Desde a
ocupação definitiva de Fernando de Noronha, em 1737, foi a pesca uma
das atividades praticadas por presos e correcionais ali confinados, sem que o
produto da sua jornada de trabalho fosse a ele próprio destinado. A vida
naquela lonjura, e com tantos criminosos, não era mesmo para ser facilitada,
mas gasta em trabalhos constantes, que mantivessem o preso ocupado, sem folgas.
E, entre os “trabalhos” destinados a esses homens, estavam as jornadas
de pesca, com desembarque de peixes feito no “Porto do Cachorro”, próximo
ao Parque de Sant´Ana, uma das fortificações do grande Sistema Fortificado
Noronhense (considerado “o maior do Brasil, no século XVIII, com dez fortes
em 17k²”). Nas suas muralhas, desde o final do
século XVIII, costumavam os presos salgar o peixe trazido do mar, para
serem consumidos nos dias que se seguiriam. Por isso, surgindo
daí o nome popular “Reduto da Salgadeira”.
Embora
farto, facilmente pescado, nas proximidades do Arquipélago ou em saídas para
mais distante, o peixe era alimento para os que dirigiam o presídio; só uma vez
por semana destinado ao preso, que tinha o seu habitual “muniço” formado por
feijão, farinha e charque.
Em 1942
criou-se o Destacamento Misto da II Guerra Mundial. E, ao implantarem-se os
diversos serviços necessários para a sobrevivência de três mil “pracinhas” em
Fernando de Noronha, foi enviado para a ilha o Serviço de Pesca, como
uma das organizações da estratégia de defesa montada. E com ele vieram apetrechos
mais modernos que as formas artesanais de pesca, inclusive com barcos a motor.
Extinto o Destacamento Misto em 1945 (com o final da guerra), restou o
Território Federal Militar, administrado pelo Exército até 1981; pela
Aeronáutica até 1986; pelo EMFA até 1987 e pelo MINTER, quando recebeu o seu 1º
e único governo civil. Nesse tempo de TFFN, a pesca passou a ser
praticada por ilhéus-pescadores. E foi estimulada a pesca submarina como
lazer, sendo conhecida a presença de famosos, como Ivo Pitanguy, nos
campeonatos de caça submarina organizados pelos militares.
Em 1957
o governador militar da ilha, José Francisco da Costa, firmou um
convênio com o Prefeito do Recife, Pelópidas Silveira, para “abastecer
o Recife de peixe, na Semana Santa daquele ano”. E, para isso, destacou cem
(100) pescadores da Colônia Z-1, do Pina/ Recife, enviando-os para a Fernando
de Noronha, a fim de ensinarem o seu ofício aos pescadores noronhenses,
conseguindo a captura da maior quantidade de peixes que pudessem, a fim de que
o objetivo da ida fosse atingido. É desse tempo o costume de vender-se, na sede
do TFFN no Recife, peixes vindos do Arquipélago, que tinham procura e sempre
eram considerados “em pequena quantidade”.
Uma parte
daqueles pescadores desgarrou-se do compromisso oficial do convênio e ficou na
ilha, integrando-se com os ilhéus e mandando buscar a família ou constituindo-a
por lá, o que significou – com o passar dos tempos - um aumento considerável da
população. Também criou-se a Associação Noronhense de Pesca – ANPESCA,
congregando os pescadores, para que aprendessem a defender seus direitos.
Com a
reintegração do Arquipélago a Pernambuco (estado ao qual pertenceu até 1938,
quando foi requisitada “a título precário” pelo Presidente Getúlio Vargas e
nunca devolvida) e, ao mesmo tempo, a criação do Parque Nacional Marinho –
PARNAMAR/FN, a pesca passou a ser enquadrada entre as atividades submetidas às
normatizações necessárias, por ser o lugar agora uma área de conservação. À
época, somente os habitantes mais velhos, que costumavam pescar como lazer, em
determinados pontos da ilha principal ou da Ilha Rata (ilha secundária),
tiveram autorização para continuar pescando nos seus “pontos”, sem que
essa autorização tivesse nenhuma continuidade, após o falecimento desses. E a
pesca seguiu, como é até os dias atuais, sendo normatizada, feita no alto mar,
monitorada pelos que compõem o órgão ambientalista de controle, hoje o
Instituto Chico Mendes de Biodiversidade – ICMBio e antes o IBAMA.
Também foi
estímulo para Campeonatos de Pesca, realizados a cada ano, dentro das
normas vigentes e que atraem cada vez mais os amantes dessa atividade como
lazer. O Turismo de mar, praticado na ilha, tem incluído entre o leque de
opções de atividades marinhas, a pesca feita por turistas, conduzidos e
orientados por engenheiros de pesca, preparados para incrementar a atividade
sem dano para a ilha.
E, no
rastro da História, vale recordar a experiência vivida por concluintes de
Engenharia de Pesca da UFRPE, sob a coordenação do Prof. Yashito Motorrachi, em
1990, que levou 12 estudantes para o desenvolvimento da pesca com uso do “espinhel”
e do “atrator” como instrumentos para captura de peixes e tubarões,
infelizmente encerrada pela morte de quatro desses rapazes na queda do
Bandeirantes do Governo de Pernambuco, em 20 de setembro daquele ano.
Registram-se
hoje essas informações em homenagem a Pelópidas Silveira, Prefeito do
Recife que entendeu a necessidade de melhorar a pesca em Fernando de Noronha,
conveniando com o então Governador do TFFN o envio dos pescadores do Recife, naquele
distante 1957, alguns dos quais continuaram na ilha de forma definitiva!
Uma ação pouco conhecida dos que hoje homenageiam aquele político pernambucano,
no centenário do seu nascimento.
Fotos:
1 - Pelópidas Silveira
2 - pesca na década de 1930
3 - pesca de Biu Guarda e Sérgio Lino
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