quinta-feira, 2 de abril de 2009

A PRISÃO DE ARRAES EM FERNANDO DE NORONHA


”Quando deixou o Palácio do Campo das Princesas, já sem mandato, Miguel Arraes foi levado para uma cela no Quartel do Socorro, em Jaboatão dos Guararapes. Lá, aguardou a transferência para a prisão no arquipélago de Fernando de Noronha, no dia seguinte... No arquipélago, foram meses de prisão, interrompidos apenas uma vez, quando foi autorizado a voltar ao Recife para assistir ao casamento da filha Ana Lúcia com Maximiniano Campos, no dia 7 de agosto de 1964... A cerimônia foi celebrada na capela da Base Aérea do Recife, onde Arraes pôde assistir à celebração, “Ele pôde abraçar a filha e voltar como prisioneiro à ilha”, descreveu o amigo Antônio Callado, no prefácio do livro Miguel Arraes – Pensamento e Ação Política."
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02 de abril de 2009. Uma data importante, que assinala os 45 anos do confinamento de Miguel Arraes de Alencar, Governador de Pernambuco, em Fernando de Noronha.

Deposto no dia 1º de abril de 1964, no rastro do golpe militar que aconteceu no País, o destino deste nordestino foi definido como os de tantos outros políticos do passado: a segregação num Arquipélago longínquo, escolhido para abrigar um presídio para presos comuns, mas que havia acolhido também, esporadicamente, em dois séculos de existência, grandes líderes dos conflitos nacionais, como o Gal. Abreu e Lima, o poeta Jeronymo Villela, o ex-governador de Pernambuco Barbosa Lima, e Gregório Bezerra, Maringhela, Agildo Barata Ribeiro, entre tantos, através dos tempos.

Naquele 02 de abril, era para lá que haveriam de seguir mais uma leva de de trabalhadores, estudantes, funcionários públicos, juristas, líderes sindicais e homens que constituíam o poder legítimo, outorgado pelo povo. Entre eles, Miguel Arraes que governava Pernambuco de forma ousada e fecunda.

Na ilha, o único privilégio que mereceu foi o de ficar detido em alojamento separado dos demais prisioneiros, tendo como companheiro, dividindo um mesmo “iglu” (como são chamadas as construções do antigo “Posto de Observação de Mísseis Teleguiados”, implantado e ocupado pelos americanos na região do Boldró, entre 1957 e 1965) com o ex-governador de Sergipe, João de Seixas Dória. Ao longo do dia, somente uma hora para o “banho de sol” e fazer refeições, sob esquema de segurança.

Foram meses ilhado... Poucas vezes foram concedidas visitas de familiares (não só a ele como a todos que mereceram o mesmo castigo). Uma só saída da ilha, autorizada pelo IV Exército: para assistir, em 07 de agosto daquele ano fatídico, ao casamento da filha mais velha, realizado na Base Aérea do Recife.

Depois, trazido de volta ao continente quase nove meses depois, viria o exílio, a anistia, a volta para casa e, na virada da História, a nova eleição vitoriosa para Governador de Pernambuco... E, como um presente especial, coube-lhe receber Fernando de Noronha como pertencente ao Estado, pela Constituinte de 1988, que extinguiu os territórios federais e tornou o Arquipélago um Distrito Estadual, reintegrando-o a Pernambuco.

Foi curiosa a presença daquele homem público de poucas risadas, em 1988, como Governador, no mesmo lugar onde tinha sido confinado (hoje, sede de uma das empresas de mergulho da ilha). Naquele momento solene, ao seu lado estavam alguns dos presos ilhados de 1964, convidados por ele... Estava também o então Governador do TFFN, Jayme Augusto da Costa e Silva (identificado, pela Imprensa, como seu “carcereiro”).

Custa a crer que passaram-se 45 anos... Custa a crer que nós vivemos esse tempo, de perda e retomada da liberdade, no ciclo da vida que é concedida a cada um e que hoje, dia 02 de abril de 2009, podemos reverenciar um dos mais importantes políticos do nosso tempo, que viveu em Fernando de Noronha o isolamento, a solidão, a absoluta falta de liberdade. Que não teve chance alguma para se aperceber da profunda beleza que o rodeava, confinado naquele “calabouço” da região do Boldró!

Custa a crer que passaram-se 45 anos...

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