domingo, 30 de outubro de 2016

E OS PRESOS COMUNS FORAM EMBORA DA ILHA, EM 1938





Durante dois séculos Fernando de Noronha foi um presídio comum, reunindo gente condenada a longas penas por infrações as mais diversas. Toda uma estrutura tinha sido erguida para abrigar e fazer trabalhar os prisioneiros e, ao mesmo tempo, dar condições dignas de moradia aos que viveram como funcionários nos serviços fundamentais. Lá estavam os prédios de grande porte que serviriam como o Alojamento de Presidiários (na Vila da Quixaba), a Aldeia dos Sentenciados/ Presídio Feminino e as Oficinas (na Vila dos Remédios), as choupanas para presos que traziam as famílias para o seu degredo e tudo o mais que viria a compor os serviços necessários, como a Enfermaria, as moradias para diretores e demais abrigos.

Em 26 de janeiro de 1938, começou a preparação para transformar-se a ilha num local de abrigo para presos políticos, em substituição aos presos comuns. A ilha foi “Requisitada pelo Governo Federal”, com a sessão “a título precário” do arquipélago à União. E no artigo 1º do Decreto nº 47, de 26/01/1938, dizia-se: “Fica à disposição do Governo Federal, a titulo precário, a Ilha de Fernando de Noronha.

O ato foi conseqüência das dificuldades daquele período da história republicana (compreendido entre 1937 e 1945), e instaurou uma Ditadura em 10 de novembro de 1937, momento político conhecido como Estado Novo. Em julho de 1938 a Ilha estava em condições de ser definitivamente entregue, deixando de ser pernambucana, para abrigar presos políticos de muitos Estados do Brasil..

Nem todos os presos comuns e demais moradores foram transferidos. Ficaram ali ilha funcionários administrativos e 265 detentos, necessários aos trabalhos de conservação dos prédios, estradas, lavouras e gado. O último grupo desses detentos saiu da ilha em outubro de 1938 para Pernambuco e/ou para a Ilha Grande, no Rio de Janeiro, extinguindo-se a memória prisional que durara 201 anos entre 1737 e 1938. De todo esse tempo resta muito pouco das sólidas construções que abrigara esses presos... Não houve, infelizmente, interesse em manter viva a memória construtiva do que foi o Presídio Comum fernandino, que tem hoje sua história recontada apenas através das inúmeras imagens resgatadas de um tempo de sofrimento e exclusão, ao invés de retomar-se o tempo que passou em um espaço museal que traga esse tempo aos nossos dias, como se fez em tantos lugares, à exemplo de Ushuia, na Patagónia, que fez do sem tempo de degredo uma curiosidade turística visitadíssima. Pena!  


Foto: Presos respondendo a chamada diante da Aldeia dos Sentenciados. Acervo Genaro Pinheiro.  

terça-feira, 18 de outubro de 2016

AOS MÉDICOS, NO SEU DIA!




O que te move, doutor?

É tão difícil ser compreendido, não é,

embora saibas ser fundamental para todos

ter-te por perto, na hora da dor ou da perda,

quando quase adivinhamos a inquietação da tua alma

e isso se torna quase aparente, se tudo não der certo...



O que te move, doutor?

Não és um deus! Mas é assim que muitos te olham,

quando o inexplicável assume teu mundo de certezas

e tu anseias tão somente acertar, melhorar, curar se possível,

na luta pela continuidade da vida

e pela paz dos inquietos que te rodeiam ansiosos...



Não é fácil ser médico, não?

Mas foi isso que o teu coração definiu

como prioridade de vida e de sonhos

e te fez buscar o saber acadêmico

que confirmaria a vocação latente

transformando-te naquilo que se tornou uma verdade.



Por isso, mereces hoje

as homenagens daqueles que te encontraram na vida

sobretudo os que estiveram ameaçados nela

e agarraram-se a ti, confiantes e esperançosos,

mesmo com toda a insegurança

e o medo das surpresas que chegam, sem aviso...



