Dizem que ela só existe em Fernando de Noronha. Não é bem assim, claro. Mas famosa no Arquipélago ela é, e como! Suas folhas possuem um veneno terrível, causticante... Basta o homem levar aos olhos as mãos que haviam tocado em sues folhas para que ele fique cego por algum tempo; sua seiva queima, dói.
Ela é a burra-leiteira, uma árvore de quatro a cinco metros de altura, que causa enorme perigo. O simples fato de cortá-la contra o vento faz com que o ar volátil que se desprende queime as pessoas, até por sobre o tecido das roupas. As partes atacadas por essa estranha planta, mesmo nos animais, jamais criam pelos.
Sua madeira não pode ser empregada como lenha combustível, porque a fumaça produzida ataca a vista de quem a usa. Uma gota de sua seiva provoca uma queimadura semelhante à do fogo. Como uma maldição, a burra-leiteira é a peçonha que ataca de muitas formas, ferindo o homem e deixando marcas.
Vários escritores fararam sobre essa singularidade no passado. Pereira da Costa, Olavo Dantas, Frei Caude D´Abeville, foram alguns dos que registraram suas impressões sobre a planta mais característica de Fernando de Noronha. Para D´Abeville ela era "uma árvore muito bela e agradável, de folhas bem verdes, semelhantes ao loureiro" e segue descrevendo os males causados por ela, a ponto de compará-la ao "pecado mortal - na aparência exterior agradável, sorridente, convidativo; quando, porem, tocado, com as mãos das obras e o consentimento de uma vontade determinada, faz perder a graça, que é a vista da alma e provoca imediatamente uma dor viva, pungente remorso".
No período do Presídio Comum, a burra-leiteira foi usada como uma forma de castigo. O preso era obrigado a açoitar a árvore e suportar a seiva que lhe molhava os braços, as mãos, queimando, doendo, abrindo feridas no seu corpo. E foram muitas torturas praticadas assim, numa árvore bela mas fatal.
Por outro lado, uma gota dessa seiva tão forte colocada sobre uma verruga, curava a pessoa que o fizesse, porque a verruga caía, após alguns dias. Contraditório uso, na linha da farmacopéia popular.
Quanto castigos essa traçoeira árvore terá propiciado??? Quantas curas para alguns males, também???
Um comentário:
Marieta,
Este post sobre a BURRA-LEITERA me fez voltar no tempo. Quando criança, lá em Surubim, os mais velhos alertavam sobre os perigos do "leite" do AVELOZ, planta utilizada para fazer cercas vivas, muito comum naquela época. A possibilidade de ficar cego assustava qualquer um!
Um fraterno abraço!
Gilmar
http://www.fotocorridagilmar.blogspot.com/
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