para a Paraíba mas precisaram parar pelas tormentas experimentadas. Certamente, nenhum acaso os deixou ali, na pequena “ermida” dedicada a Santo Antônio, provisoriamente cedida, E eles ficaram para sempre.

Fez-se a Igreja. Fez-se o convento. Fez-se a capela lateral, para abrigar os leigos, irmãos terceiros... E de 1580 em diante ali viveram e dali partiram os carmelitas-missionários, espalhando-se pelo nordeste, criando outros espaços de oração e ação por muitos lugares.

O interior do templo foi cuidado com esmero. Talhas douradas, rendilhadas, foram sempre razão de encanto. A acústica da igreja surpreendia. A fachada em cantaria, com seu altar voltado para o mundo e sua imagem em pedra a vigiar os homens, fascinavam.

Depois, os desentendimentos criaram fissuras nas relações entre os frades e os donos do poder, fracionando e enfraquecendo a ordem, que acabou por fazer com que aquela Casa-Mãe passasse para outros donos, tomada que foi pela União.

Passou-se mais de um século. A insensatez de autoridades eclesiásticas fez ruir grande parte do patrimônio edificado, com a desculpa de abrir “ruas” e “praças” no entorno do monumento. A igreja isolada perdeu muito da sua solidez o foram precisos muitas ações de restauração, algumas silenciosas, feitas no interior dos seus chãos, para que os bolsões acumulados de água infiltrada no solo desaparecessem.

Agora, vive-se um outro tempo. A velha e bela Igreja do Carmo de Olinda volta a ser carmelita, por determinação superior. Fez-se justiça àquela ação nefasta do final do século XIX, permitindo que se desse a sua reintegração pelos frades do Carmelo. E essa consolidação não tardará a acontecer.

Olinda recupera um espaço seu, legitimamente seu, para ser novamente conduzido por religiosos, para ofícios os mais diversos, para as procissões anuais, para os festejos da Virgem do Carmo a cada julho e até mesmo para abrir-se à Arte, permitindo-se acolher manifestações artísticas diversificadas, servindo como casa de oração e espaço das formas de produzir beleza.

Que bom saber que aquela linda igreja, escolhida em 1983 para simbolizar o selo que consagrava o título recebido da UNESCO de “Patrimônio Cultural da Humanidade”, é nossa, mesmo, como nunca deveria ter deixado de ser!

Bons ventos acolham essa retomada!

quinta-feira, 4 de setembro de 2008


É de paz
o canto de quem ama
e, pelo amigo,
rompe a madrugada,
a cantar a espera,
a cantar a luz,
enquanto vem a aurora.

É de alergia
o canto de quem se enreda
na teia da afeição verdadeira
e, pelo amigo,
resiste, luta e sofre,
no bom combate,
quando houver batalha.

É de esperança
o canto de amizade
que espalha luz
na escuridão do mundo,
iluminando as trevas de tristeza
que se hajam erguido
enquanto vinha a noite.

É de amor
o canto que ressurge
e que ecoa pelo espaço aberto,
apregoando uma ventura infinda
que é a de amar e ser correspondido,
tendo, no gosto bom do amor,
a chama de eternidade.

Paz. Alegria. Esperança. Amor.
Cantos que explodem, se assim manda o coração

(contido no meu livro "Em ouvor do amigo")

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

MESTRE SALUSTIANO - UM ORGULHO PARA PERNAMBUCO QUE SE FOI...



Houve um tempo – e já faz algum tempo – que quem passava no Jardim Fragoso, próximo à FUNESO, apreciava um “terreiro” de festas, muito simples, mas de uma energia contagiante... Quantos alunos, a caminho de sua obrigação discente, não pararam por breves momentos, para ver a alegria e a verdade daqueles “brincantes”, que varavam madrugadas, e ali estavam quase todas as noites. Quantos professores, também.

