terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

UM HISTORIADOR INESQUECÍVEL


Entregue à fascinante tarefa de redescobrir os caminhos da história noronhense, tive a felicidade de localizar – no Rio de Janeiro - o Capitão-de-Longo-Curso e Historiador Naval, Cmt Carlos Eugênio Santos Dufriche, que se foi neste final de semana, deixando uma lacuna enorme no País...

Escoteiro do Mar entre 1942 e 1948, estudioso da história da aviação e da navegação no Brasil, membro do Conselho Superior do Incaer e de muitas outras instituições, Dufriche era um homem fascinante, pesquisador dedicado, sempre em busca de feitos aeronáuticos e navais que registrava avidamente, figura comumente procurada por cineastas, historiadores, estudantes, técnicos, jornalistas e quantos mais quisessem descobrir caminhos do passado no mar e no ar.

Um outro comandante da Marinha Mercante nos aproximou: meu primo, Álvaro José de Almeida Júnior, hoje Presidente do Centro de Capitães da Marinha Mercante. Eu iniciava minhas buscas das informações possíveis de serem localizadas sobre Fernando de Noronha e viria a ter, em Dufriche, uma inestimável fonte de esclarecimentos, tanto no encaminhamento dado por ele às pessoas e locais detentores de informações (apontando famílias com descendentes de antigos moradores da ilha, fossem na condição de prisioneiros ou gente livre, brasileiros e estrangeiros que se instalaram na ilha por diversas razões), fosse para elucidar acontecimentos, em tempos diversos, que estivessem incluídos no seu farto elenco de dados históricos... Para mim, reencontrá-lo era sempre ocasiões de esclarecimento de dúvidas, de receber fecundas orientações, fruto da atenção de um homem simples e sábio, que sabia partilhar suas descobertas com quem precisasse delas.

Ir ao Rio de Janeiro era visitar espaços novos, ainda não descobertos, revisitar locais e reencontrar pessoas que, como Dufriche, estavam sempre disponíveis para colaborar, contribuir, doar. Buscá-lo para depoimentos e entrevistas era algo corriqueiro. Há uma lista enorme - hoje disponibilizada pela Internet - de participações dele na retaguarda das realizações de caráter histórico, garantia das verdades que ele tão bem colecionava, nos arquivos oficiais que ajudou a organizar ou no seu precioso arquivo particular. 

Fernando de Noronha deve muito ao incansável Carlos Dufriche... Períodos de sua história de cinco séculos - hoje eternizada nos livros que publiquei - foram atentamente avaliados por ele, acrescidos com dados que estavam guardados no seu arquivo particular, ou em lugares até inesperados, esclarecendo, complementando e ampliando as inúmeras informações que hoje estão disponibilizadas no “Programa de Resgate Documental dobre Fernando de Noronha”, criado por mim e que é, atualmente, parte do Setor de Patrimônio Histórico da Administração insular. Tudo compõe, também, o acervo museográfico do Memorial Noronhense/Espaço Cultural Américo Vespúcio, magnífico marco cultural fernandino, alvo, nos dias de hoje, de visitação, admiração e aprendizado.  

Foi-se o homem. Ficam as marcas da sua vida fecunda e aqui, o registro da sua preciosa participação na história do arquipélago noronhense!

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

O ÚLTIMO PRESO POLÍTICO EM FERNANDO DE NORONHA





“A intimação para ir à polícia “prestar esclarecimentos” (textual no documento e informações das autoridades aos meus advogados) foi recebida às 13,25 horas do dia 20 de julho de 1967; minha prisão se deu nesse mesmo dia, a partir do momento em que, acreditando na palavra de um ministro da Justiça, compareci à polícia; meu desterro foi ordenado às 22 horas desse mesmo dia e consumado no dia seguinte, 21, às 16:49, quando deixei a Polícia do Exército para passar 10 minutos em casa, apanhar umas roupas, me despedir dos meus filhos e sair correndo numa disparada louca para o Galeão, onde tomaria o C-54 da FAB que me levaria a Fernando de Noronha...
(...) O jornalista é o melhor informante da História e os jornais são os grandes repositórios onde os Historiadores vão buscar os fatos que transformarão em verdades eternas ou fulminarão inapelavelmente (...) E com a minha crítica ou sem a minha crítica, o ex-Presidente Castelo Branco já pertence à História (...)
(...) meus artigos sobre o ex-presidente Humberto de Alencar Castelo Branco não são frios nem passionais. São lúcidos e coerentes. Foram escritos por um homem que sabe o que escreve e põe sinceridade em todas as suas atitudes. Meus artigos tinham o objetivo de constituir advertência para o futuro e não ajuste de contas com o passado.)
(...) A História é dos povos e das nações. Não se escreve com a covardia dos que se entregam mas com a bravura e a intrepidez dos que resistem” (dolorosas lembranças publicadas pelo jornalista Hélio Fernandes na obra “Recordações de um desterrado em Fernando de Noronha”...)

Um fato importante divulgado recentemente foi a liberação - pelo TST - do bloqueio na pensão de anistiado político HÉLIO FERNANDES, o último preso político em Fernando de Noronha, em 1965, durante o regime militar, instaurado no Brasil em 1964, quando foi ele foi afastado das funções de editor do jornal Tribuna da Imprensa.

