segunda-feira, 13 de outubro de 2008

CÍRIO DE NAZARÉ - DEVOÇÃO ETERNIZADA


O “CÍRIO DE NAZARÉ” é a mais importante procissão brasileira. É uma manifestação religiosa característica do povo amazônico, que se materializa num cortejo surpreendente, tendo ao centro a BERLINDA, e nela a pequenina imagem de NOSSA SENHORA DE NAZARÉ, rodeada por uma longa CORDA,. Agarrados a ela, vão os devotos, com impressionantes atitudes de sacrifício e de fé. Na Corda seguram-se pessoas de qualquer classe e todos expressam com o corpo o seu sentimento religioso.

Uma tradição paraense fala do aparecimento de uma milagrosa imagem de N. Sª de Nazaré, encontrada em 1700, pelo caboclo Plácido José de Souza, filho de um português e uma índia, que possuía um sítio na estrada que ia para o Maranhão (hoje Bairro de Nazaré). Caçando na região do Igarapé Murutucu (onde hoje é a Basílica), o caboclo parou para se refrescar nas águas e, ao erguer os olhos, viu a imagem de Nossa Senhora entre as pedras cheias de lodo. Levou-a para o barraco onde morava e ali, em um pequeno altar, passou a venerá-la. A casa encheu-se de gente para rezar... Milagres começaram a acontecer e as promessas se sucediam...

Uma fato inexplicável é que, no dia seguinte àquele em que foi encontrada, a imagem não amanheceu na casa de Plácido e ele foi vê-la novamente entre as pedras do igarapé Murutucu. Diz a história que a imagem sumiu outras vezes, sempre que era retirada dali. O governador da época chegou a ordenar que a isantinha fosse para o Palácio do Governo e ficasse sob intensa vigilância.Pela manhã, o altar estava vazio. A imagem estava novamente no Igarapé Murutucu. Impressionados com o milagre, os devotos concluíram que Nossa Senhora queria ficar às margens do igarapé. E ali foi construída uma capelinha, ao lado da qual o caboclo ergueu sua casa.

O governador Francisco Coutinho pensou em fazer uma PROCISSÃO pela cidade. Dias antes ele ficou doente. Prometeu que, caso se recuperasse, ele mesmo levaria a imagem até a capela do Palácio. Restabelecido, cumpriu sua promessa e na madrugada de 8 de setembro de 1790, a Virgem chegou ao Palácio.Portanto, ao amanhecer daquele dia, a população de Belém viveu o seu primeiro Círio de Nossa Senhora de Nazaré.

“A imagem foi transportada na véspera d’aquele dia à noite da ermida para o palácio do governo. Pela iluminação de azeite da cidade, escoou-se a multidão que cercava o carro da santa até desembocar no largo da Campina... No dia seguinte, à tarde, com todo o esplendor possível a uma estréia, desfilou do palácio a romaria; na frente e no couce marchava toda a tropa da cidade” (Arthur Vianna, 19i04).

O processo de reconhecimento dos milagres da Virgem de Nazaré foi longo... Somente em setembro de 1790 a igreja o efetivou.

Até 1853, o Círio era realizado à tarde, prolongando-se pela noite. Neste ano, ao chegar no Largo da Pólvora (atual Praça da República), a romaria foi atingida por uma violenta chuva. A imagem foi levada às pressas, até a ermida. Para evitar isso, o Círio passou a ser realizado durante a manhã, horário em que raras vezes chove em Belém.

Em 1855, a baía transbordou na vésperas do Círio. O carro puxado por bois, que conduzia a BERLINDA, não conseguia passar. Alguém teve a idéia de desatrelar os bois, passar uma CORDA em volta da BERLINDA e puxar até desatolar. Assim a berlinda saiu do atoleiro no alagado próximo ao Mercado do Ver-o-Peso, e chegou ao Largo das Mercês. Desse modo foi levada até a ermida.

Esta prática foi incorporada com o passar dos anos. Os romeiros continuaram a usar cordas e a força dos braços para vencer os obstáculos do caminho, até que em 1868, a diretoria da festa decidiu oficializar a CORDA no Círio. Na época, vieram protestos... Com o tempo, tornou-se a maior tradição da romaria.

O Círio de Nazaré saía sempre da capela do Palácio do Governo, para onde a imagem era levada na véspera, durante a TRANSLADAÇÃO. Em 1882, o bispo e o governador da Província, resolveram fazer a saída da procissão da Catedral da Sé. Em 1901, o bispo fixou o segundo domingo como data oficial do Círio.

O Hino a Nossa Senhora de Nazaré - "Vós sois o lírio mimoso" - é de autoria do poeta maranhense Euclides Farias, que vivia em Belém, e foi composto em 1909, no mesmo ano do lançamento da pedra fundamental da nova igreja e se transformou no Hino Oficial do Círio. Já vai fazer cem anos e continua a ser atual...

São muitos os eventos do Círio de Nazaré... Missas, Procissões por terra, Barqueatas, Arraial para diversão e entretenimento, o Círio das crianças e até o Almoço do Círio, tradicionalmente seguido., São rituais, que mobilizam toda a cidade de Belém e que duram quinze dias,

Na primeira quinzena de outubro tudo em Belém e arredores gira em torno do CÍRIO. Lojas e casas se enfeitam para essa festa de fé e de cuidados. Cada dia, um diferente evento serve de chamariz... Romeiros, devotos em turistas se misturam,... Quase todos querem segurar na Corda, Naquele espaço abençoado os homens e mulheres reconhecem sua fraqueza e reafirmam sua fé, muitos carregando ex-votos, para pagarem promessas.

Sem duvida, essa é uma festa de todos, eternizada pela fidelidade de um povo de força e de fé, que é o povo paraense!

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