Francisco César Leal se foi. Poeta premiado e condecorado, professor, crítico de poesia, filósofo, jornalista, o 1º poeta da língua portuguesa a gravar, ao vivo, em 1970, poemas para a Biblioteca de Poesia da Universidade Harvard, membro do Conselho Diretor da FUNDAJ, do Conselho Federal de Cultura, editor da revista “Estudos Universitários” e membro da Academia Pernambucana de Letras.
Em 1970, César Leal publicou – no jornal
Diário de Pernambuco, do Recife, em 29/05/1987 - um poema em homenagem a Fernando
de Noronha, que aqui transcrevo e que foi por mim incluído no Capítulo 10
do meu livro “Fernando de Noronha – Cinco Séculos de História”, que
resgata a maioria dos poemas feitos em louvor ao arquipélago, em todos os tempos,
tanto por gente aprisionada (nos séculos XVIII, XIX e 1ª metade do século XX) e
por gente livre (a partir de 1942).
Eis o poema - como forma de homenagem.:
ELEGIA PARA FERNANDO DE NORONHA
César Leal (1958)
Ela já não tinha alegria
e seu corpo era como uma sombra
que
mergulha nas águas
(versos
lidos num sonho)
COMO
um vento bruscamente iniciado
nas águas de um pesadelo
assim
percorro o círculo de um minuto
a
fitar o sujo rio do tempo
onde
as mãos do Nada acumulam
o
ossuário dos atletas, das missas e dos mendigos
e
todas as desgraças sobrepostas
neste
hemisfério oleoso
onde
uma única verdade nos é dita a conhecer:
-
a sós sem a túnica dos túmulos,
bem cedo pó seremos!
Assim canto, a deslocar-me
neste planeta de esmalte
onde Demônios passeiam nos céus
os seus engenhos e teleguiados
só para que a morte e o terror
jamais enferrujem as rubras luvas da dor.
Posto que tantos caminhos
houvesse nesta cumeada
eis que já entregam o arquipélago
e até os rochedos de São Pedro e São Paulo,
a “Ile Delphine”
por cuja posse nos batemos
desde o Brasil ainda na vagem
até as montanhas de Minas,
onde os inconfidentes sobreviveram
ao naufrágio das próprias tumbas
a rir da muralha atômica
cujas torres de rubi
tonteiam o sol da América.
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