Parabéns, doutor!!!

E o nosso coração do paciente que fomos um dia

Exulta de alegria,

por poder dizer: PARABÉNS, Doutor,

pelo DIA DO MÉDICO!

E que, por isso, Deus te abençoe, sempre, sempre, sempre!!!

segunda-feira, 17 de outubro de 2016

1629 - OS HOLANDESES CHEGAM EM FERNANDO DE NORONHA

 
No século XVII, durante 25 anos os holandeses viveram em Fernando de Noronha, muito antes de se estabelecerem no continente, em Pernambuco.
Tudo os se deu a partir de outubro de Outubro de 1629. Eles chegaram nos navios Otter e Hamick, comandados pot Cornelie Corneliszon Jol, apelidado de “o Perna de Pau”. Rechaçados pela flotilha do Capitão Ruy Calaza Borges, a mando do Governador de Pernambuco, Matias de Albuquerque, foram desembarcar na Baía Sueste, no “mar-de-fora“. Atravessaram a ilha a pé, até a Baía de Santo Antônio, onde encontraram uma embarcação fundeada, e uma outra, numa praia próxima, fazendo a “aguada” (retirada de água doce), provavelmente na região do Boldró. Afundaram os navios, capturaram, mataram e/ou aprisionaram brancos e negros, “exceto aqueles que fugiram e se esconderam nos rochedos”, continuando a viver na ilha.
O que fizeram eles nesse longo tempo de permanência? Como viveram? Como o Brasil pode ignorar essa presença estrangeira a ponto de apenas contabilizar a permanência holandesa no Pernambuco continental e seus arredores? Claro que, para viver na ilha, eles precisaram fazer desmatamento, construírem um reduto, no mesmo lugar onde hoje a Fortaleza dos Remédios, erguerem casas e uma Congregação Calvinista, introduziram animais e plantas na ilha e, com isso, modificaram aos poucos o ambiente insular. E, a partir de 1631, tiveram um arrendatário, indicado pela Holanda: Michiel de Pavw, o que fez com  que o nome de Ilha ocupada passasse a ser PAVÔNIA, (latinização do sobrenome PAVW).    
A história oficial considera que a invasão holandesa terminou aí e só seria retomada em 1635... Sabe-se, no entanto, que a permanência escondida dos invasores, manteve os holandeses na ilha tendo, inclusive, o mesmo Governador da Capitania de Pernambuco solicitado auxílio de Portugal para expulsá-los definitivamente. Não conseguindo isso, os registros que restaram falam de um mercenário alemão (Ambrósio Richshoffer), que foi a Fernando de Noronha, no Iate Bruin Visch, levando negros para ajudar as tropas holandesas que estavam construindo o acampamento e que já possuíam dois canhões e um pequeno reduto, em forma de estrela, com doze ângulos, 45m acima do nível do mar. E já era comum, àquela altura, o envio para lá de soldados e de escravos doentes - sobretudo atacados de escorbuto - para serem tratados, considerando o clima excepcional do arquipélago.
Foram 25 anos de permanência, de experimentos agrícolas, de arrendamento, de construção de monumentos (especialmente o reduto no morro onde hoje se situa a Fortaleza dos Remédios). Foram registros cartográficos e artísticos da maior importância.  Os holandeses chegaram a ter, na ilha, um entreposto com balcão de comércio (armazém), residências, hortas (os “Jardins Elizabeth, do alto da Quixaba e nas proximidades da principal área ocupada para moradia – hoje Vila dos Remédios).
E as evidências de tudo isso está nas imagens que puderam ser resgatadas, concretizando uma presença valiosa.
 
Ilustrações:
  • Carta náutica do Atlântico”, do cartógrafo holandês Harmen Jansz, mostrando a Baía de Sto. Antônio com galeões fundeados.
  • Arrendatário holandês Michiel de Pavw , em 1631.