Um dia, minha curiosidade aguçou-se e eu também parei. Fiquei pouco tempo, da primeira vez. Fui embora dar aulas com a sensação de estar diante de um verdadeiro mestre na arte popular e decidi que voltaria. Assim o fiz muitas vezes, até o dia em que o líder daquele “brinquedo” aproximou-se, com seu riso largo e inesquecível, para perguntar-me: “em que posso servir a madama?” Disse-lhe sem pestanejar: “Que tal o senhor ensinar sua arte nas escolas de Olinda?”. E ele, talvez até desconfiado, não teve dúvida em dizer que “a gente conversava sobre isso”. Marcamos o encontro para o dia seguinte, na Secretaria de Educação e Cultura do Município, onde era eu a titular. Este foi o meu primeiro encontro com Salustiano, o primeiro de uma série que se seguiria, de descobertas do extraordinário artista que me havia atraído tanto, com seus festejos pobres e singelos, mas marcados pela força daquilo que é genuinamente popular.

Pouco tempo depois o Mestre Salustiano estava nas escolas de bairros populares de Olinda... A estratégia para remunerá-lo foi discutida e autorizada pelo Prefeito Germano Coelho e, desde o primeiro momento, foi sempre como “Mestre” que ele foi tratado. Mestre do maracatu. Mestre da ciranda. Mestre do mamulengo. Mestre do cavalo marinho. Mestre, sem vida acadêmica, doutorado nas estradas da vida e portador de talentos evidentes. Ainda naquela gestão, o Carnaval ganharia seu primeiro “Encontro de Maracatu Rural”, um lindo cortejo de grupos de maracatus pelos sítios históricos, trazidos e coordenados por ele, atividade que entrou no calendário cultural da cidade de forma permanente.

Passou-se o tempo. Olinda havia ganho a chance de aprender a fazer arte com um artista de verdade. A FUNDARPE percebeu o talento do Mestre.. E lá se foi ele, para a primeira experiência a nível estadual, levado pelos mãos de Leda Alves. Depois, o encantamento se deu com o grande Ariano Suassuna, que o quis na assessoria da sua Secretaria de Cultura, mesmo que – como contam – ele tivesse reagido de forma muito jocosa ao convite. Chamado por Ariano para “ajudá-lo a escrever coisas de cultura”, ele teria dito: “mas eu nem sei escrever...” E Ariano recrutara, de forma prática e definitiva: “Escrever eu sei. Eu quero é que você pense!”. Estava formada aquela “dobradinha” que haveria de carregar Salustiano do seu terreiro, para investir no sonho chamado “Ilumiara Zumbi”, na Cidade Tabajara, ainda em Olinda.

Novamente aí a vida nos aproximou muito. O pedido de Ariano para que os Técnicos da SEPACTUR elaborassem o projeto do Ilumiara foi a razão. E voltamos a nos encontrar, a conversar, porque era ali que eu agora servia à Olinda, como Secretária... Idas e vindas naquele espaço ainda descampado. Idéias. Projetos sendo propostos... E o sonho de Salustiano tornou-se concreto e assim o é até hoje.

O Governo Estadual o considerou “PATRIMÔNIO VIVO DE PERNAMBUCO”, dando-lhe uma aposentadoria e a honraria da escolha, reconhecendo nele um verdadeiro Mestre do Saber Popular, como em outras esferas já o haviam reconhecido como “Mestre por notório saber”. Este homem, que crescera pelas roças do interior do Estado, vendo aflorar em si dons que desconhecia e desenvolvendo esses dons, viera e vencera na cidade grande. Este homem, que enfrentou uma platéia de idioma desconhecido, em Santiago de Cuba, no “17º Festival Latino-Americano de Cultlura”, a todos convenceu porque sua Arte era especial. Este homem foi pai de muitos filhos e delegou para quase todos a força do seu saber, iniciando-os nos brinquedos que tão bem conduzia e a eles repassando essa herança invejável...

Um dia, estando ele se apresentando na festa do Bonfim de Olinda, minha filha adolescente, fascinada com o domínio do público que ele mostrava, com as cantigas improvisadas, com sua rabeca tão bem tocada, fez um comentário que eu jamais esqueci: “se esse homem tivesse estudado, o que ele hoje não seria...”. Precisa não, filha, disse eu... Esse nasceu para ser grande, mesmo sem estudos formais. Esse, é o Mestre Salustinano - PATRIMÔNIO DE PERNAMBUCO - que se foi agora , para a derradeira viagem, encantando-se, para sempre!

Sua herança permanecerá, graças a Deus!