quinta-feira, 24 de abril de 2014

SAUDADES DO MAESTRO FERNANDO BORGES...



No dia 24 de abril de 1938 nascia, no Recife, o 2º filho do português Alfredo Borges e da brasileira-paraense Adalgisa da Graça Pinto Borges, a “Dona Dadá”. Muito cedo aquele único filho homem, em meio a tantas irmães haveria de mostrar sua paixão pela Música, querendo fazer-se musicista, a começar pelo violino, no qual se iniciou aos seis anos e que seria sempre o seu mais amado instrumento.

Nem  a Licenciatura em Geografia na UFPE, nem a Pós-Graduação em Turismo na FESP (hoje, UPE) foram o bastante para o irrequieto menino... Adolescente, já se apresentava com o seu primeiro conjunto musical: o Trio Uiarapuru, junto com a irmã pianista. Adelina Borges e um colega também violinista, Luiz Marques... E seguiu diversificando sua habilidade, dominando diversos instrumentos de corda e percussão, tendo atuado como contrabaixista, guitarrista, vibrafonista e pianista em orquestras de Pernambuco, do Ceará e do Amazonas e como cantor e instrumentista, até decidir-se por criar e conduzir a sua “Banda Tropical”, deliciosa, tendo com ela excursionado pelo Brasil e pelo exterior e tocado em bailes memoráveis em sua terra.

Professor da Rede Estadual de Educação (Escola Marcelino Champagnat e Centro Interescolar Almirante Soares Dutra) e professor e coordenador no Centro de Estudos Supletivo Waldemar de Oliveira, atuou também como professor universitário na FUNESO, em surpreendentes aulas de Geografia, disciplina que tanto amava!

Carnavalesco desde a infância, fez do Carnaval do Recife a sua grande paixão, conduzindo os mais famosos bailes nos dias de folia, nos clubes sociais da cidade. Chegou a enfrentar a maratona de não deixar acabar a festa, invadindo a 4ª feira de cinzas com sua orquestra em um Clube, rivalizando-se com outras, em outros clubes, numa prova de resistência e amor ao Carnaval de sua terra. Orquestrou e apresentou séries de músicas “do ano todo”, adaptadas em ritmo de frevo, fazendo delirar plateias inteiras, que amavam a sua atuação. Sua orquestra e seu entusiasmo costumavam conduzir o Galo da Madrugada, no 1º carro, animando os milhares de admiradores daquele clube e, a partir de 1996, criou e consolidou a festa “Esperando o Galo”, na ponte Duarte Coelho, em frente à Av. Guararapes, tocando e animando a multidão postada à espera do famoso clube. Com o mesmo entusiasmo criou e consolidou a promoção “Dançando na rua”, que fez das ruas do Recife antigo um grande clube ao ar livre, onde todos podiam dançar livremente.

Com sua orquestra participou de muitos “Voos do Frevo”, levando o ritmo pernambucano ao Japão, aos Estados Unidos e a vários países da Europa, contagiando aqueles que tinham a oportunidade de ouvi-la. E o grande líder da Banda era, realmente, o maestro, que tinha o dom da oratória e o carisma de um verdadeiro líder. 

O pai de três filhos e avô de cinco netos encantou-se no dia 18 de dezembro de 1998, com apenas 60 anos. A orquestra, não...  E continuou, agora conduzida pelos filhos Fernando Guilherme e Sérgio Gustavo, chamando-se Banda Tropical Maestro Fernando Borges. Com esse nome e a maioria dos músicos que a integravam sob o comando do líder, a orquestra continua viva e firme!   

Em 2003, por iniciativa da Câmara de Vereadores do Recife, a Escola Municipal de Frevo passou a chamar-se ESCOLA MUNICIPAL DE FREVO MAESTRO FERNANDO BORGES, homenageando esse carnavalesco que marcou sua trajetória pela alegria e competência em Pernambuco.

E lembramos dele especialmente hoje, neste dia 24 de abril, data do seu aniversário!

quarta-feira, 16 de abril de 2014

PÁSCOA – TEMPO DE REDENÇÃO!



