sexta-feira, 29 de maio de 2009

PALAVRAS DO PROFETA


NÃO CREIAS NA ARROGÂNCIA
Não te impressiona saber
que o mais anônimo dos átomos
tem poder capaz de arrasar cidades?
No entanto repara
como se apagam e se escondem
como se nada fossem,
nada valessem, nada pudessem...

terça-feira, 26 de maio de 2009

DESABA O TETO DA IGREJA DE SÃO JOÃO BATISTA DE OLINDA


Em 17 de fevereiro deste ano, falei aqui da mimosa IGREJA DE SÃO JOÃO BATISTA DOS MILITARES, localizada no sítio histórico de Olinda. Já àquela altura o templo mostrava-se deteriorado, com problemas estruturais graves, sem nenhuma possibilidade de ver-se alvo de algum plano de salvaguarda para essa que é o único exemplar de igreja não atingida pelo incêndio ateado pelos holandeses, em 26 de novembro de 1631.

Pois Pernambuco amanheceu mais pobre, neste dia 26 de maio, pela perda irreparável de parte do teto da igrejinha da Av. da Saudade, conforme o noticiário da mídia de hoje. Uma destruição de certa forma anunciada, pelo descaso com que é o patrimônio histórico tratado.

“IGREJA de São João Batista não resistiu ao abandono e perdeu parte das telhas no início da tarde de ontem”, dizia a manchete da reportagem de Alexandre Ferreira, para a Folha de Pernambuco.

O que falta acontecer para que o descaso não seja a marca daqueles que têm a responsabilidade de estarem todos atentos a desastres como esse???

sábado, 23 de maio de 2009

MOSTEIRO DE SÃO BENDO PODE SER ELEITO COMO "MARAVILHA PORTUGUESA"

Está em fase final o concurso que escolherá as maravilhas criadas pelos portugueses por aí afora... No Brasil, entre os sete finalistas, estão três monumentos situados no nordeste, sendo dois desses em Pernambuco. Isso envaidece o Estado, muito embora não haja incentivos para que o próprio povo pernambucano conheça e se aproprie dessa beleza, tão perto e tão disponível a nós todos que talvez nem nos detenhamos para apreciá-la...

Um está no Recife: o conjunto franciscano localizado na Rua do Imperador, no centro da capital pernambucana, com seu convento, sua igreja, seus clastros, suas capelas secundárias tendo, entre elas, a magnfica Capela Dourada, obra do começo do século XVII. O outro está em Olinda: o MOSTEIRO DE SÃO BENTO, localizado numa das sete colnas que formam os sítios históricos, nas vizinhanças do antigo Varadouro da Galeota.

Sua fundação remonta ao primeiro século da colonização portuguesa n
a Capitania de Pernambuco. Os Beneditinos vieram cá em 1586. Moraram, inicialmente, na Igreja de São João Batista dos Militares. Depois, transferiram-se para a ermida de N.Sª do Monte, que lhes foi doada – e onde hoje estão as Monjas Beneditinas – e aí ficaram até adquirirem, em 1597, um terreno conhecido como Olaria, e três outros nas proximidades, para aí edificarem o seu mosteiro.

O monumento é soberbo! Mesmo destruído em parte no incêndio holandês de 1631, foi sendo reconstruído através dos séculos, enriquecendo o seu acervo de peças de real valor artístico, como sanefas
de talha dourada, gradis de jacanrandá, pinturas da vida de São bento e de rico mobiliário.

A Igreja-Basílica de São Bento
foi concluída em 1761. Esta é a data inscrita em sua fachada sóbria, com portas entalhadas em almofadas, moldura de pedra com arcos, óculo ladeado por janelões com gradil de ferro e o brasão da Ordem Beneditina. À direita, uma torre com um carrilhão, que toca pontualmente às 18 horas, a convidar o povo para a oração.

O altar-mor
é em cedro, inteiramente folheado a ouro, construído entre 1783 e 1786, sendo um dos mais belos exemplares de talha dourada no Brasil. Restaurado em 2001, foi demontado e levado para ser exposto em Nova York, em 2002, como a atração principal da exposição Brasil de Corpo e Alma, realizada no Museu Guggenheim. No centro está a imagem de São Bento, ladeada por São Gregório Magno e por Santa Escolástica, sua irmã gêmea Hoje o suntuoso altar está de volta à sua casa... Pinturas no teto da capela-mor mostram passagens da vida do santo fundador da Ordem e de seus monges. Do mesmo teto pendem três lamparinas de prata, do século XVIII.

