sexta-feira, 25 de julho de 2008

OLINDA - O SONHO LUSITANO DE ALÉM-MAR, á sombra da cruz plantado!

Caminhar em Olinda, por entre ladeiras suaves, ruas estreitas, casario, sacadas, beirais, azulejos que resistem ao tempo, sinos seculares em sólidas torres engastados, pedras que contam histórias, louças que brilham no alto dos pedestais é reencontrar uma presença secular distante, eternizada nos marcos aqui deixados pelo donatário Duarte Coelho; é reencontrar, no Brasil, pedaços de Portugal.

Foi do norte que ele partiu. Trazia nas mãos a marca real de uma doação valiosa: a Capitania de Pernambuco em terras brasileiras. Na bagagem - de sonho e destemor - o eco de campanhas enfrentadas, a defender a coragem portuguesa que se atirava à conquistas e descobertas, confirmando a vocação do seu povo para o mar.

De pés fincados no chão encontrado, Duarte Coelho se fez senhor e dono, administrador e desbravador, coragem e lenda, força e lirismo, plantando a sua NOVA LUSITÂNIA com sementes que haveriam de ficar, quando ele partisse.

E nasceu OLINDA! Da “linda situação para se construir um vila” à ação. Do primeiro aglomerado de povo e de esperança, a verdade historicamente reconhecida. Nascia, no nordeste do Brasil, a mais sólida e bonita das cidades brasileiras, matriz e mãe de uma civilização que se firmava, germinando frutos de pioneirismo que haveriam de torna-la “semelhante à Coimbra” ou a denominá-la “escola de heróis”, ou ainda escolhendo-a para experimentos oportunos e imorredouros, dando-lhe razões para ser, 448 anos mais tarde, inscrita na lista da UNESCO como “PATRIMÔNIO MUNDIAL”!

Em 1535, depois de brilhantes serviços prestados ao seu País, no Oriente e na África, Duarte Coelho – nobre guerreiro português – recebeu do rei de Portugal a Capitania de Pernambuco, para onde veio com toda a sua família. Aqui, após haver fundado a vila de Igarassu, procurou um local onde pudesse estabelecer uma cidade senhorial e imponente, à beira-mar.

Descobrir as colinas ao norte de sua capitania foi surpresa e revelação! Ali construiu ele seu castelo fortificado. Dali fez progredir a cultura da cana-de-açúcar. Ali viu crescer uma vila de luxo e beleza, atraindo o interesse de ordens religiosas – jesuítas, carmelitas, franciscanos, beneditinos...). Dois anos mais tarde daquele em que chegara, confere à Câmara da Villa d´Olinda a Carta de Foral. Não demora muito e ele é chamado de volta à sua pátria. Seus filhos e sua mulher assumem o comando da Capitania.

À bela cidade, tão lusitanamente nascida, chamou de “muy nobre e sempre leal Villa d´Olinda”, único título que ela haveria de possuir ao longo dos séculos que se seguiram, até os dias atuais, quando a ousadia dos seus governantes e o mergulho nas valiosas fontes históricas fizeram-na receber três outros títulos: "
Cidade Monumento Nacional", em 26/11/1980; "Cidade Ecológica", em 29/06/1982; "Cidade Patrimônio Cultural da Humanidade", em 14/12/1982.

A dominação holandesa foi nefasta para Olinda. Incendiada e arrasada em 1631, só a muito custo ela se reergueu, reconstruindo grande parte dos seus monumentos, deixando registrada, mais uma vez, a marca de um povo forte que, em 1710, tentou tornar-se independente de Portugal. Outros episódios históricos nasceram em Olinda. A bravura foi sempre uma constante, em atitudes que registrariam a destinação do seu povo, de sua gente.

Hoje, os séculos permanecem vivos, ecos de uma civilização que, passando, deixou-se ficar naquilo que semeou de bom e de belo, na força como se construiu, tão longe da Pátria-Mãe, a cidade-irmã de tantas vilas portuguesas, nas suas características mais autênticas, nos seus azulejos genuínos, nas torres de suas 22 igrejas e 11 capelas, nas imagens trazidas através do oceano, nesse lirismo autêntico que se constitui na mais bonita herança recebida.

OLINDA: um sonho lusitano plantado tão distante...
OLINDA: próspera capitania do passado, sentinela avançada para um futuro que começa no reconhecimento mundial do comitê da UNESCO...
OLINDA: alegre e aberta aos que buscam a contagiante euforia que vem do povo e que tem registros tão fortes: Carnaval, Natal, São João, Violeiros, Serenatas...
OLINDA: misteriosa e religiosa, das procissões que repetem gestos e crenças de todos os tempos...
OLINDA: do nome de mulher – Amadis de Gaula, do romance português – ou da simbologia poética: “Oh! Linda situação para uma vila”...
Sempre e sempre a OLINDA portuguesa, a Nova Lusitânia, a cidade sonhada por um bravo, berço dos heróis que se seguiram, exemplo para o Brasil e para o mundo!

(publicada no jornal “O Mundo Português”, em setembro de 1983).

Ilustração: Cartão e selo "série Patrimônio Mundial da Humanidade" - EBCT

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