Há um tempo de refletir
sobre a coragem de um homem que,
mesmo sendo Deus,
deixou-se imolar por todos os outros homens...

Há um tempo de interiorizar esse sacrifício supremo
e acolher esse gesto, na intimidade do coração,
pela entrega, pela aceitação da dor,
 pelo amor extravasado...

E finalmente, há um tempo de cantar
a vitória sobre a morte,
 vendo-O ressuscitar para a vida,
para a história dos homens, todos, por Ele salvos...

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Esse tempo chegou. É o tempo da Páscoa!
Comemorá-la é mergulhar no mistério de Deus,
e saber-se merecedor de perdão,
de misericórdia, frutos de um amor infinito...

Que ele seja, uma vez mais,
o tempo de agradecer, de confraternizar-se,
de deixar-se envolver
pela certeza na alvorada do Cristo que ressurge...

Que ele seja profundamente vivido,
generosamente partilhado,
serenamente compreendido
pois foi Ele – o Cristo – que nos preparou essa festa!

Feliz Páscoa, para todos!

(na Páscoa de 2014)
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Foto: Grazielle Rodrigues

sábado, 12 de abril de 2014

O BOM PASTOR: 50 ANOS DE PRESENÇA POR AQUI...




Simples. Comovedora. Ecumenicamente fraterna. Assim foi a rememoração dos 50 anos da chegada de Dom Helder Camara à Arquidiocese de Olinda e Recife, neste dia 12 de abril de 2014.

Tantas recordações... Tantos depoimentos carregados de emoção e de saudade... Tantas canções católicas entoadas pelos que acorreram à Igreja de Nossa Senhora da Assunção das Fronteiras, a começar por aquela que mais se parece com o nosso Dom: “Sou Bom Pastor, ovelhas guardarei. Não tenho outro ofício e nem terei. Quantas vidas eu tiver eu lhes darei!

Singelas homenagens de amigos - a maioria com 50 anos de fidelidade no querer-bem - que viveram os conturbados tempos de 1964 e sentiram em Dom Helder uma LUZ que chegava para clarear a escuridão que nos marcava, o desânimo e o desespero de jovens idealistas, de tanta gente que enfrentou o sofrimento que duraria muito tempo, muitas décadas, muitos anos ... Tê-lo por perto era consolo e esperança!

Membros da Comissão da Verdade Dom Helder Camara (assim denominada por tudo o que o Dom significou nesses anos de chumbo) estiveram presentes junto aos religiosos de muitas denominações e aos helderianos do IDHeC, unidos em torno da data que orgulha Pernambuco. Ecumenicamente juntos, como ele sonhava, no mesmo espaço escolhido por ele para viver – a Igreja das Fronteiras – que hoje abriga o acervo e o espaço museal do MEMORIAL DOM HELDER CAMARA.   
 
Certamente, o Papa Francisco, tão parecido com o nosso santinho nas atitudes e no desassombro com que vem enfrentando o seu pontificado, há de reconhecer a santidade da sua vida e espalhar para o mundo essa certeza, como todos esperam e oram!

Viva Dom Helder Camara, para sempre
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Foto 01 - Casa-Museu, onde viveu Dom Helder, na parte posterior da Ig. das Fronteiras.
Foto 02 - Dom Helder e o Papa Francisco - tão semelhantes na vida... 

quarta-feira, 9 de abril de 2014

FERNANDO DE NORONHA - O IMAGINÁRIO DE EXÍLIO, RECLUSÃO E DEGREDO


 Durante quatro dias, alunos de História, professores, convidados e interessados vivenciaram – na Universidade Federal Rural de Pernambuco - momentos de reflexão, descobertas e emoções no evento sobre os 50 anos da golpe militar que mergulhou o Brasil no difícil período da ditadura. Claro, nomes em evidência nesse tema estiveram ali, em rodadas de discussões oportunas, esclarecimentos importantes, depoimentos comovedores e duros de ouvir...

