quinta-feira, 7 de maio de 2009

MÊS DE MAIO EM FERNANDO DE NORONHA


No passado, a devoção a Maria Santíssima – Mãe de Deus e nossa Mãe – era exteriorizada com as orações diárias feitas nas casas, nos chamados “Mês de Maio”, que reunia famílias em torno da recitação do terço, do canto de canções em louvor à Virgem, das reflexões bíblicas. Muitas dessas celebrações no lar eram festivamente encerradas no último dia do mês – 31 de maio – com ornamentação do altar que, ao longo dos trinta dias, havia permanecido modestamente florido e discreto.

Eram momentos encantadores! Crianças pequeninas aprendiam a “rezar o terço” imitando a “gente grande” que, fervorosamente, fazia daqueles instantes, um tempo de encontro, de meditação nos grandes mistérios da vida de Jesus: o anúncio de sua vinda; a visita de Maria a Isabel; o nascimento em Belém; a sua apresentação no Templo; sua agonia (já adulto), na oração no Monte das Oliveiras; seu julgamento, flagelação e calvário, culminando com sua morte de cruz; sua ressurreição; sua ascensão ao céu e a glória de sua Mãe, Maria, levada para a eternidade em corpo e alma e coroada no céu. O Terço era, na verdade, uma oportunidade de rever-se a trajetória do Cristo na terra, com detalhes preciosos, enquanto os lábios repetiam as “Ave Marias” que se seguiam...

Claro que, em alguns lares e em muitos locais, as rezas do mês de maio continuam a acontecer até hoje... Talvez tenham diminuído muito mas o costume ainda existe, estimulado pelas paróquias, como uma das atividades religiosas preferidas dos católicos de todos os tempos. Há até um movimento especial – o “Terço dos Homens”, que valoriza a recitação do Terço e convoca somente os homens a fazê-lo, numa clara provocação e chamado desses à oração. E ele não acontece apenas em cada Maio mas é constante, dentre as atividades paroquiais.

Em Fernando de Noronha o costume de fazer-se o “Mês de Maio” chegou com a presença militar. Antes, esporadicamente, louvava-se a Maria na Igreja dos Remédios, sem que o preso (maioria absoluta no Arquipélago, na época) tivesse qualquer envolvimento mais forte com os atos celebrativos feitos. Depois, na década de 1940, passado o tempo do Destacamento Misto da II Guerra Mundial, os capelães militares implantaram diversos costumes religiosos praticados no continente e, dentre eles, o “Mês de Maio” foi um dos preferidos das famílias que constituíam a população ilhéu, civil, e que era igualmente adotado pelas famílias dos militares servindo na ilha. Festa mesmo, no dia 31, acontecia no secular templo da padroeira, com direito à coroação de Nossa Senhora, com a imagem rodeada de crianças vestidas de anjos, jovens trajando o branco que significava pureza e paz.

De 1945 a 1987, repetiram-se as festas marianas de maio, com fervor renovado, sempre sob o controle dos padres-militares que atuavam como “capelães”. E, findo o tempo militar, os comandos civis que se sucederam - tanto em tempo de Território Federal como em seguida à reintegração a Pernambuco – mantiveram as práticas religiosas, agora sob a orientação da Arquidiocese de Olinda e Recife, à qual está o Arquipélago subordinado eclesiasticamente.

Vale ressaltar que, mesmo existindo essa vinculação desde o século XVIII, nem sempre ela foi admitida como razão do envio de padres diocesanos do Recife ou de Olinda, sofrendo a ilha com a ausência de líderes que conduzissem o seu rebanho católico. E, no período pós-1964, o Arcebispo de Olinda e Recife, Dom Helder Camara, não era bem-vindo por lá, o que fez com que, àquele tempo, somente militares-padres fossem responsabilizados pelas atividades da Igreja.

Hoje – no século XXI - esse costume continua a existir... Lá estão as famílias, reunidas, a cada noite de maio, de casa em casa, reacendendo a bonita tradição da saudação a Maria através da oração. E já se prepara a culminância dessa seqüência de rezas para, no dia 31 de maio, o grande momento do encerramento das homenagens.

Hoje é Dom Edvaldo Amaral quem tem a tarefa de conduzir a comunidade católica noronhense. Como Delegado Eclesiástico designado para o Distrito Estadual Fernando de Noronha, cabe-lhe manter a tradição que encontrou e fazê-la com ares de modernidade, usando, inclusive, uma interessante publicação especial sua, do Terço e da Ladainha de Nossa Senhora – “Os mistérios do Rosário” - como roteiro bíblico e prático para cada noitada de fervor e devoção!
Que bom que continua a ser assim!
(imagens do acervo do "Programa de Resgate Documental sobre Fernando de Noronha")

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