quinta-feira, 4 de novembro de 2010

A "TUNINHA" DE QUE FALAVAM OS PRESOS EM NORONHA...


Muitos homens, cumprindo pena em Fernando de Noronha, ao tempo em que ali existia apenas um centro prisional para presos comuns (ladrões, assassinos, contrabandistas e moedeiros falsos, condenados a longos degredos), referiam-se ao meio ambiente em que viviam, sem demonstrar entusiasmo com a beleza que os rodeava.


Claro, há de se imaginar que, sem ter liberdade, nada parecia belo àqueles infelizes, obrigados a duros regimes de trabalho diário, fosse na agricultura, nas jornadas de pesca, na criaçao de animais para corte ou leite, no serviço doméstico em casas de seus algozes ou em outra qualquer forma de preenchimento de um tempo tão grande, em condições bastantes adversas.
Extinto em 1938, o Presídio Comum fernandino deixou um rastro de sofrimento, de submissão, de exaustão pelas longas jornadas de trabalho a cada dia, sendo-lhes impossível identificar, na pródiga natureza, aquilo que hoje atrai gente de todos os lugares do mundo.


Perguntados a esses "se, em algum tempo, lembram-se de terem se deliciado vendo GOLFINHOS na ilha", a resposta era sempre "NÃO"... Parecia absurdo essa negativa, quando até os franceses, apoderando-se da ilha no século XVIII (entre 1734 e 1736), chamaram-na "Ille Delphine", numa clara alusão aos golfinhos em suas águas.


Dois desses presos identificados, no entanto, deram uma resposta que pareceu-nos entender porque não era o "golfinho" que eles não viam mas, na sua praticidade de vida, ambos, em momentos diferentes, devolveram a pergunta, para saber "se era das TUNINHAS que estávamos falando, animais que saltavam fora dágua e NÃO SERVIAM PARA COMER, por isso não eram "pescados" e, assim, completamente ignorados.


Essa constatação me ocorre agora, ao descobrir, num comentário da mídia, um texto sobre a TONINHA, uma espécie de golfinho ("Pontoporia blainville"), considerada "prima pobre e esquecida" dos golfinhos rotadores ("Stenella longirostris") que povoam o mar noronhense e são a sua principal atração.


Diz a matéria publicada no www.primeiraediçao.com.br que as tuninhas "correm o risco de extinção" e que habitam, principalmente, a costa do Espírito Santo até a Argentina. Daí perceber-se que os presos noronhenses chamavam incorretamente os nossos encantadores golfinhos, já que não há TONINHAS em águas do Nordeste. Como a toninha não é facilmente observada na natureza, ela está nas águas brasileiras quase que incógnita, sem causar o furor e o deslumbramento dos famosos rotadores noronhenses.


Coisas que a ciência explica e que o homem nem sempre se apropria!

(Foto 1 - toninha / Foto 2 - golfinhos)

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