A grande novidade ficou por conta da inclusão – pela primeira vez nesse tipo de encontro - do arquipélago de Fernando de Noronha, porque sabia-se muito pouco do envio de 34 presos para a ilha, ao longo de 1964 e 1965, confirmando essa “quase” vocação de ter sido ali um centro prisional. E aconteceu o Painel Memórias - Fernando de Noronha: o imaginário de exílio, reclusão e degredo, coordenado pela historiadora, Doutoranda Grazielle Rodrigues do Nascimento.

Para desenvolvê-lo, foram convidadas três figuras distintas do arquipélago:
  • ·         Eu própria, historiadora e coordenadora do “Programa de Resgate Documental sobre Fernando de Noronha”, apresentei as possíveis razões da escolha da ilha como refúgio para uma parte dos presos políticos de 1964; os acontecimentos ao longo dos anos 64/65, pouquíssimo divulgados fora da ilha; imagens de alguns desses presos e os livros de relatos de alguns desses, descrevendo o que fora viver duplamente ilhado: pelo oceano e pela absoluta falta de liberdade.      
  • ·         Uma antiga moradora da ilha – Dona Zefinha - que falou de como a rotina insular não foi abalada com o forte domínio dos militares do então Território Federal, sem que qualquer contato viesse a acontecer entre os presos políticos e aqueles que os rodeava. Para alguns, aqueles homens eram "papangus", que assustavam a todos com a proximidade e, os menores, “chegavam a se esconder embaixo da cama quando chegava a hora do"banho-de-sol" dos presidiários”.
  • ·         Um dos prisioneiros políticos - João Zeferino da Silva (Joca) - que emocionou a todos com histórias de um tempo distante, que deixou nele marcas definitivas, no desenrolar dos dias de cárcere, mesmo com a proibição de torturas para qualquer um deles decretada pelo Governador Jayme Augusto da Costa e Silva. Marcado por um tempo de clandestinidade, de fuga, de tentativas de voltar a trabalhar, o hoje aposentado e doente Joca parece ter sido esquecido daqueles que defendem esses presos e lhes garante os direitos a uma vida digna e justa.
Para aquele auditório lotado, na sua maioria ocupado por estudantes, o encontro foi um divisor de águas. Colocava-se sobre a mesa de discussões um até então obscuro tempo de confinamento, de reunião de gente do nordeste (Pernambuco, Paraíba, R. G. do Norte, Ceará, Bahia), afora gente de São Paulo e até do Uruguai, todos distantes do continente, exilados na ilha.

Tomara que, da avaliação final desse importante estudo, capitaneado pela UFRPE, através da Profa. Dra Marcília Gama, surja como resultado, lançar luzes sobre o sombrio tempo de prisão insular e, para aquele ex-prisioneiro, tão marcado pela história prisional ilhada, abandonado à própria adversidade, necessitado de justiça e ajuda, ainda exista esperanças!   

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Foto 01 - Joca, em 1964 
Foto 02 - antigo quartel do 30º BC, na ilha, onde ele trabalhou no calçamento.
Foto 03 - Dona Zefinha, Joca e Grazielle Rodrigues, no encontro.

domingo, 6 de abril de 2014

ANCHIETA





Nas areias da praia deixou o seu traço,

o verso, à mais amada...



Nos serões de estudo a que se obrigou,

compôs a obra capaz de aproximar

o inocente irmão-índio...



Nas vigílias de oração buscou forças

para uma catequese urgente e necessária,

numa terra que nascia para o mundo...



A fé nas coisas simples o impulsionava,

inspirando a coragem,

o poema, a ação...



Amou aquela terra como se sua fosse.

Deu-se em holocausto de amor

à causa dos mais humildes.



E a Igreja o fez Santo,

inaugurando a galeria dos santos brasileiros

de forma magnífica!



Salve, Anchieta,

Apóstolo do Brasil!

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Poema composto em 1984, incluído no meu livro “Cantando o Amor o Ano Inteiro”, 
editado pelas Paulinas, em 1986.
Quem sabe eu não me antecipei ao reconhecimento da santidade dele...

MARIETA