Final do mês de abril de 1927. Como um grande pássaro, chega a Fernando de Noronha o hidroavião Jahu, pilotado por João de Barros e seus companheiros João Negrão (copiloto), Newton Braga (navegador) e Vasco Cinquinin (mecânico). No mar revolto do arquipélago, realizava-se a primeira parte do sonho do piloto brasileiro, cumprindo ali a etapa pioneira de vôo.
O Jahu,
um hidroaviãoda marca Savoia-Marchetti S.55 - o último de seu modelo no mundo - fazia a terceira
travessia aérea do Atlântico Sul - a primeira da
história sem escalas -, em 1927, depois de Gago Coutinho e Sacadura Cabral, em 1922 e Ramon Franco e uma equipe espanhola, no hidroavião Dornier DO J Wahl "Plus
Ultra", em 1926.
A travessia aérea de Gago Coutinho e Sacadura Cabral, nas comemorações
do Centenário da Independência do Brasil, havia inflamado a imaginação do
aviador paulista. E ele resolveu enfrentar um "raid" transoceânico perigoso, que o faria famoso. naquele hidroavião
que tinha sido preparado na Itália, próximo à Gênova e batizado de "Jahu" em homenagem à cidade
brasileira Jahu, onde o piloto nascera.
Com uma eficiente tripulação a acompanhá-lo decolou dia 13 de outubro de 1926, rumo a Gibraltar, para a 1ª etapa do voo. E
seguiu adiante, enfrentando as dificuldades, parando para os necessários
consertos que se sucederiam.
Após os últimos preparativos antes de cruzar o Atlântico Sul, na
madrugada de 28 de Abril de 1927, o Jahu decolou rumo ao Brasil. Numa altitude de 250 metros e
a velocidade recorde de 190 km/h, voou durante 12 horas ininterruptas,
sem escalas, pousando na enseada Norte
da ilha de Fernando de Noronha sob o sol poente, com problemas na hélice
traseira e com 250 kg de combustível ainda a bordo. Era o 1º pouso, num
mar desconhecido e agitado. Dali em diante, todo o país comemoraria e acolhendo
festivamente os aviadores nas demais etapas do percurso: Natal, Recife, Salvador, Rio de Janeiro e São Paulo, onde o raid foi concluído em agosto daquele
ano. E o arquipélago pernambucano tinha
sido o primeiro a acolhê-los. O Jahu nunca mais voaria. A crise
econômica mundial e a Revolução de 1930 obrigaram João de Barros a abandonar
seu sonho, vindo a morrer em 1947, vinte aos depois do sucesso do seu
empreendimento.
Por
muitos anos o Jahu esteve em exposição até 1950, no Museu do Ipiranga. Depois,
transferido para o Museu da Aeronáutica de São Paulo, com o patrocínio da
Fundação Santos Dumont, ficou quarenta anos, período em foi visitado por nós,
que – percebendo estar incompleto o percurso feito por ele em 1927, pela ausência
de qualquer registro visual sobre a pioneira amerisagem no arquipélago, foi ele doado doado por nós à Administração do Museu,
em nome do Programa de Resgate
Documental sobre Fernando de Noronha, a foto do hidroavião fundeado na mar
noronhense, tendo o Morro do Pico como testemunha, foto essa do acervo original
da família Pinheiro de Menezes, sendo o comandante do presídio, na época, o Sr.
Manuel Pinheiro de Menezes Filho e doada pelo filho dele, Genaro, testemunha
ocular da famosa amerisagem.
.
Desativado
o Museu de Aeronáutica no ano 2000, o Jahu
foi levado para o Campo de Marte e mereceu receber uma restauração completa,
com diversos parceiros como financiadores (inclusive a Aeronáutica Militar
Italiana, que ainda espera construir uma réplica dele para seu Museu
Histórico). Concluídos os trabalhos em 2007, pretendiam que ele ficasse exposto
a céu aberto na cidade de Jaú.
Problemas legais fizeram com que uma réplica dele ficasse na cidade que
inspirou seu nome, estando o hidroavião hoje cedido pela Fundação Santos Dumont
– por comodato – ao Museu da TAM (Museu Asas de Um Sonho), em São Carlos (SP), onde
permanece exposto.
Para Fernando de Noronha fica o
orgulho de ter, em sua cronologia, esse importante registro: o de ter recebido, pioneiramente no Brasil, o hidroavião Jahú, primeiro avião a cruzar o Atlântico pilotado por
um brasileiro, em 1927, e único “sobrevivente” mundial entre as 170
unidades produzidas na Itália durante a década de 1920.
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Fotos
1. O Jahu amerissado no Porto de Sto. Antônio
2. Tripulantes do Jahu na Fortaleza dos Remédios, acompanhados do diretor do Presídio e filhos pequenos.
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