“A intimação para ir
à polícia “prestar esclarecimentos” (textual no documento e informações das
autoridades aos meus advogados) foi recebida às 13,25 horas do dia 20 de julho
de 1967; minha prisão se deu nesse mesmo dia, a partir do momento em que,
acreditando na palavra de um ministro da Justiça, compareci à polícia; meu
desterro foi ordenado às 22 horas desse mesmo dia e consumado no dia seguinte,
21, às 16:49, quando deixei a Polícia do
Exército para passar 10 minutos em casa, apanhar umas roupas, me despedir dos
meus filhos e sair correndo numa disparada louca para o Galeão, onde tomaria o
C-54 da FAB que me levaria a Fernando de Noronha...
(...) O jornalista é
o melhor informante da História e os jornais são os grandes repositórios onde
os Historiadores vão buscar os fatos que transformarão em verdades eternas ou
fulminarão inapelavelmente (...) E com a minha crítica ou sem a minha crítica,
o ex-Presidente Castelo Branco já pertence à História (...)
(...) meus artigos
sobre o ex-presidente Humberto de Alencar Castelo Branco não são frios nem
passionais. São lúcidos e coerentes. Foram escritos por um homem que sabe o que
escreve e põe sinceridade em todas as suas atitudes. Meus artigos tinham o
objetivo de constituir advertência para o futuro e não ajuste de contas com o
passado.)
(...) A História é
dos povos e das nações. Não se escreve com a covardia dos que se entregam mas
com a bravura e a intrepidez dos que resistem” (dolorosas lembranças publicadas pelo
jornalista Hélio Fernandes na obra “Recordações
de um desterrado em Fernando de Noronha”...)
Um fato importante divulgado recentemente foi a
liberação - pelo TST - do bloqueio na pensão de anistiado político HÉLIO
FERNANDES, o último preso político em Fernando de Noronha, em
1965, durante o regime militar, instaurado no Brasil em 1964, quando foi ele
foi afastado das funções de editor do jornal Tribuna da Imprensa.
Hélio Fernandes está com 94 anos. Convalescendo de doenças graves, precisa
de cuidados especiais e recebia pensão mensal do Ministério do Planejamento,
Orçamento e Gestão pela cassação de seus
direitos de liberdade pelo Ato Institucional 5, No mandado de segurança
impetrado contra o bloqueio, seu advogado alegou que "vencimentos, subsídios,
soldos, salários, remunerações, proventos de aposentadoria e pensões são
impenhoráveis". E a reparação econômica é assegurada ao anistiado político.
Dados
que a história guardou:
Em 1967, Hélio Fernandes, jornalista, diretor do jornal “Tribuna da
Imprensa”, do Rio de Janeiro, foi o último preso político enviado a Fernando de
Noronha, como punição por haver publicado dois artigos a respeito do governo
Castelo Branco, após sua morte por acidente aéreo, o que desagradou aos líderes da
Revolução de 31 de Março de 1964. Isso lhe valeu o convite para “prestar
esclarecimentos” e, neste mesmo dia, o seu desterro para o Arquipélago
foi consumado. Distante de tudo, sem sequer companheiros de infortúnio que
amenizassem sua situação, ele escreveu:
“Estou sozinho nesta
terrível ilha de Fernando de Noronha, que o medo dos homens escolheu para
refúgio dos que têm coragem.”
Incomunicável,
alojado “num barraco”, seu tempo na ilha era preenchido diante de
uma máquina de escrever, ou com livros que lia, um após outro... Sua prisão foi
considerada, por unanimidade, entre civis e militares, como “a maior
injustiça do governo Castelo Branco”.
Um
detalhe importante: em avião particular, uma visita importante dignou-se a ir a
Fernando de Noronha, visitá-lo: Carlos
Lacerda, acompanhado de deputados e advogados, 18 dias após sua chegada, e
nenhuma divulgação disso foi permitida. Somente o seu livro de memórias registraria
o fato.
Quando
Hélio Fernandes foi transferido de Fernando de Noronha para Pirassununga, “para
poder trabalhar e prover o próprio sustento e o da família”, ficou
claro que ele “não poderia mais escrever e publicar artigos, nem mesmo
sob pseudônimo, em lugar nenhum”. Era a censura claramente exercida,
naquele conturbado tempo.
OBS: informações registradas na obra "Fernando de Noronha - Cinco Séculos de História".
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