terça-feira, 24 de agosto de 2010

LEMBRANDO UMA FIGURA INESQUECÍVEL DE FERNANDO DE NORONHA


Dentre as muitas tentativas de fazer-se reforna agrária no Brasil, algumas tiveram Fernando de Noronha como cenário. Em uma dessas experiências, feita em 1935, foi morar na ilha o agricultor potiguar João Pedro da Silva, logo apelidado de "João Barrão", trabalhador de grandes méritos mas que teve a infelicidade de perder as duas pernas no espaço de um ano, vitimado pela gangrena. Quase que lhe era negado o direito de voltar à ilha, por ser considerado inútil para a tarefa esperada...

Ele insistiu. Acabou por receber a autorização de retorno e, a partir daí, o que se viu foi uma maravilhosa prova de superação, da capacidade do ser humano de fazer aquilo que mais sabia: tratar a terra e dela tirar o seu sustento e da filharada oriunda de vários casamentos e até de adoções que assumiu, pela vida.

E ele que, quando jovem, era insuperável nas danças, namorador, trepador de coqueiro, uma vez infelicitado limitou-se a cuidar da terra, improvisando uma forma incrível de equillibrar-se sobre dois tamboretes, para arar ao redor desse apoio e fazer brotar o milho para a festa junina e tantos produtos, sempre de qualidade superior a qualquer outro, no Arquipélago. E saía, pelas estradas, numa charrete ganha em 1987, para distribuí-los...

Um agricultor tão diferente, querido por todos na ilha, viveu 82 anos de trabalho, de coragem e persistência, deixando um legado de coragem e determinação que permanece.

E ele é lembrado agora por uma razão especial... Um dos filhos que adotou, Renê Jerônimo, largou-se de Fernando de Noronha para o Rio de Janeiro, para participar da Meia Maratona ocorrida em 22 de agosto passado, como representante do Arquipélago onde vive e lá contou sua história aos corredores de muitos lugares do Brasil, orgulhoso daquele pai-adotivo que amou tanto e que deixou-se ficar, na história de vida que construiu acima dos seus próprios limites.

Que saudade de João Barrão nós temos, Renê!!!
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Fotos:
acima: João Barrão, trabalhando na terra, em Fernando de Noronha (acervo ADEFN);
abaixo: Renê, no Rio de Janeiro, em 22//08/10 (foto: Gilmar Farias)

Um comentário:

holandaa disse...

Valeu campeã !!! Que bom Marieta você falando do pedestrianismo.
Divulgando duas grandes lendas.
Valeu GIGI , que bom te ver com o baixinho de Noronha, o cabra corre demais.
Abraço

LULA HOLANDA