sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

O DIA EM QUE O PROFETA NASCEU



07 de fevereiro de 1909... 3ª feira de Carnaval... Nascia em Fortaleza, no Ceará, o menino HELDER PESSOA CAMARA, 11º filho do Guarda-livros João Eduardo Torres Câmara Filho e da Professora Primária Adelaide Rodrigues Pessoa Câmara... Era costume dar-se aos filhos o nome de antepassados... Os 10 filhos já nascidos tinham recebido esses nomes de tios, de avós... Para aquele, o pai - numa inspiração -, foi na estante onde a esposa guardava seu material de trabalho docente, abriu um livro ao acaso e pousou os olhos sobre lugares do mundo. Seu dedo foi passando por paises, por ilhas, por cidades... E, ao olhar lugares do extremo da Holanda, seu dedo parou sobre o nome Helder, pequenino ponto naquele mapa... O pai, categórico, afirmou: "este filho vai se chamar HELDER".... Só depois descobria que o nome escolhido significava "claridade", “céu claro”... Santa premonição!!!

Muito pequeno ainda aquela criança especial aprenderia, com a mãe sabia, uma inesquecível lição de ecumenismo. Era costume, para os católicos daquela área, descerem a calcada em frente ao templo evangélico, numa clara evidência de incompreensão e separação. Ele, pequenino, repete o gesto aprendido com crianças mais velhas e desce também a calcada, ao passar por ali... A mãe estranha o gesto, pergunta a razão e, percebendo a discriminação, obriga o pequeno Helder a passar varias vezes pela frente da igreja, dando-lhe uma poderosa lição de fraterno convívio... E assim cresceu aquele predileto cearensezinho, dizendo sempre que “quando crescesse queria ser padre” e ouvindo do pai a advertência de que nada seria fácil, se cumprisse esse desejo e assumisse essa vocação.

Ordenado sacerdote aos 22 anos e meio (o mais jovem padre de sua turma de seminaristas do Seminário da Prainha, em Fortaleza), chegou a ser "Doutor Honoris Causa" em mais de 30 universidades do mundo e a receber mais de 1000 condecorações nacionais e internacionais. Foi Bispo Auxiliar da Arquidiocese do Rio de Janeiro, sagrado em 1952, pouco antes de criar a sólida e definitiva CONFERENCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL- CNBB, nascida da sua capacidade criativa e profundo amor a Igreja e inspirada na vitoriosa experiência que vivera, como organizador nacional da Ação Católica. Depois, em plena vigência do período de ditadura, seria nomeado Arcebispo da Arquidiocese de Olinda e Recife e nela permaneceria de 1964 até o definitivo encontro com o Pai, em 1999.

Silenciado durante os sinistros anos do regime militar no Brasil, fez dos púlpitos das Igrejas o seu espaço de denúncia e do programa “Um Olhar sobre a Cidade”, na Rádio Olinda, em Pernambuco, o canal que levaria suas mensagens e sua sabedoria para todos os cantos, antecipando-se em muitas ações que deflagrou, aos outros padres e bispos contemporâneos.


Seus amigos, seus admiradores, seus seguidores celebram agora - na esperança e na fé -, os 100 anos de seu nascimento... Herdeiros todos de escritos cheios de sabedoria, saudosos das ações cheias de antecipação profética, de sua humildade franciscana, de seus gestos largos, de sua voz doce, verdadeira e inesquecível!

O “Dom da paz”, que completaria 100 anos este ano, foi para a casa do Pai em 27 de agosto de 1999 (e 10 anos já se passaram...) é – sem duvida - o maior profeta deste tempo!. Certamente, como digo no meu poema em forma de cordel, "DOM HELDER NO CEU": "daqui a pouco, santinho, é assim que irão lhe chamar; o "dom" do seu nome, filhinho, logo, logo irão tirar: vão juntar as coisas lindas que você andou a fazer e, com a Minha aprovação, SÃO HELDER você vai ser!"

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