Sua sacristia é a mais rica das igrejas de Olinda com talhas douradas, espelhos de cristais e painéis, mostrando a vida de São Bento, inclusive o seu nascimento, vendo-se nele os gêmeos Bento e Escolástica, ele iluminado por um raio de sol e ela por um raio da lua.
.

Na nave há um púlpito com dossel e altares laterais com imagens do século XVIII. No coro há uma imagem do Crucificado em tamanho natural, rodeado de anjos e de um esplendor. Em um dos corredores do andar superior está a singela imagem do Menino Jesus de Olinda, uma escultura em barro cozido, feita por Frei Agostinho da Piedade, entre 1635 e 1639 e é o único exemplar desse artista, fora da Bahia.

Os monges, de vida contemplativa e ações na área da Educação, praticam o canto gregoriano, conservando a boa tradição beneditina e, na loja posicionada na lateral do conjunto arquitetônico, vendem CDs do Coral do Mosteiro e outras preciosas lembranças do admirável edifício.

O Pátio diante do Mosteiro, com suas palmeiras e casario lateral, guarda a tranquilidade de um lugar de sonho, para desfrutar uma Olinda misteriosa e secular. Tomara que o título de “maravlha portuguesa” lhe seja concedido!

terça-feira, 19 de maio de 2009

PALAVRAS DO PROFETA

"Devo clamar por justiça, trabalhar por ela,
lutar, pacificamente, mas lutar
para que a justiça
prepare os caminhos da paz."
(Dom Helder Camara)

segunda-feira, 18 de maio de 2009

A ARTE EM FERNANDO DE NORONHA (através dos tempos) - 2



Já falamos aqui em gente que, no passado, deixou registrado através da sua forma de expressão artística, o encantamento que Fernando de Noronha lhes despertou. Gente que, através de detalhes especiais, criaram primorosas formas de mostrar o Arquipélago, fosse na Cartografia, ou em outros veículos de eternização da Arte.

Alguns, como o pintor paulista Scúrzio, que estava de passagem pela ilha como turista, em 1984 e, encantado com as ruínas do Antigo Armazém de Produtos Agrícolas, na Vila dos Remédios, fez dele uma bela tela, doada ao Museu de Fernando de Noronha e afundada no navio Iracema, em 1999, quando remetida para a ilha, no naufrágio ocorrido, restando-lhe a imagem fotográfica desse primoroso trabalho.

Outros, convidados a vive
r a experiência da “Primeira visita coletiva de artistas plásticos de Pernambuco e da Paraíba a Fernando de Noronha”, numa iniciativa do Ministério da Aeronáutica, ao qual estava o então Território Federal subordinado, imortalizaram a ilha em trabalhos belíssimos, expostos na Galeria Metropolitana Aloísio Magalhães, do Recife, em 1988. Nomes como: Alex Mont´Elberto, Chico Dantas, Daniel Santiago, Henrique Bionde, Jobson Figueredo, João Câmara, José Crisólogo, Mauricio Silva, Paulo Bruscky, Plínio Palhano, Regina Martorelli, Sérgio Lemos, Sílvio Hansen, Tereza Costa Rego, Unhadeijara Lisboa e Tereza Costa Rego levaram para as telas aquilo que o espaço insular lhes revelava...

Mais tarde, em 1992, uma “Segunda visita coletiva de artistas plásticos de Pernambuco a Fernando de Noronha”, por iniciativa da Companhia Editora de Pernambuco – CEPE, também trouxeram para a história da Arte da ilha uma bela coleção de trabalhos, criados por artistas como Aprígio, Delano, Eduardo Araújo, Flávio Gadelha, Frederico, Gil Vicente, Guita Charifker, José Barbosa, José de Barros, José Carlos Viana, José de Moura, Lucian
o Pinheiro, Maria Carmen, Plínio Palhano, Rinaldo Silva, Roberto Lúcio, Tiago Amorim, além de artistas radicados no arquipélago, como Ariandna Sampaio, Flávio Freitas e Ida Korossy. Essa segunda leva de obras foi exposta na Galeria Metropolitana Aloísio Magalhães, no Recife, em 1992 e, na sede da própria CEPE, no ano 2000.

