quinta-feira, 6 de junho de 2013

A HOMENAGEM AO POETA QUE SE FOI...


Francisco César Leal se foi. Poeta premiado e condecorado, professor, crítico de poesia, filósofo, jornalista, o 1º poeta da língua portuguesa a gravar, ao vivo, em 1970, poemas para a Biblioteca de Poesia da Universidade Harvard, membro do Conselho Diretor da FUNDAJ, do Conselho Federal de Cultura, editor da revista “Estudos Universitários” e membro da Academia Pernambucana de Letras.
 
Em 1970, César Leal publicou – no jornal Diário de Pernambuco, do Recife, em 29/05/1987 - um poema em homenagem a Fernando de Noronha, que aqui transcrevo e que foi por mim incluído no Capítulo 10 do meu livro “Fernando de Noronha – Cinco Séculos de História”, que resgata a maioria dos poemas feitos em louvor ao arquipélago, em todos os tempos, tanto por gente aprisionada (nos séculos XVIII, XIX e 1ª metade do século XX) e por gente livre (a partir de 1942). 
Eis o poema - como forma de homenagem.: 
ELEGIA PARA FERNANDO DE NORONHA
                                             César Leal (1958)

                                          Ela já não tinha alegria 
e seu corpo era como uma sombra

que  mergulha nas águas

(versos lidos num sonho)



COMO um vento bruscamente iniciado

nas  águas de um pesadelo 

assim percorro o  círculo de um minuto

a fitar o sujo rio do tempo

onde as mãos do Nada acumulam

o ossuário dos atletas, das missas e dos mendigos

e todas as desgraças sobrepostas

neste hemisfério oleoso

onde uma única verdade nos é dita a conhecer:

- a sós sem a túnica dos túmulos,

bem cedo pó seremos!

Assim canto, a deslocar-me

neste planeta de esmalte

onde Demônios passeiam nos céus

os seus engenhos e teleguiados

só para que a morte e o terror

jamais enferrujem as rubras luvas da dor.

Posto que tantos caminhos

houvesse  nesta cumeada

eis que já entregam o arquipélago

e até os rochedos de São Pedro e São Paulo,

a “Ile Delphine” 

por cuja posse  nos batemos

desde o Brasil ainda na vagem

até as montanhas de Minas,

onde os inconfidentes sobreviveram

ao naufrágio das próprias tumbas

a rir da muralha atômica

cujas torres de rubi

tonteiam o sol da América.



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