terça-feira, 5 de outubro de 2010

LEVANDO O DOM NO CORAÇÃO...


Um encontro especial, em Lisboa/ Portugal, reuniu, naquela cidade querida, escritores "lusófonos", ávidos todos pela partilha e a sintonia com gente de muitos lugares onde se fala o português. Era o VII CONGRESSO DA UMEAL, para o qual acorreram escritores e artistas do Brasil, de Cabo Verde, de São Tomé e Príncipe, de Moçambique, da Cidade da Praia e de lugares diversos de Portugal.

Todos nós sabíamos que teríamos oportunidades de expressão, em poesia ou prosa, nas muitas sessões programadas para esse fim. E eu, fiel ao meu compromisso "helderiano", enviei o meu poema UMA VIDA ILUMINADA, para lê-lo quando escalada para isso, carregando toda a minha emoção em imaginar-me assim fazendo.

O local foi o Restaurante Martinho da Arcada, na Praça do Comércio, centro de Lisboa, um dos locais preferidos do imortal poeta Fernando Pessoa... Após o jantar fraternamente participado, cada poeta se fez porta-voz do seu próprio saber, declamando versos carregados de beleza e diversidade.

Para ilustrar o meu momento de poesia em louvor a Dom Helder Camara, carreguei comigo inúmeras imagens daquele Profeta brasileiro, esperando ilustrar minha fala com fotos que concretizassem o que o poema dizia, mostrando-o menino, jovem seminarista, padre, bispo, unido a tanta gente com quem se relacionou, pela vida... Mas o local não o permitia... Não havia onde projetar as cenas trazidas...

Então, erguendo-me para falar, contei da minha intenção em trazê-lo aos intelectuais que falam portugues pelo mundo afora e que já o conheciam pela trajetória de vida... Na impossibilidade da fazê-lo, abri o casaco que me abrigava do frio e afirmei: "eu o trouxe comigo no coração!", deixando que vissem, na camisa que vestia, seu rosto sereno e a expressão "O DOM DA VIDA". Os aplausos que se seguiram foram um estímulo a mais. E eu comecei.

O longo texto falava do "menino mirradinho', que "tinha tudo para não dá certo", nascido no pobre e esquecido nordeste do Brasil. Falava da sua caminhada, do seu aprendizado enquanto crescia e envelhecia, do silêncio obrigatório que lhe foi imposto num tempo doloroso de golpe militar no País... E da sua caminhada pelo mundo afora, acolhido por gente importante em todos os setores (inclusive eclesiásticos) e por pobres, sofredores, excluídos, novos e velhos, todos fascinados pelo seu carisma e seu jeito próprio de ser. Poucas vezes vivi emoção maior!

Ali estava eu, também brasileira e nordestina, fiel ao ideário daquele anjo de asas camufladas, dando-o - em palavras e emoção - aos tantos que comigo experimentavam a alegria do Congresso. E isso só foi possível porque eu o levava impresso no meu coração! Como sempre. Como antes. Como ele merecia estar!

Dom Helder, meu querido: sua "vida iluminada" serviu como exemplo para os patrícios e os irmãos no idioma de Camões e de Fernando Pessoa, e me fez muito feliz!

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