Em 1999 foi desenvolvido na ilha o projeto “Noronha em Grandes Formatos”, cuja idéia central era convidar artistas renomados que desenvolvessem seu trabalho em telas de grandes proporções. O primeiro desses artistas foi Luiz Jasmin, renomado pintor baiano radicado em Pernambuco que, em seis meses, criou dez (10) telas de 2,80x1h60, expostas no Museu de Arte Aloísio Magalhães – MAMAN, em 10 de agosto de 1999 e, posteriormente, no Centro de Visitantes do IBAMA, em Fernando de Noronha.

O assunto vai ter continuidade porque Fernando de Noronha é fonte de inspiração perene!
OBS: Tela 01 - Scurzio / Tela 02 - Tereza C. Rego / Tela 03 - Flávio Freitas

sábado, 16 de maio de 2009

"DIA DO GARI"

Hoje, 16 de maio, é o "DIA DO GARI" / "DIA DO LIXEIRO", instituído por lei em 31 de outubro de 1962.
A data homenageia os profssionais que são tão comuns, na paisagem das cidades, que até passam despercebidos aos olhos nossos olhos, como se fossem figuras invisíveis, embora necessárias . Até eles mesmos talvez nem saibam que, no calendário de eventos, são lembrados.
Para esses homens, responsáveis pela limpeza de toda a sujeira que geramos e espalhamos, minha homenagem em forma de poema.

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AO LIXEIRO

Nada há nada de belo no trabalho daquele
que recolhe o lixo, dia após dia...
Nem perfume, nem limpeza,
nem a disposição ordeira
das coisas arrumadas e estáticas...

Pressurosos e aparentemente felizes,
caminham, correm, apanham fardos,
reviram, misturam
- misturam-se – como lixos humanos,
sobrevivendo na dolorosa profissão
que se alimenta de restos...

Dolorosa partilha de uma vida
que se mantém porque existem sobras...
Suado pão que se ganha
sujando as mãos no que foi desprezado...
Terrível certeza de permanecer limpo,
na alma de trabalhador em luta pelo seu quinhão,
sob o eco e o desdém da palavra lixo!

E, enquanto apanham cacos e mergulham as mãos
na podridão dos úmidos dejetos, sabem-se homens de verdade,
no enfrentar de uma desdita cobrada por outros homens,
que precisam, de algum modo, safar-se do que lhes sobra,
do que foi, ontem, razão e ordem, do que já não serve mais,
senão para ser jogado fora.

Lixeiro-irmão,
que limpas os caminhos dos homens
com o teu sacrifício diário e anônimo,
ergue os olhos para o céu tão limpo
e acredita na justiça que fará de ti o primeiro entre os últimos
a aspirar a claridade dos espaços definitivos,
onde não há teias, sombras, restos!

(publicado no meu livro "No silêncio do coração", Catolicanet, 2005)

sexta-feira, 15 de maio de 2009

DENOMINAÇÃO DAS RUAS DE UM LUGAR


"E do sonho dos homens que uma cidade se inventa” (Carlos Penna Filho)

As cidades, as vilas, os lugarejos, tudo nasce do sonho e da necessidade dos homens. Tudo carrega a “marca” daqueles que fizeram surgir o lugar. E tudo nasce marcado pela necessidade da ordem, da lógica, que permita a sua fácil identificação. Daí o uso de números, de letras, de nomes, de “códigos” inventados pelo homem, para que essa ordem se mantenha e seja entendida por todos e para sempre.

A definição de um espaço urbano, exige que, desde o começo, atribua-se alguma forma de classificação, geralmente feita em letras ou números, que torne claro o seu desenrolar espacial. São assim as chamadas “rua projetada 1”, “rua projetada 2”... ou as “quadra 1”, “quadra 2”... ou o “lote 1”, “lote 2””...e assim por diante. Depois, quando chegam os moradores definitivos, essas quadras, lotes, ruas, recebem uma outra identificação, no nome que virá a ser a sua marca imorredoura.

No passado, costumava-se atribuir nomes poéticos às ruas, aos bairros... Nomes que celebrassem a paz e a harmonia do universo. Ou que lembrassem acontecimentos marcantes. No Recife e em Olinda, são célebres os nomes dos logradouros antigos como Rua da Alegria, da Amizade, do Sol, da Aurora, da União, da Saudade, da Bela Vista, entre outras. Ou nomes como “Rua da Roda”, lembrando a “roda” de um orfanato, onde mães abandonavam seus filhos recém-nascidos, colocando-os numa espécie de catraca e rodando-a para que fossem para dentro da casa e lá ficassem...

