sexta-feira, 11 de julho de 2008

assim falou o profeta

  • “Ninguém se escandalize quando me vir freqüentando criaturas tidas como indignas e pecadoras. Quem não é pecador? Quem pode jogar a primeira pedra? Ninguém se espante me vendo com criaturas tidas como envolventes e perigosas, da esquerda ou da direita, da situação ou da oposição, anti-reformistas ou reformistas. Anti-revolucionárias ou revolucionárias, tidas como de boa ou má fé. Ninguém pretenda prender-me a um grupo, ligar-me a um partido, tendo como amigos os seus amigos e querendo que eu adote as suas inimizades. Minha porta e meu coração estarão abertos a todos, absolutamente a todos. Cristo morreu por todos os homens: a ninguém devo excluir do diálogo fraterno”.

    (Discurso de posse na Arquidiocese de Olinda e Recife, em 12/04/1964)

Assim falou o profeta do século XX: palavras fortes, quando necessário; palavras de uma suavidade fascinante, quando era preciso. E ele falou de tantas modos, com tantas variedade de formas, que o seu legado ficou, depois que ele se foi, como uma verdadeira e única maneira de evangelizar. Porque ele falou, sempre, com o coração. Falou nas homilias nos púlpitos das igrejas. Falou nos inesquecíveis sermões em procissões pelas ruas do Recife e de Olinda. Falou pelas ondas da Rádio Olinda, em meditações surpreendentes. Falou em ocasiões oficiais, na igreja ou em cerimônias civis, em discursos contundentes. Falou através de pensamentos cheios de emoção e singularidade. Falou em poesias cheias de ternura. E falou até através da música, na Sinfonia que criou, em parceria com o maestro Kaelin. Suas falas foram sempre marcadas pela absoluta ausência de rancor, de ódio, de vingança... Sempre, foi o perdão e o esquecimento de qualquer ofensa, que marcou tudo o que dizia...

Aclamado por poderosos e por gente do povo, foi a voz daqueles que não podiam falar; a defesa dos perseguidos; o exemplo para os que queriam viver o Evangelho; o modelo de santidade e de fecundo viver. Tudo isso ele continua a ser, naquilo que nos deixou. Sua voz foi tão forte e verdadeira que foi ouvida por católicos e não católicos e ultrapassou as fronteiras da sua Arquidiocese, do seu País e o tornou o profeta do terceiro mundo, o maior profeta do século XX.

À semelhança de todos os outros profetas que o antecederam, ele também clamou contra o pecado histórico da injustiça e a opressão, que impedem a paz, na convivência entre os homens. Onde ia ele buscar inspiração para falar de forma tão coerente e bela? De onde reunia ele a força da palavra exata? Sabemos nós todos que suas vigílias pelas madrugadas eram o seu tempo de rezar, de prostrar-se diante do sacrário, e de escrever, escrever, escrever... Quando a alvorada de cada dia o encontrava, já estava ele revigorado, sem cansaço algum, pronto para celebrar a sua missa, fazer sua frugal refeição e iniciar o seu dia, tendo cumprido o exercício a que se obrigava – como um fardo suave – fixada na produção que crescia. Era ele, sempre, aquele que carregava a Palavra de Deus e a fazia sua, para propagá-la aos outros. Suas falas, em todos os momentos, era iluminada pela Palavra de Deus!

Este foi Dom Helder Camara, que reverencio como um “santo”, ainda não elevado à honra dos altares mas, com todo o direito de quem viveu santamente, um santo no coração do povo, que a ele recorre, cheios de esperança e de fé. Um dia, isso será verdade, com certeza!

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