Hélio Fernandes está com 94 anos. Convalescendo de doenças graves, precisa de cuidados especiais e recebia pensão mensal do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão pela cassação de seus direitos de liberdade pelo Ato Institucional 5, No mandado de segurança impetrado contra o bloqueio, seu advogado alegou que "vencimentos, subsídios, soldos, salários, remunerações, proventos de aposentadoria e pensões são impenhoráveis". E a reparação econômica é assegurada ao anistiado político.

Dados que a história guardou:

 Em 1967, Hélio Fernandes, jornalista, diretor do jornal “Tribuna da Imprensa”, do Rio de Janeiro, foi o último preso político enviado a Fernando de Noronha, como punição por haver publicado dois artigos a respeito do governo Castelo Branco, após sua morte por acidente aéreo, o que desagradou aos líderes da Revolução de 31 de Março de 1964. Isso lhe valeu o convite para “prestar esclarecimentos” e, neste mesmo dia, o seu desterro para o Arquipélago foi consumado. Distante de tudo, sem sequer companheiros de infortúnio que amenizassem sua situação, ele escreveu:

“Estou sozinho nesta terrível ilha de Fernando de Noronha, que o medo dos homens escolheu para refúgio dos que têm coragem.”

Incomunicável, alojado “num barraco”, seu tempo na ilha era preenchido diante de uma máquina de escrever, ou com livros que lia, um após outro... Sua prisão foi considerada, por unanimidade, entre civis e militares, como “a maior injustiça do governo Castelo Branco”.

Um detalhe importante: em avião particular, uma visita importante dignou-se a ir a Fernando de Noronha, visitá-lo: Carlos Lacerda, acompanhado de deputados e advogados, 18 dias após sua chegada, e nenhuma divulgação disso foi permitida. Somente o seu livro de memórias registraria o fato.

Quando Hélio Fernandes foi transferido de Fernando de Noronha para Pirassununga, “para poder trabalhar e prover o próprio sustento e o da família”, ficou claro que ele “não poderia mais escrever e publicar artigos, nem mesmo sob pseudônimo, em lugar nenhum”. Era a censura claramente exercida, naquele conturbado tempo.

OBS: informações registradas na obra "Fernando de Noronha - Cinco Séculos de História".


sábado, 7 de fevereiro de 2015

106 ANOS SE PASSARAM...


 
Lembramos aqui o Padre, o Bispo, o Poeta, o desbravador,
o sonhador e idealizador de um mundo justo e fraterno...

Lembramos o homem à frente do seu tempo,
capaz de iniciativas ousadas e necessárias,
enfrentando – por isso – a incompreensão, 
  apesar de ser tão forte na luta...

Lembramos, saudosos e esperançosos,  
o Dom,
na sua singeleza e coragem,
sempre aberto ao novo ...

Lembramos DOM HELDER CAMARA,
nos 106 anos de sua chegada ao mundo,
fazendo-o melhor e mais digno!!!

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Fotos: 
Dom, na paz e na alegria...
A sala de sua casa. Sua rede de cearense... 

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

DEPOIMENTO VERDADEIRO


Hoje é o dia da “alforria mamulengueira”, com o retorno do extraordinário bonequeiro, produtor cultural, ator, aderecista e de tantas outros talentos e preparos ao MUSEU DO MAMULENGO: Fernando Augusto Gonçalves, seu criador e criatura, defensor e guerreiro da arte milenar do boneco! Razão de festa, de alegria, de esperança na continuidade de um espaço nascido do sonho e da entrega!!!
 
Hoje é o dia de aplaudir, acolher, afagar, agradecer sempre pela sobrevida de uma manifestação cultural extraordinária, que encontrou guarida no coração desse homem tão especial, capaz de percorrer os caminhos desconexos que o levavam ao títere, ao homem do povo, aos sons, cantigas e loas do MAMULENGO, trazendo-o ao reconhecimento popular e político, capaz de imaginá-lo e concretizá-lo como peça de museu, permitindo-lhe a perenidade merecida!        

Foram anos e anos de busca, de investigação, de valorização, de doação de vida, para que tudo fosse se encaixando, atraindo outros sonhadores, pessoas que acreditaram e ajudaram, no tempo certo.

E aí está o MUSEU DO MAMULENGO DE OLINDA, tão verdadeiro como tantos o imaginaram, tão forte como se mostrou desde o seu nascedouro,  em décadas passadas. O espaço povoado de figuras surreais, deslumbrantes, contagiantes na sua pureza e composição, recebendo de volta um dos seus mais ferrenhos defensores, que carrega consigo a lembrança do magistral Professor Tiridá, tantas vezes transmudado no talento do bonequeiro Nilson de Moura, parceiro dessa aventura bonequeira salvadora, amigo-irmão deste que volta a esta Casa que, por direito, representa!     

Bem vindo, Fernando Augusto!!! Todos os apaixonados por este museu-símbolo acolhem você de mãos estendidas e coração agradecido aos Prefeitos que – reconhecendo-lhe o mérito e o saber – permitiram que – em momentos eqüidistantes no tempo  -  esse espaço existisse: Germano Coelho (no seu nascedouro) e Renildo Calheiros, nos dias de agora.

Bem-vindo,  MUSEU DO MAMULENGO!  

Há de imaginar as maravilhas que ainda estão por vir, pelo talento e categoria do Diretor que para cá retorna!!! Saudades de quando tudo começou, estando eu à frente da Secretaria de Patrimônio, Cultura e Turismo de Olinda e sendo, por isso, uma das fundadoras do MUSEU DO MAMULENGO! 

Quanto orgulho sinto por isso!!!