O vitorioso evento "Festa Literária Internacional de Pernambuco - FLIPORTO", no seu importante espaço "FLIPORTO-CRIANÇA 2011", homenageará uma figura quase lendária dentre os brasileiros: o professor e escritor MALBA TAHAN.
Ninguém, nenhum estudante dos anos cinquenta, sessenta, resistia à enorme curiosidade de ler "O Homem que Calculava". E todos acabavam fascinados, após a leitura, com a genial capacidade para a Matemática evidenciada no livro, nascido do cérebro privilegiado do escritor árabe Malba Tahan. Pasmo maior era sabê-lo brasileiríssimo, escondido pelo arguto e inteligente olhar do Prof. Júlio César de Mello e Souza, considerado o maior divulgador da "Ciência dos números", com mais de cem livros publicados e um fascinante contador de histórias verdadeiras ou inventadas.
Nascido no Rio de Janeiro, em 6 de maio de 1895, Júlio César viveu quase toda a infância na cidade paulista de Queluz, retornando ao Rio em 1905 para estudar. Cursou Engenharia Civil. Tornou-se professor de várias discipllinas, inclusive - e principalmente - de Matemática. Aos poucos, sua obra fantástica foi surgindo: fábulas, lendas antigas, romances, com dados matemáticos, em enredos quase sempre passados no Oriente e publicados com o pseudônimo "Malba Tahan". Como educador atuou em escolas conceituadas e ministrou cursos e treinamentos para educadoras e estudantes de magistério (as "professorinhas dos cursos primários"), treinando-as na difícil arte de contar histórias. E foi assim que morreu, no Recife, em 18 de junho de 1974, no Hotel Boa Viagem, aos 79 anos, quando iniciava uma capacitação para docentes da rede estadual de educação.
Lembro-me, fascinada, daquela figura veneranda, no auditório do Centro Interescolar Almirante Soares Dutra, naquele dia... Custava crer que um homem com quase 80 anos pudesse encantar daquela forma uma platéia jovem, presente no curso "A Arte de Contar Histórias"... Ao longo de um período de trabalho, incansável, todo tempo de pé, com seu jaleco branco quase até os joelhos e um grande apontador de madeira (que lhe ampliava os movimentos), Malba Tahan despediu-se da vida do jeito que sempre viveu: lecionando e divertindo sua exigente assembléia. Eu coordenava aquele curso. Coube-me acompanhá-lo, no fim da tarde, ao então Secretário de Educação de Pernambuco, Cel. Costa Cavalcanti e assistir à entrevista dada aos jornais locais, contagiada pelo seu fascínio diante da vida, seu bom humor, sua juventude escondida nas rugas do seu rosto que desafiavam os anos...
Perto das 19h deixei-o no hotel, em Boa Viagem. Uma despedida fraterna, da educadora diante do seu ídolo-professor. Eu não sabia que seria a última a estar com ele em vida... Naquela madrugada seu coração o traiu. E atônitos. todos nós, os que acorreram na manhã seguinte para a segunda aula do curso, choramos a perda do mestre inigualável!
Sua obra ficou. Muitos dos seus livros foram traduzidos em diversos países. O saber pedagógico estava a salvo naquilo que ele deixou, dismistificando a "vilã" das escolas (como a Matemática costuma ser encarada pela maioria esmagadora dos estudantes), na saborosa obra que produziu, instigando a imaginação de crianças, jovens e adultos, com textos de ficção, de folclore, de tantas e tantas nuances.
O escritor de nome fictício, tão famoso ao seu tempo, foi um dos primeiros a ter impresso, na sua Carteira de Identidade, o ilustre pseudônimo que assinava na maioria de seus livros, por permissão do presidente Getúlio Vargas. E o dia do seu nascimento - 6 de maio - foi escolhido como o "Dia do Matemático", pela Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro.
Em muito boa hora, pois, prepara-se a homenagem a ele na FLIPORTO-CRIANÇA 2011, que trará de volta o inesquecível MALBA TAHAN, mestre das palavras, dos números e dos gestos, para a alegria das crianças de agora e a saudade dos jovens que fomos um dia!
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