terça-feira, 22 de julho de 2008

CAPOEIRA E CAPOEIRISTAS - PRISÃO EM FERNANDO DE NORONHA

Falou-se sempre sobre Capoeira e Capoeiristas. Em diferentes tempos e por razões diversas aplicaram-se penas aos praticantes dessa modalidade de desempenho físico, olhando-a como luta, como contravenção, como origem de danças populares – o frevo, por exemplo - como arte e, finalmente, como prática desportiva.

Estudiosos debruçaram-se em documentos, à cata de razões que explicassem o fascínio que a Capoeira exercia sobre os homens, sobretudo os jovens, levando-as a aprendê-la e exercitá-la, mesmo na marginalidade. Artigos, reportagens, charges, estudos acadêmicos registraram esse saber que identificado, construindo a história dessa forma de destreza corporal, nos seus aspectos lúdicos ou conflitantes e na repressão que gerou, estimulando debates em muitos níveis, sobre o tema.

No século XIX, a prática parecia ser entre a população preta e pobre. atribuía-se ao povo carente o gosto pela Capoeira e, nele, as pessoas de cor negra. A realidade não era essa... Muitos brancos, filhos de família abastada, também eram envolvidos por essa magia, tornando-se membros de grupos, até no anonimato.

Isso cresceu no final do século XIX, contaminando a República recém-proclamada, provocando a discussão e adoção de medidas coercitivas. E em 1890, motivado pelas discussões dos que integravam o Conselho de Ministros do Governo Provisório Republicano, o Chefe de Polícia Sampaio Ferraz, com apoio do Ministro da Justiça, Campos Salles, foi designado para exterminar os capoeiras de todo o Brasil. Temendo o que precisaria enfrentar para executar a tarefa, diante do envolvimento de gente graúda na prática da Capoeira – recebeu de Deodoro da Fonseca “carta branca para agir como quisesse, desde que limpasse o país daquela gente”. Estava selado o destino desses “subvertores da ordem”: ficou combinado que “todos os capoeiras, sem distinção de classe e de posição, seriam encarcerados no xadrez comum da Detenção, tratados ali severamente e, pouco a pouco, deportados para o presídio de Fernando de Noronha, onde ficariam certo tempo, empregados em serviços forçados.

Todos reconheciam que “a prática era uma arte, uma verdadeira instituição mas, radicada nos costumes, resistindo a todas as medidas policiais – as mais enérgicas e mais bem combinadas - esse flagelo dava eternamente uma nota de terror às próprias festas mais solenes e ruidosas, de caráter popular.” Em nota, no trabalho “Actas e Actos do Governo Provisório”, organizado por Dunshee de Abranches, publicado em 1907, fica evidente o medo de realização de festividades patrióticas ou religiosas, nos conturbados tempos pós-República, sobretudo à noite, temendo cenas sangrentas de confronto entre policiais e capoeiristas... Isso culminou com a deportação dos “indesejáveis” de todo o Brasil para o arquipélago distante, como medida saneadora. E como, na arte da capoeiragem, desde os tempos da Monarquia, não somente os das “classes baixas” estavam envolvidos, mas também personagens ilustres e até políticos, atingiram-se logo esses homens, livrando o povo de indivíduos que atentavam contra a ordem.

A polícia conhecia bem quem eram os capoeiristas. Uma “lista” dos “facínoras que infestavam as cidades” foi feita, desconsiderando pedidos de condescendência para com alguns deles... A imprensa acirrou os posicionamentos. Os Ministros se dividiram em opiniões contra ou a favor das medidas que estavam sendo tomadas. Deodoro não recuou dos seus propósitos. E poucos meses depois começava a remessa, de homens de muitas classes, até com “padrinhos”, para o distante arquipélago, onde viveriam submetidos a trabalhos forçados.

Para Fernando de Noronha essa página da história parece ter sido propositalmente ocultada, tornando desapercebida a presença, na ilha, de todos os capoeiristas brasileiros e estrangeiros, embora se saiba que até 1930 continuaram a ser enviados homens marginalizados, por serem capoeiristas.. E, no entanto, nenhum lugar do Brasil tem um diferencial tão precioso e importante como o arquipélago... Por isso, em nenhum outro lugar do Brasil a Capoeira merece ser escrita com o brilho dos feitos do passado, mesmo que tenham sido dolorosos. E isso cresce de importância no momento em que a Capoeira é inscrita como “patrimônio imaterial brasileiro”.
Ilustração: Litografia de Géricaulkt, 1818

Um comentário:

mestre amancio disse...

Eu estou cursando história,e quero fazer uma pesquisa (momnografia) sobre a capoeira em Recife, entre 1880 a 1930. Sabemos que a capoeira era praticada em PERNAMBUCO, BAHIA E RIO DE JANEIRO.
Mais hoje só conhecemos á capoeira baiana. (regional)