Respondendo à leitora Maria do Carmo, eis as informações sobre "quem foi fernando de Noronha"
***************************
FERNÃO DE LORONHA
Donatário da ilha que recebeu seu nome
(Texto do livro "FERNANDO DE NORONHA - CINCO SÉCULOS DE HISTÓRIA", de Marieta Borges LIns e Silva - 2007)
INTRODUÇÃO:
Cristãos-novos eram judeus convertidos ao cristianismo por força de decretos reais, assinados em Portugal a partir de 1497. Popularmente, eram mencionados como “conversos”, “batizados em pé”, “gente nação”, entre outras denominações. Em geral, esses convertidos eram ricos mercadores lusitanos e foi com um grupo assim, abastado, que o Rei Dom Manoel - sem recursos para investir na nova terra -, assinou um “contrato de arrendamento” do Brasil, determinando as condições para a exploração comercial do vasto território que havia sido descoberto. Um nome se destacava dentre esses: Fernão (ou Fernan) de Loronha. Pelo contrato, a sociedade deveria financiar o envio de seis navios a cada ano, para percorrerem 300 léguas (ou 1.800 Km) e deixar uma fortaleza nos lugares onde chegassem, mantendo-a durante três anos. Deveriam trazer pau-brasil, escravos e “alguma coisa de proveito” que encontrassem, além de pagar uma parte ao Rei.
Quem era esse judeu convertido, riquíssimo, que seria imortalizado na denominação
de uma terra onde ele jamais esteve???
FERNÃO (ou FERNAN) DE LORONHA era descendente de uma família ilustre, da Lotheringen, na Inglaterra, fronteira com a Escócia, que mudou-se para a região de Astúrias, na Espanha, de onde passou para Portugal, no final do século XV. Nasceu, provavelmente, entre 1470 e 1475, filho de Martin Afonso de Loronha. Existem referências documentais a ele, como a de ser feito cidadão de Lisboa, em 1498, com “todas as graças, privilégios, honras, liberdades e franquezas que gozam todos os cidadãos da cidade”.
Depois que Portugal descobriu o caminho marítimo para as Índias, Loronha tornou-se um dos principais negociantes de pimenta-malagueta em Portugal, tornando-se também armador e enviando naus para explorar o oceano. Foi ele - como membro mais importante da sociedade à qual o Brasil fora arrendado -, que financiou a expedição de 1503 e nela, tendo sido descoberta uma ilha (chamada por Vespúcio de São Lourenço, por ser este o dia dedicado ao santo mártir) recebeu-a como Capitania Hereditária, em 16 de janeiro de 1504, tornando-se o 1º donatário em terras do Brasil. Jamais veio tomar posse de sua propriedade, embora o território continuasse pertencendo aos seus descendentes, que sempre reivindicaram a transferência dele. Na Carta de Doação da Capitania ela é chamada, pelo Rei, de “San Juan” e localizada “a cinqüenta leguas alla mar da nossa terra de Santa Cruz que lhe temos arrendado”. Essa doação foi ampliada em 23 de janeiro, aumentando-se os privilégios e estendido seus direito a todos os descendentes. E em 1522, por Carta Régio, confirma-se a doação da ilha a Fernão de Loronha e seus descendentes.
Em 28 de junho de 1524, Dom João II, sucessor de Dom Manoel, o fez “fidalgo de cota d’armas” e deu-lhe um brasão especial, mais requintado do que o brasão inglês concedido à sua família. Nesse brasão, talvez guardando a origem inglesa de Loronha, aparece a imagem da rosa (que constava do brasão inglês). Em 23 de setembro de 1532 seria a ela atribuído o brasão d’armas especial, definitivo, como hoje conhecemos (foto).
Loronha também se associou a uma importante família alemã, das mais ricas da Europa, sendo seu representante em Portugal, o que aumentou-se a fortuna. Para a maioria dos historiadores, um homem poderoso e rico como ele não iria se expor aos perigos do mar e às dificuldades de viagens oceânicas... Cabia-lhe usar o dinheiro para contratar os melhores navegadores, para suas empreitadas. O contrato de arrendamento durou 1505, sendo renovado por mais três anos. Ele continuou a atuar no comércio e esporadicamente mencionado em seus negócios pelo mar.
Em 1559, El-Rei, Dom Sebastião, confirma a doação da capitania a Diogo de Loronha, neto de Fernando de Loronha, conforme a doação que tinha sido feita pelo Rei Dom Manoel ao seu avô, o que leva a crer que Fernão de Loronha já teria morrido.
Mesmo controvertido, nas ações que desenvolveu em Portugal, FERNAO DE LORONHA é o personagem que a história imortalizou, na permanência do seu nome na capitania hereditária que recebeu e onde jamais esteve. O tempo e os diferentes registros do seu nome, em mapas e escritos, alteraram-lhe a grafia... O nome FERNANDO, de agora, já foi escrito como Farnand, Ferdinand, Ferdonando, Fernan, Fernão, Fernandez, Firnan... e NORONHA foi Delon, Lazono, Lorena, Lorenha, Loroña, Loronha, Lorono, de la Rogne... Hoje, a história o reconhece, simplesmente, como FERNANDO DE NORONHA.
Um comentário:
muito interessante!!
obrigada pela resposta
Postar um comentário