quarta-feira, 15 de julho de 2009

O HIDROAVIÃO JAHU VOLTA À CENA...



Usado em 1927, na pioneira viagem da África ao Brasil, o hidroavião Jahu foi reformado durante três anos, para voltar a ser usada como atração museológica, em São Paulo. Nascido do sonho do visionário João Ribeiro de Barros e construído às custas dele na Itália, o Hidroavião Jahú e despertou atenções quando realizou o primeiro “raid” de um avião do Brasil, conduzido – na histórica viagem, pelo seu “pai”, Ribeiro de Barros, e pelos companheiros Newton Braga, João Negrão e Vasco Cinquini.

O sucesso das amerissagens feitas pela aeronave foi enorme! E pousar nas águas tormentosas de Fernando de Noronha foi uma proeza inesquecível, somente documentada pelo então diretor do Presídio Comum então existente, Manuel Pinheiro de Menezes...

Mais recentemente, durante três anos ele foi sendo reformado, consumindo 12.500 horas de trabalho - para que ficasse como era, quando decolou do Arquipélago de Cabo Verde, na costa africana, na manhã de 28 de abril de1927, até o Arquipélago de Fernando de Noronha, em 12 horas de vôo, a 190 quilômetros por hora - velocidade que durante dez anos se manteve recorde. Ribeiro de Barros tinha apenas 27 anos à época.

Uma empresa de serviços para helicópteros de Carapicuíba/ São Paulo, realizou os serviços necessários para devolvê-lo à Fundação Santos Dumont, que tem a posse do Jahú. E o trabalho foi feito em parceria com o Ministério da Aeronáutica/ 4º Comar, a Fundação Santos Dumont e a Aeronáutica Italiana, contando ainda com o apóio do Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico de São Paulo. O Jahu é tombado por uma entidade criada pela família do piloto João Ribeiro Barros, seu idealizador.

O Jahú foi encontrado em estado de abandono, num hangar do Aeroporto Campo de Marte, na zona norte de São Paulo, corroído por cupim e pela umidade. Cerca de 40% da carcaça foi reconstruída e foi ele pintado de vermelho vivo, parecendo novo... O avião impressiona pela tecnologia com que foi construída na época, com motor Isotta Fraschini, de 1924, bomba dupla de gasolina, tampa das válvulas de alumínio (um material raro para a época). Seus dois motores ficam no alto do avião.

A família do piloto João Ribeiro Barros e a Prefeitura de Jaú querem que a aeronave fique na cidade no interior paulista que inspirou o seu nome. Corre na Justiça um processo de desapropriação do bem, e um outro de reintegração de posse. Agora é aguardar a decisão oficial e, enquanto isso não acontece, é a Fundação Santos Dumont que decide o destino do hidroavião, pensado para ser colocado no museu da TAM, em São Carlos /SP.

Enquanto aguarda a decisão, Ismael Ribeiro de Barros, sobrinho de João Ribeiro de Barros e guardador de lembranças do Jahu, fez a doação de um fragmento da lona que revestia a asa do hidroavião à Administração de Fernando de Noronha, para ser um elemento a mais, no acervo expositivo do Memorial Noronhense, espaço cultural existente no Arquipélago.
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Fotos: o Jahu amerissado nas águas de Fernando de Noronha / tripulantes do Jahu recebidos pelo diretor do Presídio. Acervo original: Genaro Pinheiro.

4 comentários:

Anônimo disse...

adorei a história desse hidroavião
bem legal

Anônimo disse...

e bom ver que, pelo menos parte de nossa historia, esta sendo resgatada. e bom isso. japedro-rio claro/sp

Unknown disse...

O "Jahú" de João Ribeiro de Barros será matéria da minha próxima coluna do Jornal Sintonia de Santo Amaro. Cristóvão José Zygmunt Wieliczka

CJZW disse...

