terça-feira, 11 de junho de 2013

INCÊNDIO EM NORONHA - MAIS UMA GRANDE PERDA!



Faz tempo que descobri Fernando de Noronha... Décadas de presença na ilha e estudo de tudo o que se relacionasse ao arquipélago, deu-me um conhecimento específico a respeito daquele espaço insular, em imagens de todos os tempos e nas descobertas documentais experimentadas.


Nesses anos todos constatei como é cruel ver desaparecerem registros significativos do patrimônio edificado, símbolo dos tempos de ocupação definitiva pelo homem, ele mesmo responsável pelo descaso no tratar daquilo que custou tanto sacrifício para ser erguido. As perdas foram se acumulando. Não importa se foram recentes ou de saudosa memória. Mas, em quantas fotos me deixei registrar ao lado de grandes ruínas, hoje completamente desaparecidas ou fadadas a sumirem definitivamente...

Foi assim com o fantástico Sistema Fortificado - o maior já implantado no Brasil no século XVIII - com suas dez fortificações, das quais muito pouco permanece de pé. Foi assim com a Vila da Quixaba, segundo núcleo habitacional da ilha, outrora pontuada de casas simples e semelhantes entre si, sua capela singela e seu enorme alojamento de presidiários, tudo entregue ao abandono secular, salvando-se nos dias atuais apenas três desses prédios. Foi assim com a grandiosa Base Americana da II Guerra Mundial, estabelecida entre a Baía Sueste e a Praia de Atalaia, para a qual um grande desmatamento foi feito e da qual restam uns poucos antigos alojamentos e o “fantasma” do Frigorífico Velho, que abrigava tudo que vinha suprir a presença estrangeira cooperadora.  Foi assim com a Vila da Italcable, do começo do século XX, suntuosa e bela, deixada de lado depois de muitas destinações, quando os italianos se foram. Foi assim com os prédios destinados a abrigar prisioneiros e correcionais, dois deles já sumidos do mapa de ilha e um último agonizando, desde sempre, na Vila dos Remédios.
 
Algumas destruições são ainda mais distantes... Constatar essas perdas longínquas é igualmente perceber que deixar sem cuidados qualquer construção é condená-la a desaparecer lentamente ou abruptamente, como ocorreu em Fernando de Noronha. O que aconteceu com a Igreja de N. Sra. do Rosário dos Sentenciados? E a Capela de N. Sra da Conceição, dentro do Cemitério? E o casario destinado a autoridades, na praça em frente à Igreja dos RemédIos? E outros, e outros, e outros?

Quem pecou? Quem descuidou-se? Quem não percebeu o valor dos monumentos que encontrou ali? Quem os considerou um dia como “obsoletos e de difícil reconstrução”? Quem são os culpados, em cada tempo diverso da ilha? Difícil são as respostas.

Tudo isso me ocorre agora quando acabamos de perder um enorme casarão erguido entre 1957 e 1965, pelos americanos que atuaram na 11º Posto de Observação de Mísseis Teleguiados, destruído por um incêndio, recentemente.

Ali viveram, com todo o conforto, um grande grupo de técnicos que rastreavam foguetes lançados do Cabo Canaveral, vivenciando um Acordo entre o Brasil e os Estados Unidos. Para abrigá-los ocupou-se a área do Boldró, com alojamentos, prédios de serviços e clube de recreação, que viria a chamar-se mais tarde - pelos militares que herdaram essas instalações - Cassino dos Oficiais e Clube do Pico, toda a área pertencente ao IBAMA, desde 1988, por doação federal.

Tudo agora é lembrança. O espaço onde se pensou até implantar um CINEMA, em 2006, ardeu completamente, deixando o vazio e a desolação, que - quem sabe - poderiam ter sidos, um dia, evitados...

Aos noronhenses e aos visitantes restam as consultas ao MEMORIAL NORONHENSE, reinaugurado no maio próximo passado, para apreciar o que foi o POT, um dia construído e depois deixado ao léu.  É lamentável!!!
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Fotos:
01 - Clube do Pico, em 2006 - Vera Araújo
02 - Incêndio em junho de 2013 - Ana Clara Marinho - 

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