Depois, a mentalidade servilista de alguns líderes trouxe o modismo da atribuição de nomes de pessoas às ruas, aos bairros, às cidades, substituindo-se nomes cheios de beleza por nomes de gente importante. Exemplo disso é a antiga “Maricota”, em Pernambuco, modificada para Município de Abreu o Lima.

Manoel Bandeira, o grande poeta pernambucano, lembra, no seu poema “Recife”: “como eram belos os nomes das ruas da minha infância!”... E comenta, a seguir:“tenho medo que hoje se chame rua Fulano de Tal!”

Em Fernando de Noronha o homem só chegou de forma definitiva, em 1737. E o fez, recebendo presos comuns e militares para comandá-los. Num primeiro momento, esses correcionais ocuparam os presídios e seus comandantes as poucas edificações feitas para esse fim. Havia poucos logradouros, “batizados” de acordo com o edifício principal que aí estivesse localizado. E surgiram a Praça e a Travessa dos Remédios (por causa da Igreja), a Rua do Sol (onde o sol chegava pela manhã), a Travessa da Estrela (que tinha casas de um só lado e permitia a contemplação do céu estrelado), o Estrada velha do Porto e assim por diante. Depois, quando o modismo de atribuir nomes de pessoas foi deflagrado no Brasil-continental, ele foi sendo assimilado pelos comandantes em Fernando de Noronha, que foram denominando com nomes de antigos servidores alguns prédios públicos e alguns lugares.

Nos Relatórios antigos existem referências à “Travessa dos Remédios, acima da praça do mesmo nome” (diante da Igreja de N.Sª dos Remédios), à “Praça Padre Roma” (em frente à Directoria, que já tinha sido chamada de “Praça d´Armas” e recebera o nome de um dos padres que haviam atuado na ilha) e à “Estrada da Quixaba”. Esse nome “Praça Padre Roma” seria substituído - no tempo de presença militar - pelo nome “Praça General Góes Monteiro”, do mesmo modo que a Praça dos Remédios passaria a chamar-se, a partir dali, de “Praça General Dutra”, a estrada que se dirigia ao porto passa a ser “Avenida Almirante Tamandaré” e assim ´por diante, numa clara alusão a militares brasileiros, sem nenhuma referência ou ligação com a ilha.

Um agravante aparece, nessas modificações dos nomes tradicionais por nomes de pessoas vivas. A Constituição de Pernambuco proíbe homenagens desse tipo, somente sendo possível a atribuição de nomes de gente falecida, como homenagem póstuma, tanto para ruas como para prédios públicos.

Em muitos casos, a opção de dar aos lugares nomes de espécies da natureza, foi uma saída acatada com aplausos, pelos que passarão a habitar esses espaços. É o caso das cinco vilas de CHOAB Rio Doce, em Olinda, que batizou suas ruas e quadras com nomes de flores, como se tudo fosse um enorme “jardins”, com seus “canteiros floridos”.

Em Fernando de Noronha, seguindo essa tradição, deu-se ao caminho do cemitério o belo nome de “Rua da Consolação”, como se havia dado, no Recife e em Olinda, o nome de “Avenida da Saudade”, para lembrar os sentimentos de perda e de consolo, que a morte evoca. Também batizou-se como “Rua da Alamoa” um espaço, homenageando a mais famosa lenda noronhense, lenda decantada em verso, em canção e em texto teatral, tanto no século XIX (pelo poeta e folclorista Gustavo Adolpho Cardoso Pinto) como no século XX (pelo poeta Ferreyra dos Santos, pelo compositor Capiba e pelo teatrólogo Luiz Maranhão Filho).

Outro costume aceitável, após o modismo da atribuição de nomes de pessoas, foi aquele de chamar-se pelo apelido com o qual alguns presos se notabilizaram, vindo daí a Rua Pinto Branco, por exemplo. Ou o nome de pessoas que moraram naquele espaço, ficando na lembrança dos que com elas conviveram, como é o caso da Rua Nice Noeli Cordeiro, antiga diretora da escola noronhense, que veio a falecer exatamente na rua que hoje a homenageia.

