Quase todas as pessoas que, por um tempo e por alguma razão, viveram em Fernando de Noronha, carregam no coração uma quase nostalgia daquilo que viveram, das experiências que acumularam, das dificuldades que enfrentaram, no seu tempo noronhense. E o mais curioso, é que o desejo de voltar e de rever aquela terra, vai crescendo no coração de cada um, levando essas pessoas marcadas a programarem uma visita que, quando ocorre, não somente mata as saudades acumuladas como até permite que a ilha seja re-descoberta.
Muitas vezes compartilhei esses momentos...
Em outras ocasiões, esse compartilhamento se deu através dos registros do Sistema Golfinho de Rádio e Televisão...
Quantas ocasiões fortes foram sendo experimentadas.., Vi a menina que nasceu na ilha, na década de 1930, anos e anos depois,ajoelhar-se ao descer do avião, para beijar o que chamou de “solo sagrado da sua terra”... E repetir o gesto ao entrar no quarto onde nascera, numa casa da Vila dos Remédios... E que lindeza imaginar-se um pracinha, que ali viveu o tempo da II Guerra Mundial na Ilha (quando ali funcionou o Destacamento Misto de Guerra, de 1942 a 1945) e que, chegando de volta cinqüenta anos mais tarde, vestir-se com seu fardamento militar da época e, assim paramentado, ir em busca de tudo aquilo que a ilha possui e que não lhe era permitido visitar, em tempos de dificuldades... Vi também uma jovenzinha, da qual existia no acervo uma foto de quando era ela adolescente em Noronha, na década de 1940, encantar-se tempos mais tarde diante das paisagens que trazia guardadas no coração, fazendo despertar em sua alma de artista plástica o desejo de, a
partir dali, somente pintar cenas da sua terra... Vi ainda um venerando senhor, que viveu por lá na década de 1920, também voltar, ficar por algum tempo e escrever seus memórias, num lindo e fecundo trabalho que batizou como “Ilha Mágica”, relatando as ações positivas do pai, então comandante do presídio comum noronhense...
Foram tantas as emoções desses reencontros que foram se sucedendo, nessas buscas do passado daqueles que se ligaram a um espaço especial, concretizadas com a cessão de fotos extraordinárias, que trazem à luz um espaço urbano de rara beleza, com seus prédios coloniais, seus acontecimentos notáveis, como a chegada do avião Jahu (em 1927), o sobrevôo do Zepellin (em 1931); a chegada dos italianos da Italcable (em 1925) para desenvolverem a cabografia transoceânica) e dos franceses (tanto para a mesma atividade com a telegrafia (em 1914) como para apoio aos pioneiras viagens aéreas da Aeropostale precursora da Air France (em 1927); o naufrágio dos três navios gregos (em 1929 e em 1937, todos sepultados no segredo do oceano) e muitos e muitos outros.
É notável constatar-se o encantamento que fica, em cada um - qualquer que tenha sido a razão da ida, da permanência, do desempenho de alguma atividade necessária ou da participação em épocas fortes - como o tempo do Presídio Comum (entre 1737 e 1938), o Presídio Político (de 1938 a 1942), o tempo do Território Federal Militar (entre 1942 e 1986)...
Essas coisas fazem bem ao espírito animam os que hoje têm a responsabilidade de conduzir os destinos de Fernando de Noronha. E, no rastro dessas presenças que acontecem, vai se enriquecendo o acervo que se vem construindo desde a década de 1970, hoje abastecido com mais de cinco mil fotografias, vindas de homens e mulheres, que tiveram o privilégio de, por um tempo de suas vidas – viverem em Fernando de Noronha e que, generosamente, abriram mão dessas imagens e de suas informações pelo bem do lugar onde nasceram ou permaneceram por razões as mais diversas!
Assim se alimentam os sonhos! E assim se restaura a verdade de um lugar tão esquecido, pelo Brasil afora...
Um comentário:
O mais encantador na historia de fernando de noronha é a possibilidade em escrever essa historia a partir das imagens que ela produziu. Trazer a tona o que nos salta aos olhos só esta nos sendo permitido por conta da muitos dos que passaram pela ilha disponibilizar a sua memoria particular que os alguns de familias revela. É Marieta!!! Temos muito o que fazer com essas historias que nos são permitidas lembrar. Vamos juntas nessa caminhada e neste desvendar historicos. Abraços. Grazielle
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