Entregue à fascinante tarefa de redescobrir os caminhos da história noronhense, tive a felicidade de localizar – no Rio de Janeiro - o Capitão-de-Longo-Curso e Historiador Naval, Cmt Carlos Eugênio Santos Dufriche, que se foi neste final de semana, deixando uma lacuna enorme no País...
Escoteiro do Mar entre 1942 e 1948, estudioso da história da aviação e da navegação no Brasil, membro do
Conselho Superior do Incaer e de muitas outras instituições, Dufriche era um homem fascinante,
pesquisador dedicado, sempre em busca de feitos aeronáuticos e navais que
registrava avidamente, figura comumente procurada por cineastas, historiadores,
estudantes, técnicos, jornalistas e quantos mais quisessem descobrir caminhos
do passado no mar e no ar.
Um outro comandante da Marinha Mercante nos
aproximou: meu primo, Álvaro José de
Almeida Júnior, hoje Presidente do Centro de Capitães da Marinha Mercante. Eu
iniciava minhas buscas das informações possíveis de serem localizadas
sobre Fernando de Noronha e viria a ter, em Dufriche, uma
inestimável fonte de esclarecimentos, tanto no encaminhamento dado por ele às
pessoas e locais detentores de informações (apontando famílias com descendentes
de antigos moradores da ilha, fossem na condição de prisioneiros ou gente
livre, brasileiros e estrangeiros que se instalaram na ilha por diversas
razões), fosse para elucidar acontecimentos, em tempos diversos, que
estivessem incluídos no seu farto elenco de dados históricos... Para mim,
reencontrá-lo era sempre ocasiões de esclarecimento de dúvidas, de receber
fecundas orientações, fruto da atenção de um homem simples e sábio, que sabia
partilhar suas descobertas com quem precisasse delas.
Ir ao Rio de Janeiro era visitar espaços novos,
ainda não descobertos, revisitar locais e reencontrar pessoas que, como
Dufriche, estavam sempre disponíveis para colaborar, contribuir, doar. Buscá-lo para depoimentos e entrevistas era algo corriqueiro. Há uma
lista enorme - hoje disponibilizada pela Internet - de participações dele na
retaguarda das realizações de caráter histórico, garantia das verdades que ele
tão bem colecionava, nos arquivos oficiais que ajudou a organizar ou no seu
precioso arquivo particular.
Fernando de
Noronha deve muito ao incansável Carlos Dufriche... Períodos de sua história de
cinco séculos - hoje eternizada nos livros que publiquei - foram atentamente
avaliados por ele, acrescidos com dados que estavam guardados no seu arquivo
particular, ou em lugares até inesperados, esclarecendo, complementando e
ampliando as inúmeras informações que hoje estão disponibilizadas no “Programa de Resgate Documental dobre
Fernando de Noronha”, criado por mim e que é, atualmente, parte do Setor de
Patrimônio Histórico da Administração insular. Tudo compõe, também, o acervo
museográfico do Memorial Noronhense/Espaço Cultural Américo Vespúcio, magnífico
marco cultural fernandino, alvo, nos dias de hoje, de visitação, admiração e
aprendizado.
Foi-se o homem. Ficam as
marcas da sua vida fecunda e aqui, o registro da sua preciosa participação na
história do arquipélago noronhense!