Faz tempo que descobri Fernando de Noronha... Décadas de
presença na ilha e estudo de tudo o que se relacionasse ao arquipélago, deu-me
um conhecimento específico a respeito daquele espaço insular, em imagens de
todos os tempos e nas descobertas documentais experimentadas.
Nesses anos todos constatei como é cruel ver desaparecerem
registros significativos do patrimônio edificado, símbolo dos tempos de
ocupação definitiva pelo homem, ele mesmo responsável pelo descaso no tratar
daquilo que custou tanto sacrifício para ser erguido. As perdas foram se
acumulando. Não importa se foram recentes ou de saudosa memória. Mas, em
quantas fotos me deixei registrar ao lado de grandes ruínas, hoje completamente
desaparecidas ou fadadas a sumirem definitivamente...
Foi assim com o fantástico Sistema Fortificado - o
maior já implantado no Brasil no século XVIII - com suas dez fortificações, das
quais muito pouco permanece de pé. Foi assim com a Vila da Quixaba, segundo
núcleo habitacional da ilha, outrora pontuada de casas simples e semelhantes
entre si, sua capela singela e seu enorme alojamento de presidiários, tudo
entregue ao abandono secular, salvando-se nos dias atuais apenas três desses
prédios. Foi assim com a grandiosa Base Americana da II Guerra Mundial,
estabelecida entre a Baía Sueste e a Praia de Atalaia, para a qual um grande
desmatamento foi feito e da qual restam uns poucos antigos alojamentos e o
“fantasma” do Frigorífico Velho, que abrigava tudo que vinha suprir a presença
estrangeira cooperadora. Foi assim com
a Vila da Italcable, do começo do século XX, suntuosa e bela, deixada de
lado depois de muitas destinações, quando os italianos se foram. Foi assim com
os prédios destinados a abrigar prisioneiros e correcionais, dois deles
já sumidos do mapa de ilha e um último agonizando, desde sempre, na Vila dos
Remédios.
Algumas destruições são ainda mais distantes... Constatar
essas perdas longínquas é igualmente perceber que deixar sem cuidados qualquer
construção é condená-la a desaparecer lentamente ou abruptamente, como ocorreu
em Fernando de Noronha. O que aconteceu com a Igreja de N. Sra. do Rosário
dos Sentenciados? E a Capela de N. Sra da Conceição, dentro do Cemitério?
E o casario destinado a autoridades, na praça em frente à Igreja dos
RemédIos? E outros, e outros, e outros?
Quem pecou? Quem descuidou-se? Quem não percebeu o valor dos
monumentos que encontrou ali? Quem os considerou um dia como “obsoletos e de
difícil reconstrução”? Quem são os culpados, em cada tempo diverso da ilha?
Difícil são as respostas.
Tudo isso me ocorre agora quando acabamos de perder um
enorme casarão erguido entre 1957 e 1965, pelos americanos que atuaram na 11º
Posto de Observação de Mísseis Teleguiados, destruído por um incêndio,
recentemente.
Ali viveram, com todo o conforto, um grande grupo de
técnicos que rastreavam foguetes lançados do Cabo Canaveral, vivenciando um
Acordo entre o Brasil e os Estados Unidos. Para abrigá-los ocupou-se a área do
Boldró, com alojamentos, prédios de serviços e clube de recreação, que viria a
chamar-se mais tarde - pelos militares que herdaram essas instalações - Cassino
dos Oficiais e Clube do Pico, toda a área pertencente ao IBAMA, desde 1988, por doação federal.
Tudo agora é lembrança. O espaço onde se pensou até
implantar um CINEMA, em 2006, ardeu completamente, deixando o
vazio e a desolação, que - quem sabe - poderiam ter sidos, um dia, evitados...
Aos noronhenses e aos visitantes restam as consultas ao MEMORIAL
NORONHENSE, reinaugurado no maio próximo passado, para apreciar o que foi o
POT, um dia construído e depois deixado ao léu. É lamentável!!!
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Fotos:
01 - Clube do Pico, em 2006 - Vera Araújo
02 - Incêndio em junho de 2013 - Ana Clara Marinho -