segunda-feira, 21 de julho de 2008

CARNAVAL DE PERNAMBUCO - FESTA DE TODOS

CARNAVAL – no passado, era a “festa da carne”, os ritos romanos pagãos de celebração do fim do Inverno e de início de Primavera... Era o ‘adeus carne’, que anunciava que a Terça-Feira Gorda era o último dia do calendário cristão no qual era permitido comer carne... Era também o tempo das festas dionisíacas, nas quais um carro, transportando um grande tonel, distribuía vinho aos foliões da Roma imperial. Festejado no início do ano agrário, no limiar da Primavera, o Entrudo simbolizava a purificação e a renovação da vegetação, como prenúncio mágico da alegria derivada da esperada abundância nas colheitas

Esse foi o CARNAVAL – que veio pelas mãos dos colonizadores europeus, na forma de “entrudo”, uma festa de gente mascarada, fazendo troça com autoridades e os costumes da moral vigente; de desfiles pelas ruas, saudando as pessoas jogando “água-de-cheiro” ou lama... Festa para comer muita carne, despedindo-se desse prazer para entrar na Quaresma.

CARNAVAL – que, no Brasil, foi se transformando numa grande manifestação popular, de liberdade e de cor, de pessoas fantasiadas, deixando aflorar instintos, alegrias, partilhas... Uma festa iniciada logo após as festas dos Reis, em janeiro e que segue até a quarta-feira da Quaresma, quando deveriam acabar mas, a pouca religiosidade dos dias atuais, estende por mais algum tempo, com desfiles de troças, clubes e blocos pelas ruas...

Em nenhum outro lugar do Brasil o Carnaval ganhou ritmos e formas tão variadas, como em Pernambuco... Foi em Pernambuco que nasceu o FREVO, com todas as suas variantes: tocado só por instrumentos de sopro, tocado e cantado em lindas melodias e até acompanhado por instrumentos de pau e corda. E a corruptela de palavra "ferver"... ou "frever" (como parecia estarem os participantes, enquanto se esbaldavam) deu origem ao nome FREVO.

A origem do frevo é fácil de explicar... Era comum verem-se bandas de música tocando seus dobrados pelas ruas, protegidos por capoeiristas que, com suas pernadas, defendiam os músicos e os instrumentos, do povão que seguia o cortejo. Nada mais natural que esses movimentos fossem seguindo a cadência do ritmo tocado... Assim nasceu o PASSO, uma dança pernambucana, marca registrada dos carnavais de Pernambuco. O “passo” é um malabarismo do dançarino de frevo, que usa todo o corpo para expressar sua alegria; que se abaixa, rodopia, joga as pernas em várias direções, equilibrando-se com uma sombrinha, em movimentos graciosos e, ao mesmo tempo, vigorosos e belos! Há mais 100 anos é assim! E esse é o FREVO-DE-RUA, tocado pelas orquestras.

Para os que brincavam o carnaval, a necessidade de cantar enquanto dançavam foi crescendo, quase exigindo a colocação de poesias naquelas músicas agitadas. Nascia assim o FREVO-CANÇÃO, de cadência mais suave, empolgando as multidões pelas ruas e imortalizando grandes compositores. O mestre Capiba, o grande maestro Nelson Ferreira, José Michiles, Antônio Maria, Alceu Valença e tantos outros, dedicaram seu talento de compositores para criar o repertório pernambucano de frevos-canção, que foram passando de geração a geração. E atrás dos clubes e troças que cantavam e tocavam, seguiam bonecos-gigantes, “cobras” que carregavam gente sob os panos do seu corpo, “almas penadas”, “papangus” mascarados e tudo aquilo que a liberdade para criar pudesse sugerir. “O, bela!!!”, “Voltei, Recife”, “Madrugada do 3º dia”, canções que ficaram, para sempre...

No meio da efervescência cultural do carnaval, surgiu uma outra variante do ritmo chamado FREVO: aquele que passou a ser dançado e cantado ainda mais lentamente, numa cadência fácil de ser acompanhada com movimentos fáceis do corpo e poesias repletas de lirismo. Chamou-se FREVO-DE-BLOCO a essa diferença. E mais: para acompanhar os cortejos cada vez maiores dos que queriam brincar o carnaval de forma mais suave, vieram músicos que tocavam violões, violinos, flautas, clarinetes, banjos, em orquestras de pau e corda, andando sem pressa pelas ruas, fantasiados nas cores azul e encarnado, em trajes ricos e enfeitados. Os blocos de multiplicaram. Os compositores para esses blocos, também. Novamente Capiba e Nelson Ferreira deixaram-se imortalizar em versos, seguidos por Edgar Morais, Raul Morais, Getúlio Cavalcanti e muitos outros. Abram alas para os BLOCOS que passam, cantando o amor e a alegria!

Três raças se interligaram em Pernambuco: o índio que habitava essas terras; o branco colonizador e o negro trazido como escravo. Cada um desses grupos tinha sua forma própria de fazer música, de dançar, de celebrar a vida... Foi a herança indígena que guardou um pouco da sua origem, na difícil e bela dança dos CABOCLINHOS. As “tribos” de caboclinhos foram surgindo e passando para as gerações mais jovens sua dança, seus volteios, seu ritmo produzido por pífanos e, acompanhados de percussão, misturados ao barulho das preacas que traziam nas mãos... Salve a presença indígena no carnaval, com seus CABOCLINHOS!!!

E os ESCRAVOS, nas senzalas, também fizeram da dança uma forma de cultuar seus orixás e reverenciar seus antepassados, reis e rainhas, arrancados da sua terra para serem escravos... Surgia o MARACATU, uma dança de força e reverência, de toques preciosos dos atabaques e loas que são cantadas e passadas de uma geração a outra. Maractus de BAQUE- SOLTO ou de BAQUE-VIRADO, força e poesia de tempos remotos.

Cheia de ritos que se repetem, dançar Maracatu é reviver um pouco da majestade perdida... Lá vai dama-do-paço, que carrega nas mãos a CALUNGA ou BONECA, um totem respeitado por todos. E as baianas, os pagens, o povo que segue o ritmo alucinante, dançando sempre, com passos graciosos e fortes. E como sentinelas, lá vão os caboclos-de-lança, com suas golas bordadas e seus chocalhos pendurados nas costas... Salve, homens e mulheres de todas as senzalas, que continuaram fiéis ao seu povo e às suas origens!

Tudo isso existe em Pernambuco. Em outros períodos do ano, outros folguedos são revividos, com a força da sua tradição, repetindo danças, costumes, cantigas que se perdem no tempo e no anonimato do povo. Nenhum é tão fraterno e solidário como a CIRANDA. Não as “cirandinhas” das crianças que fomos, mas a Ciranda, dança de adultos, braços entrelaçados, movimentos unidos, o pé que vai à frente e retorna, fazendo com que a roda gire. Ciranda, imortalizada na ilha de Itamaracá, nos versos de Lia, que os ouviu da mãe e da avó e não guardou para si esse saber popular, dividindo-o com todos. E a Ciranda pode e é dançada o ano todo, fazendo supor o quanto o homem pode ser feliz, quando se junta, partilha, une suas mãos em torno de um mesmo ideal.

Não. Não há um carnaval igual ao de Pernambuco! Basta conferir em Olinda, no Recife, em Bezerros, em Nazaré da Mata e tantos outros lugares fiéis às tradições herdadas. Que bom que é assim!

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