Conclui-se que o respeito ao passado exige sempre uma atitude consciente diante da atribuição ou manutenção dos nomes de uma localidade. E às homenagens mais antigas, não se deve propor uma nova denominação, apenas substituindo-se “aquele” nome por “este”. O mais correto será manter-se o nome mais habitual, com o qual a comunidade está mais familiarizada e, havendo quem homenagear, discutir-se com a população habitante de um espaço a atribuição mais adequada, prevalecendo o bom-senso, sempre, na aceitação definitiva.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

A ARTE EM FERNANDO DE NORONHA (através dos tempos)

Fernando de Noronha atrai atenções de artistas que se expressam de diferentes maneiras. Um arquipélago isolado no oceano, rodeado de muitos azuis ao ser redor, desperta a sensibilidade de muitos e provoca a criatividade de alguns, fazendo surgir telas, esculturas, fotos e tantos outros registros de beleza, eternizando esse espaço mágico pela grandeza da Arte.

Que lugar é esse, capaz de inspirar obras de valor inestimável e tempo infinito? Quem foram esses artistas que de tantos jeitos o representaram?

Primeiro foram os cartógrafos que foram incluindo elementos decorativos nos seus trabalhos, não só confirmando a intensa navegação nas imediações do arquipélago como a arte dos cartógrafos da época. É o caso do espanhol Juan de la Cosa (em 1500), do conhecido “mapa de Cantino” (de 1502) considerado “o mais antigo mapa do Brasil”; do Mapa-mundi de Lopo Homem-Reinéis, datado de 1519; da Carta de Keulen, publicada em 1717; da Carta gravada, datada de 1738, baseado em informações colhidas em 1734, de Philippe Bauche, 1º cartógrafo do Rei de França; da Carta do arquipélago de Fernando de Noronha, de José Fernandes Portugal, datada de 1798, localizando o sistema defensivo, o sistema viário, os núcleos urbanos e as estruturas de alguns serviços ali já implantados. E muitas outras, eternizando em seus traços a orientação sobre o Arquipélago e a beleza dos detalhes que os emolduravam.

E as obras de arte produzidas por pintores, gravuristas, escultores e tantos outros artistas, ao longo dos tempos?

A mais antiga delas foi feita em 1816, Jean Baptiste Debret, quando de sua passagem pelo arquipélago, integrando a Missão Artística Francesa (acervo da Fundação Castro Maya/RJ). Anos mais tarde Alexandre Spetz eternizava criava a “praça de comando”, centro da Vila dos Remédios, em 1841 (foto). E J. Niewerth, em 1845, em têmpera sobre papel, imortalizou a Vila dos Remédios, em imagem a partir do morro da Fortaleza dos Remédios; o cemitério da Vila, àquela altura recém-construído e a Rampa de desembarque do porto de Santo Antônio, vendo-se em 1845, com vista os armazéns e rampa de desembarque (todas acervo do Museu do Estado de Pernambuco)

Não fossem esses talentosos fazedores de arte e não teríamos idéia como era ocupado o espaço noronhense... Isso se continua com a ida de do pintor francês Eugene Laissaily, autor de uma das mais completas iconografias sobre a Vila, “cercada” por muro, detalhado em seus monumentos e, entre eles, mostrando a única imagem da hoje inexistente Igreja de Nª Sª do Rosário dos Sentenciados (acervo do Instituto Ricardo Brennand/PE). Do mesmo autor são sete outras obras, todas pertencentes a coleções particulares, com paisagens do arquipélago.

No final do século XIX duas criações ingênuas, uma atribuída a Luiz Schlappriz – com a Vila dos Remédios a partir do Morro do Francês, mostrando o casario da vila, praias, o Pico, com a presença do pintor na própria paisagem e a outra, de Antônio A. Lima, registrando a “Vila da Quixaba”, em 1890 (foto - acervo do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano).

No século XX a fotografia desponta e torna-se a “chave” para a compreensão do espaço urbano, em suas modificações sucessivas. Mas, a Arte continua a ser uma das formas de registro importante, com criações interessantíssimas, como as duas telas de Wash Rodrigues, uma imaginando o que teria sido a tomada pelos portugueses da ilha ocupada pelos holandeses, no século XVII e outra mostrando a chegada de Dutra em Fernando de Noronha, quando Ministro da Guerra.

Em 1984 o pintor paulista Scúrzio, pintou o Antigo armazém de produtos agrícolas, da Vila dos Remédios e a Capela da Fortaleza dos Remédios, contribuindo para que se conheça a aparência desses dois lugares antes que o tempo e o descaso dos homens quase os fizesse desaparecer.

