sexta-feira, 14 de maio de 2010

A DEVOÇÃO MARIANA EM FERNANDO DE NORONHA


Uma terra dedicada, desde muito tempo, à Mãe de Deus, deveria mesmo louvá-la de muitas formas e por razões diversas... Em Fernando de Noronha foi assim, desde que se deu a definitiva ocupação por Pernambuco, a mando de Portugal.

Século XVIII. 1737. O homem chegava para ficar, para construir, para se abrigar e desenvolver ali um núcleo habitacional que gravitava em torno de uma dolorosa destinação: ser um Presídio para presos comuns, todos condenados a longas penas. Como uma forma de consolo, talvez, começava-se a fazer o primeiro e mais importante templo católico - a Igreja de Nossa Senhora dos Remédios - iniciada naquele ano de chegada e conluída em 1772, data que aparece em sua fachada.

A dedicação à Virgem dos Remédios foi a devoção primeira, que viria a titular também o principal forte construído na Ilha - a Fortaleza de Nossa Senhora dos Remédios - e toda a vila - Vila dos Remédios. E, logo depois, em 1768, a Senhora dos Remédios era tomada como Padroeira do Presício.

Uma imagem portuguesa foi entronizada no altar e viria a desaparecer em 1817, quando todos os bens da Ilha foram retirados dela em conseqüência da Revolução Pernambucana de 1817, que remeteu para lá um grupo com o fim de "trazer para o continente braços fortes para a luta" (os prisioneiros), desmantelar tudo o que encontrasse erguido ou desenvolvido e "retirar da Igreja todos os trastes de valor, tratando com decência esses bens"...

Mais tarde, findo o movimento político, uma outra imagem seria trazida para ilha, abençoada em 1880, conforme a "Ordem do dia" de 22 de julho de 1880. Tembém essa desapareceria ao ser enviada para o Recife, na década de 1930, para ser restaurada. E a terceira imagem, que esteve no altar a partir da década de 1940, não correspondia à iconografia dessa devoção.

Hoje a Virgem dos Remédios é venerada com duas belas imagens, corretamente feitas em madeira e resina, pelo santeiro de Olinda Elias Sultanun, em tamanhos diferentes, para servirem às Procissões (a imagem menor) e reinar no altar-mor do templo (a imagem maior).

Mas não foi apenas no principal templo que o culto a Maria se deu... A Capela da Fortaleza dos Remédios, hoje semi-destruída, também foi dedicada à Senhora dos Remédios; a Capela do Cemitério, erguida em 1843 e hoje não mais existente, foi dedicada a Nossa Senhora da Conceição e a Capela da Vila da Quixaba (ou da Sambaquixaba), segundo núcleo habitacional historicamente erguido, foi também colocada sob a invocação da Virgem da Conceição, titulação substituída por "Nossa Senhora das Graças", quando a imagem primitiva de Nossa Senhora da Conceição desapareceu e uma outra, mais singela, da Virgem das Graças, foi deixada sobre o altar único, por ser grande demais para ocupar o nicho apropriado desse altar.

No século XIX, os prisioneiros quiseram ter também o seu lugar de culto. E, para isso, ergueram a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Sentenciados, construída na metade daquele século, hoje inesxistente, da qual só se conhece a visão por relatos antigos de sua existência e por ter sido registrada numa obra de arte em óleo sobre madeira, do pintor francês Eugene Laissaily, à época, hoje pertencente ao acervo do Instituto Ricardo Brennand, no Recife.

E, pelos séculos que se seguiram, as festas marianas foram sempre comemoradas, ano a ano, nas solenidades do Mês de Maio e nas Procissões e Festas nas datas de cada uma das venerações escolhidas, com crianças vestidas de anjos, coroando Nossa Senhora, acompanhando procissões fervorosas, recitando o Terço nas residências e nos templos, dedicando a Maria as mais tradicionais e belas canções, em louvor à Mãe de Deus e nossa.

Neste Maio, uma vez mais se faz reverência a essa Mãe, que abençoa seus filhos, ilhados e fervorosamente à espera das bênçãos que lhes alimente a vida!
.................................................................................................................................
Foto 01 - imagem desaparecida na década de 1930.
Foto 02 - imagem atual, com a iconografia correta.
Foto 03 - celebração mariana em 1992.

Nenhum comentário: