sexta-feira, 5 de setembro de 2008

A MAIS ANTIGA IGREJA CARMELITA DA AMÉRICA LATINA


Já ao passar por ela o coração se enternece... Numa colina suave, o templo majestoso desponta, robusto e belo, em meio ao verde da praça, visível de todas as outras colinas que rodeiam aquela construção de mais de quatro séculos.

O bairro ao redor carrega seu nome: bairro do Carmo. A praça também é assim chamada, embora tenha outros nomes, aplicados pelos homens através dos tempos. Seu declive suave sempre serviu de inspiração para encontros de poetas, seresteiros e repentistas, ofertando o clima ideal para encontros, desafios, namoros.

Ela é a Igreja do Carmo de Olinda, a primeira das muitas igrejas carmelitas espalhadas pelo continente americano. Foi ainda no século XVI que aqui chegaram – por acaso – alguns frades da ordem do Carmelo, que iriam para a Paraíba mas precisaram parar pelas tormentas experimentadas. Certamente, nenhum acaso os deixou ali, na pequena “ermida” dedicada a Santo Antônio, provisoriamente cedida, E eles ficaram para sempre.

Fez-se a Igreja. Fez-se o convento. Fez-se a capela lateral, para abrigar os leigos, irmãos terceiros... E de 1580 em diante ali viveram e dali partiram os carmelitas-missionários, espalhando-se pelo nordeste, criando outros espaços de oração e ação por muitos lugares.

O interior do templo foi cuidado com esmero. Talhas douradas, rendilhadas, foram sempre razão de encanto. A acústica da igreja surpreendia. A fachada em cantaria, com seu altar voltado para o mundo e sua imagem em pedra a vigiar os homens, fascinavam.

Depois, os desentendimentos criaram fissuras nas relações entre os frades e os donos do poder, fracionando e enfraquecendo a ordem, que acabou por fazer com que aquela Casa-Mãe passasse para outros donos, tomada que foi pela União.

Passou-se mais de um século. A insensatez de autoridades eclesiásticas fez ruir grande parte do patrimônio edificado, com a desculpa de abrir “ruas” e “praças” no entorno do monumento. A igreja isolada perdeu muito da sua solidez o foram precisos muitas ações de restauração, algumas silenciosas, feitas no interior dos seus chãos, para que os bolsões acumulados de água infiltrada no solo desaparecessem.

Agora, vive-se um outro tempo. A velha e bela Igreja do Carmo de Olinda volta a ser carmelita, por determinação superior. Fez-se justiça àquela ação nefasta do final do século XIX, permitindo que se desse a sua reintegração pelos frades do Carmelo. E essa consolidação não tardará a acontecer.

Olinda recupera um espaço seu, legitimamente seu, para ser novamente conduzido por religiosos, para ofícios os mais diversos, para as procissões anuais, para os festejos da Virgem do Carmo a cada julho e até mesmo para abrir-se à Arte, permitindo-se acolher manifestações artísticas diversificadas, servindo como casa de oração e espaço das formas de produzir beleza.

Que bom saber que aquela linda igreja, escolhida em 1983 para simbolizar o selo que consagrava o título recebido da UNESCO de “Patrimônio Cultural da Humanidade”, é nossa, mesmo, como nunca deveria ter deixado de ser!

Bons ventos acolham essa retomada!

Um comentário:

Arquitetura e Viagens disse...

No caminho da "construção do conhecimento" sobre a nossa "casa", nosso "lugar", é absolutamente imprescindível o trabalho e a existência de pessoas como você - ligadas ao seu tempo e a nossa história. Gosto muito, muito mesmo de ler o seu BLOG. É sempre muito bom. Como diz a canção ... "isso me aquece a alma, isso me ajuda a viver" melhor! Beijo grande.