Segue matéria publicada no Jornal Sintonia (Ed. de Maio de 2010 infelizmente sem a foto)

Coisas do passado...1927

Partindo de Gênova e passando por Roma, Cabo Verde, Fernando de Noronha e Rio de Janeiro, em 28 de fevereiro de 1927 desceu em Santo Amaro, na represa de Guarapiranga, o hidroavião Savoia-Marchetti modelo S.55, batizado por seu comandante de “Santa Maria” em homenagem ao navio com o qual Cristóvão Colombo descobriu a América. A tripulação do hidroavião se compunha pelo comandante e piloto Francesco di Penedo e seus companheiros Carlo Del Prete e Vitale Zacchetti. Todos italianos.
No mesmo ano outro Savoia-Marchetti, o de modelo S.55 C, desceu na represa. Ao ser construído, esse hidroavião foi batizado de “Alcyone” e depois de reformado para voar para o Brasil, o seu proprietário, comandante e piloto, o brasileiro João Ribeiro de Barros, idealizador do reide Europa – América do Sul rebatizou-o com o nome de “Jahú” (ortografia da época), nome de sua cidade natal no interior do Estado de São Paulo.
O “Jahú” decolou a primeira vez de Gênova em 13 de outubro de 1926 rumo ao Brasil. Após mil e uma dificuldades, sabotagens e mudanças na tripulação, finalmente conseguiram decolar de Cabo Verde em 28 de abril de 1927 e no mesmo dia chegaram em Fernando de Noronha. A tripulação era composta por João Ribeiro de Barros, João Negrão, Newton Braga e Vasco Cinquini. Em seguida passaram por Natal, Recife, Salvador, Rio de Janeiro e Santos, até a conclusão do reide em Santo Amaro em 1º de agosto daquele ano. Pode-se imaginar como foi aquele dia na represa. No céu azul um pontinho surgindo ao longe aumentando cada vez mais e também cada vez mais aumentando o barulho dos motores. O hidroavião sobrevoou a represa, deu uma grande volta espantando os pássaros da região e finalmente desceu. A população local foi logo se aglomerando na beira da represa. Os brasileiros foram calorosamente acolhidos e a travessia festejada. Nos dias que se seguiram a companhia de bondes Light & Power Company teve de colocar mais bondes na linha entre a Capital e o município de Santo Amaro para dar conta do número de admiradores que se dirigiam à represa com o intuito de ver o “Jahú”.
No meio de toda aquela gente estava um moço de 18 anos vindo recentemente de Campinas e que tinha se mudado para a Capital. Seu nome era Francisco de Almeida Prado, autor da foto ao lado.
O hidroavião depois dessa façanha nunca mais voou. Inicialmente ficou exposto no Museu do Ipiranga e posteriormente no Museu da Aeronáutica que era situado no Parque do Ibirapuera. No ano de 2000 esse museu foi desativado e o “Jahú” foi levado para o hangar da Polícia Militar no Campo de Marte. Sofrendo muito desde o início por falta de manutenção o hidroavião foi restaurado e hoje encontra-se exposto no Museu Asas de um Sonho, na cidade de São Carlos.
Em 21 de agosto de 1929 as duas tripulações foram agraciadas com a estátua “Heróis da travessia do Atlântico” feita pelo escultor Ottone Zorlini (Treviso, 20 de setembro de 1891- São Paulo, 6 de junho de 1967). A estátua inicialmente instalada no bairro Capela do Socorro, em Santo Amaro, posteriormente foi transferida para a Praça Nossa Senhora do Brasil em frente à igreja de mesmo nome onde se encontra até hoje. Foram também atribuídos os nomes desses heróis a logradouros e/ou estabelecimentos públicos de ensino em diversas cidades brasileiras para a memória do nosso povo. Curiosidade: o autor da foto, Francisco de Almeida Prado em 1946 mudou-se para Santo Amaro e aqui passou o resto de sua vida, vindo a falecer em 1989. Atenção: antes de viajar para São Carlos e visitar o museu confira se está aberto à visitação pública.

Por Cristóvão J.Z.Wieliczka
Colunista do Jornal Sintonia do bairro de Santo Amaro em São Paulo e colaborador da Echo Promoções Artísticas Ltda