O assunto continuará a ser falado aqui, enfocando outros tempos e outros artistas que, em Fernando de Noronha, deixaram-se ficar nas suas diversas formas de fazer Arte.

terça-feira, 12 de maio de 2009

PALAVRAS DO PROFETA


Há quem pelo amor se cegue: e ou não vê as falhas da pessoa amada, ou as vê e procura esquecê-las, entendê-las, desculpá-las, sem jamais aludir a elas, deixando a eventuais adversários o encargo de gritar contra elas...

Há quem pelo amor deseje, com amor, ajudar a pessoa amada a conhecer suas faltas e superá-las. Nem de longe se tratará de atitude arrogante de quem julga e condena, ou da atitude leviana de qem faz coro com adversários...

Helder Camara, 1993.

sexta-feira, 8 de maio de 2009

VOCÊ, MÃE!

Quando eu era pequenina
Meu amor transparecia
Nos gestos de cada dia,
No carinho com você...

E a vida corria leve
Feita de muita ternura,
Do encanto de coisas breves:
Olhares, abraços, ventura...

Ah! Se agora eu pudesse
Tão simples como criança,
Tão doce como a esperança
Dizer de novo a você

Que aquele carinho imenso
Tão pouco (ou nada) mudou.
Que ter você é ter tudo
Por ter, acima de tudo

Você como Mãe, meu amor!

Homenagem ao DIA DAS MÃES, em 2009.


(poema publicado no meu livro “As muitas faces do bem-querer”)

quinta-feira, 7 de maio de 2009

MÊS DE MAIO EM FERNANDO DE NORONHA


No passado, a devoção a Maria Santíssima – Mãe de Deus e nossa Mãe – era exteriorizada com as orações diárias feitas nas casas, nos chamados “Mês de Maio”, que reunia famílias em torno da recitação do terço, do canto de canções em louvor à Virgem, das reflexões bíblicas. Muitas dessas celebrações no lar eram festivamente encerradas no último dia do mês – 31 de maio – com ornamentação do altar que, ao longo dos trinta dias, havia permanecido modestamente florido e discreto.

Eram momentos encantadores! Crianças pequeninas aprendiam a “rezar o terço” imitando a “gente grande” que, fervorosamente, fazia daqueles instantes, um tempo de encontro, de meditação nos grandes mistérios da vida de Jesus: o anúncio de sua vinda; a visita de Maria a Isabel; o nascimento em Belém; a sua apresentação no Templo; sua agonia (já adulto), na oração no Monte das Oliveiras; seu julgamento, flagelação e calvário, culminando com sua morte de cruz; sua ressurreição; sua ascensão ao céu e a glória de sua Mãe, Maria, levada para a eternidade em corpo e alma e coroada no céu. O Terço era, na verdade, uma oportunidade de rever-se a trajetória do Cristo na terra, com detalhes preciosos, enquanto os lábios repetiam as “Ave Marias” que se seguiam...

Claro que, em alguns lares e em muitos locais, as rezas do mês de maio continuam a acontecer até hoje... Talvez tenham diminuído muito mas o costume ainda existe, estimulado pelas paróquias, como uma das atividades religiosas preferidas dos católicos de todos os tempos. Há até um movimento especial – o “Terço dos Homens”, que valoriza a recitação do Terço e convoca somente os homens a fazê-lo, numa clara provocação e chamado desses à oração. E ele não acontece apenas em cada Maio mas é constante, dentre as atividades paroquiais.

Em Fernando de Noronha o costume de fazer-se o “Mês de Maio” chegou com a presença militar. Antes, esporadicamente, louvava-se a Maria na Igreja dos Remédios, sem que o preso (maioria absoluta no Arquipélago, na época) tivesse qualquer envolvimento mais forte com os atos celebrativos feitos. Depois, na década de 1940, passado o tempo do Destacamento Misto da II Guerra Mundial, os capelães militares implantaram diversos costumes religiosos praticados no continente e, dentre eles, o “Mês de Maio” foi um dos preferidos das famílias que constituíam a população ilhéu, civil, e que era igualmente adotado pelas famílias dos militares servindo na ilha. Festa mesmo, no dia 31, acontecia no secular templo da padroeira, com direito à coroação de Nossa Senhora, com a imagem rodeada de crianças vestidas de anjos, jovens trajando o branco que significava pureza e paz.

