quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

LIVRO SOBRE FERNANDO DE NORONHA FOI ENREDO DE ESCOLA DE SAMBA NO RIO





Um escritor se sente gratificado por razões diversas. Para muitos, não é o dinheiro dos direitos autorais que conta, mas o interesse das pessoas pelo que ele escreveu, a emoção dos leitores sintonizados com o livro, o possível bem que seu texto faz surgir... Ver um livro transformado em filme, novela, peça teatral, experimento acadêmico ou simplesmente cumprindo seu papel junto aos que o descobrem é fantástico. Ver um livro “carnavalizado”, então - num país em que o Carnaval é sua festa mais marcante - pareceria inatingível, para uma pesquisadora e escritora nordestina... Mas isso aconteceu comigo, em 1995.

A ousadia de um carnavalesco apaixonado pelo arquipélago deu formas ao sonho e transformou as Lendas de Fernando de Noronha no enredo da Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira, entre alegorias, roupas luxuosas, samba-enredo e bateria, “derramando-se” pela Sapucay, arrastando consigo os fantasmas de todos os tempos, as crenças nascidas do medo e da solidão de presos infelizes, carregando no coração as histórias perpetuadas pela oralidade ou registradas em épocas remotas.

Pernambuco era convidado do Rio de Janeiro. Fernando de Noronha era a estrela-maior da verde rosa, chegando à passarela do samba conduzida por golfinhos, peixes, tartarugas, corais, espumas azuis, cavalos marinhos... Tudo perfeitamente realizado pelo milagre de mãos artesãs e tecnologia reinventada por artistas anônimos. Lindo! Lindo! Lindo!  

O livro “FERNANDO DE NORONHA - LENDAS E FATOS PITORESCOS” - fielmente retratado, expunha carros alegóricos e alas perturbadoras: a Alamoa gigantesca, loura e sedutora; a Cacimba do Padre, soturna e arruinada, com seu guardião-fantasma; o Cajueiro da Cigana, de enormes frutos e belas morenas, com baralhos de cartas nas mãos; o Mostro do Sueste, rodeado de pescadores assombrados; o Tesouro do Capitão Kidd, cheio de outro e de moedas gigantes, guardados por um dragão ruidoso e pelo fidalgo pirata dos mares... Outras lendas fidedignamente tratadas e, em tudo, a natureza esplendorosa da verde Esmeralda do Atlântico... Até suas algas apareceram, na linda Comissão de Frente, um tesouro de encantamento!

Como foi abençoada aquela madrugada do Carnaval de 1995, aquele samba exaltação, aquele colorido! Emoção pura. E a autora do livro misturada à folia de tantos, seguiu pela avenida apregoando também: “Achei Noronha, o meu maior tesouro”, como dizia o samba-enredo...     

O recado estava dado. Fernando de Noronha mostrava ao mundo sua face antrópica, espelho de uma presença humana que tantos desconhecem, afirmando-se como terra de um passado notável, marcado por sofrimentos antigos e medos enormes, expressado em lendas que aliviavam o coração e buscavam explicação sobrenatural para o dia-a-dia tão longe do continente, “fora-do-mundo”, como diziam os encarcerados.

Ilvamar Magalhães, o carnavalesco e Roberto Firmino, presidente da Mangueira, cumpriram esse compromisso assumido. Pernambuco foi ao Rio de Janeiro, naquele ano de 1995. Todos viram. Todos aplaudiram.

Viva a Mangueira! Viva Fernando de Noronha!
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Foto 01 - Desfile na Sapucay - Alamoa - personificada por Angélica.
Foto 02 - Protótipo do carro alegórico "Cajueiro da Cigana"

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