15 DE NOVEMBRO DE 2010
INAUGURADA A ESTAÇÃO RADIOTELEGRÁFICA DA
MARINHA
Localizada Planalto da Quixaba (ou da Sambaquixaba), em Fernando de Noronha,
foi inaugurada - em 15 de novembro de
2010 - a ESTAÇÃO RADIOTELEGRÁFICA DA
MARINHA, considerada, na época, a mais importante e de maior alcance do
Brasil, sob a responsabilidade da Divisão Naval do Norte.
Na sua construção foi usada a mão de
obra carcerária e recursos federais para ser erguida, só ficaria completamente
pronta em 1911, com torres metálicas de 75m de altura, funcionando com um
efetivo de dez radiolegrafistas, cinco suboficiais de máquinas, um carpinteiro
e alguns prisioneiros habilidosos, contratados como empregados. Oferecendo
serviços contínuos, graças ao revezamento de turmas, essa estação pioneira
prestou serviços até nas transmissões do período da 1ª Guerra Mundial.
Também seria de grande valia em 1922,
mantendo comunicação à distância com a Ilha terceira, em Portugal, durante a
travessia de Ggo Coutinho e Sacadura Cabral, na famosa “1ª travessia aérea do
Atlântico Sul, na costa norte do Brasil.
Seu primeiro diretor foi Manoel da Silva Pereira, Suboficial
Telegrafista e ao registrar aqui esse pioneirismo de Fernando de Noronha, anexo
um emocionante texto de um neto daquele desbravador (Luiz Sérgio Vaz Pereira), que saiu em busca dos relatos que ouviu,
pela vida afora, a respeito do difícil e valioso tempo de implantação da
comunicação num lugar tão distante. São as suas doces recordações,e as fotos
desse tempo, por ele chamadas de “Lembranças
particulares de Noronha“
LEMBRANÇAS
PARTICULARES DE NORONHA
Na
verdade, a minha ligação afetiva com “A Ilha” começou há quase vinte anos antes
do meu nascimento em 1946.O fato gerador aconteceu por determinação do
Estado-Maior da Armada, Marinha do Brasil, designando meu avô paterno, Manoel
da Silva Pereira, Suboficial Telegrafista, para exercer as funções de
Encarregado da Estação Radiotelegráfica da Marinha na Ilha de Fernando de
Noronha, a partir da data de 20 de maio de 1927. E, assim, partiu ele e sua
família, formada por minha avó, meu pai então com 5 anos de idade e minha tia,
Neusa, contando três anos de nascida.

Logo
na chegada, por não haver ainda um porto formal na Ilha, as pessoas que lá
iriam desembarcar eram transbordadas para embarcações menores e foi justamente
aí que uma quase tragédia aconteceu. No momento do transbordo, minha avó ao se
desequilibrar deixou a tia Neusa cair de seu colo, mergulhando nas águas claras
do porto de Santo Antônio. Ato contínuo e até antes que o pânico se instalasse
na família, um Oficial da Marinha, Tenente Ponciano, mergulhou salvando minha
tia do afogamento. Esse Oficial, sempre lembrado como nosso herói, tornou-se um
grande amigo do meu avô.
Graças
a pronta ação e a demonstração de amor ao próximo daquele militar, minha tia,
mostrada na foto ao lado, pode aumentar em mais um o
número
de habitantes temporários do Arquipélago, conhecendo as maravilhas de Noronha,
enquanto residia, por dois anos, no platô da Quixaba.
Foi
lá que a Estação Rádio foi erigida, em 1910. Durante visita feita por mim ao
local, em 2010, um século depois, pude ver a Capela de Nossa senhora da
Conceição, uma das residências da Vila
que restou de pé e duas bases de pedra ainda existentes na margem da
BR-363e que marcam o caminho de entrada para a Quixaba. Segundo informação de
um habitante da Ilha, os dois blocos seriam as bases das antenas de
recepção/transmissão da Estação.
Na foto abaixo, podemos ver a Estação Rádio dois anos depois
do desembarque da minha família
N.A.: A foto obtida no livro “ A Ilha Maldita” do jornalista Amorim Netto
(edição de 1930)
Outras
lembranças me foram transmitidas, como, por exemplo, a auxiliar de cozinha de
minha avó ter sido uma das detentas do Presídio, condenada por ter executado o
marido infiel, no interior do Estado de Pernambuco, à golpes de machado! E
cortava bifes na cozinha da vovó!
Ou
ainda, a existência de outro prisioneiro, o “Mata-Velha”, alcunha recebida por
ter assassinado uma idosa com um murro na cabeça, empregado como ajudante da
Estação Rádio.De comportamento extravagante, escalava o mastro da antena, com
cerca de 75 metros de altura, e lá permanecia por dias sem comer, sentado em
uma base de apoio. Dessa forma, meditava quando se considerava muito aborrecido
ou injustiçado.
A foto do “Mata-Velha” abaixo foi obtida no livro “ A Ilha Maldita” do jornalista Amorim Netto
(edição de 1930).