De 1945 a 1987, repetiram-se as festas marianas de maio, com fervor renovado, sempre sob o controle dos padres-militares que atuavam como “capelães”. E, findo o tempo militar, os comandos civis que se sucederam - tanto em tempo de Território Federal como em seguida à reintegração a Pernambuco – mantiveram as práticas religiosas, agora sob a orientação da Arquidiocese de Olinda e Recife, à qual está o Arquipélago subordinado eclesiasticamente.

Vale ressaltar que, mesmo existindo essa vinculação desde o século XVIII, nem sempre ela foi admitida como razão do envio de padres diocesanos do Recife ou de Olinda, sofrendo a ilha com a ausência de líderes que conduzissem o seu rebanho católico. E, no período pós-1964, o Arcebispo de Olinda e Recife, Dom Helder Camara, não era bem-vindo por lá, o que fez com que, àquele tempo, somente militares-padres fossem responsabilizados pelas atividades da Igreja.

Hoje – no século XXI - esse costume continua a existir... Lá estão as famílias, reunidas, a cada noite de maio, de casa em casa, reacendendo a bonita tradição da saudação a Maria através da oração. E já se prepara a culminância dessa seqüência de rezas para, no dia 31 de maio, o grande momento do encerramento das homenagens.

Hoje é Dom Edvaldo Amaral quem tem a tarefa de conduzir a comunidade católica noronhense. Como Delegado Eclesiástico designado para o Distrito Estadual Fernando de Noronha, cabe-lhe manter a tradição que encontrou e fazê-la com ares de modernidade, usando, inclusive, uma interessante publicação especial sua, do Terço e da Ladainha de Nossa Senhora – “Os mistérios do Rosário” - como roteiro bíblico e prático para cada noitada de fervor e devoção!
Que bom que continua a ser assim!
(imagens do acervo do "Programa de Resgate Documental sobre Fernando de Noronha")

sábado, 2 de maio de 2009

MÊS DE MAIO - MÊS DE MARIA

Existem tradições deliciosas ligadas ao mês de Maio. Famílias se reúnem para “a reza do Terço”, exercitando seu carinho para com a Mãe de Deus e Mãe dos homens, numa das mais antigas formas de culto praticado no interior dos lares...

Na maioria das igrejas, isso se repete igualmente desde tempos remotos, com as celebrações marianas diárias, em simples capelas ou suntuosos templos. A piedade com que, diariamente, ou louvores à Virgem sobem ao céu, é comovedora! É com leituras bíblicas, com músicas marianas, com o desfiar das cinqüenta “Ave Marias” e das reflexões enriquecedoras, que este mês especial acontece.

Não bastassem esses costumes, e ainda Maio lembra noivas que se querem casar, repetindo uma outra forma secular de devoção a Maria, pelo privilégio que lhe foi dado de carregar Jesus Cristo em seu ventre.

Em alguns lugares, essas traduções talvez sejam mais fortes ou mais belas, até mesmo pela simplicidade com que são repetidas ou pelo inusitado do lugar e da forma com que ocorrem. É o caso do “Terço” diante da capela mariana vizinha ao Mercado da Ribeira, em Olinda. conhecido e visitadíssimo Ribeira ponto turístico da cidade. Uma forma de ‘rezar o Terço” no meio da rua, sentados os fiéis em bancos ou cadeiras que trouxeram de casa, diante do Nicho mariano, aberto somente ao longo do mês de maio, para a devoção secular.

Costumem que se repetem. Evidências da fé que se continua, se confirma e se alarga, no coração e nos gestos que voltam, a cada Maio que chega...

sexta-feira, 1 de maio de 2009

DIA DO TRABALHO


Mãos que amassam o cimento, o barro, o pão...
Mãos que curam feridas e prolongam a vida...
Mãos que escrevem, que prescrevem, que decidem...
Mãos que conduzem outras mãos,
transformando fragilidade em força...
Mãos que operam, mãos que esperam...
Mãos que recebem e que se dão...

Sempre e sempre essas mãos rezam
no seu trabalho de cada dia,
pois uma oração brota
do coração daquele que cumpre o seu dever
e se faz, no seu lugar de trabalho,
um ele de ligação entre o homem e o seu Deus!

(Publicado no meu livro “Cantando o amor o ano inteiro” – Paulinas, 1986)