sexta-feira, 30 de julho de 2010

EM FAVOR DO PATRIMÔNIO CULTURAL DE FERNANDO DE NORONHA


O propalado "abandono do patrimônio cultural" de Fernando de Noronha ocorreu, efetivamente, a partir de 1938, quando se deu a entrega do Arquipélago à União. Foram mais de cinquenta anos de pouquíssimas intervenções nesse acervo construído, pelos que ali detiveram o poder... Os registros em alguns Relatórios de Governo, encaminhados à Presidência da República, mencionam os monumentos restantes como "de construção obsoleta, por isso mesmo a serem deixados assim, pela difícil reconstrução." Até então, os monumentos civis e religiosos estavam bem conservados, como se constata no "Relatório sobre o Presídio de Fernando de Noronha", de 11/08/1938, apresentado pelo 1º Tenente Victorio Caneppa, quando da entrega da Ilha ao Governo Federal.

Coube novamente a Pernambuco - a partir de 1988 - a tarefa de receber e resgatar esses bens materiais, tentando fa zer retonar cada um às condições mínimas que tinha, quando todos foram entregues. Coube-lhe também desenvolver programas de Educação Ambiental e Educação Patrimonial junto aos jovens, mostrando-lhes - em documentos, iconografia e localização espacial pela Arqueologia - as características das diferentes épocas, gerando a apropriação de um conhecimento que timidamente vem se esboçando.

A criação, em 1998, do MEMORIAL NORONHENSE - Espaço Culural Américo Vespúcio, foi fundamental para essa "descoberta". Um lugar apropriado, reunindo informações, inclusive sobre o "Patrimônio Imaterial", tão importante quanto aquele edificado, aberto ao público local e aos muitos visitantes, foi fundamental para a fixação de acontecimentos, a maioria dos quais até eñtão desconhecidos do mundo... Ali, os documentos escritos identificados, os livros publicados, os registros dos tempos prisionais, os dados resgatados sobre acontecimentos do passado, foram disponibilizados em circuito museográfico simples, para a descoberta e a interpretação dos fatos ocorridos e sua influência e relações com a História do Brasil.

Aos poucos, nesses 22 anos de retomada pernambucana, ações vem sendo pensadas e executadas para minimizar as "feridas abertas" em tudo o que ainda resta. Tendo instuições sérias como parceiras, tanto a nível oficial, como privado, foram pedidos - por exemplo - o tombamento dos dois núcleos históricos remanescentes da definitiva ocupação da ilha em 1737 (Vila dos Remédios e Vila da Quixaba) e dos sistemas defensivos implantados no Arquipélago (as dez fortificações do século XVIII e as evidências das baterias da II Guerra, do século XX).

A Vila dos Remédios, pela sua importância, foi alvo de pequenas e significativas intervenções, com a pintura de suas casas e monumentos e a iluminação especial de algumas construções, melhorando seu aspecto como um todo, incluindo-se igualmente as construçoes pre-moldadas, características da ocupação militar, a partir de 1942. E outras ações caminham para acontecer, com a inclusão de Fernando de Noronha no programa "PAC das Cidades Históricas", pela primeira vez contemplando aquele espaço insular como merecedor de ser assim tratado.

Na antiga Vila da Quixaba restaurou-se a pequenina Capela de N.Sª da Conceição ou das Graças, permitindo que fosse retomada a compreensão sobre o 2º núcleo urbano da ilha, criado ainda no século XVIII. E se vem fazendo o tratamento do entorno dela, identificando os arruinamentos da antiga Vila, o antigo Alojamento para presos e aquilo que a II Guerra precisou erguer nas imediações, como parte da defesa bélica, no século XX.

Para a Fortaleza dos Remédios, único forte tombado pelo IPHAN desde 1961, dentre os dez que compunham "o maior sistema de defesa do século XVIII", foram pensadas obras emergenciais, que o mantenham sólido e apresentável, para estudo de especialistas interessados e a visitação turística constante.

Outras iniciativas estão surgindo, no afã de salvaguardar-se esse patrimônio que se fez com a mão-de-obra prisioneira, que atravessou os tempos e chegou aos dias de agora, como uma herança dos "rastros" deixados por todos aqueles que nos antecederam.

Livros e Teses sobre o Arquipélago vão sendo publicados, apresentando enfoques diferentes de um mesmo lugar, registrando o saber que se constrói a cada dia, pelas pesquisas in loco e a procura nas fontes que vão sendo disponibilizadas.

Ainda bem que isso vem se tornando possível e que os muitos recursos de registro permitem que as informações se multipliquem.... Ainda bem que Fernando de Noronha atrai, cada vez mais, um elenco de pesquisadores, em busca de explicar suas característica sócio-ambientais, seu patrimônio material e imaterial, as vantagens e conseqüências do ecoturismo praticado, entre outros aspectos. E os jovens de agora são privilegiados ao receberem - em aulas práticas e teóricas - esse saber, essas conquistas, essas verdades!

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