Durante quatro dias, alunos de História, professores,
convidados e interessados vivenciaram – na Universidade Federal Rural de
Pernambuco - momentos de reflexão, descobertas e emoções no evento sobre os 50
anos da golpe militar que mergulhou o Brasil no difícil período da
ditadura. Claro, nomes em evidência nesse tema estiveram ali, em rodadas de
discussões oportunas, esclarecimentos importantes, depoimentos comovedores e
duros de ouvir...
A grande novidade ficou por
conta da inclusão – pela primeira vez nesse tipo de encontro - do arquipélago
de Fernando de Noronha, porque sabia-se muito pouco do envio de 34 presos para
a ilha, ao longo de 1964 e 1965, confirmando essa “quase” vocação de ter
sido ali um centro prisional. E aconteceu o Painel Memórias - Fernando de
Noronha: o imaginário de exílio, reclusão e degredo, coordenado pela
historiadora, Doutoranda Grazielle Rodrigues do Nascimento.
- · Eu própria, historiadora e coordenadora do “Programa de Resgate Documental sobre Fernando de Noronha”, apresentei as possíveis razões da escolha da ilha como refúgio para uma parte dos presos políticos de 1964; os acontecimentos ao longo dos anos 64/65, pouquíssimo divulgados fora da ilha; imagens de alguns desses presos e os livros de relatos de alguns desses, descrevendo o que fora viver duplamente ilhado: pelo oceano e pela absoluta falta de liberdade.
- · Uma antiga moradora da ilha – Dona Zefinha - que falou de como a rotina insular não foi abalada com o forte domínio dos militares do então Território Federal, sem que qualquer contato viesse a acontecer entre os presos políticos e aqueles que os rodeava. Para alguns, aqueles homens eram "papangus", que assustavam a todos com a proximidade e, os menores, “chegavam a se esconder embaixo da cama quando chegava a hora do"banho-de-sol" dos presidiários”.
- · Um dos prisioneiros políticos - João Zeferino da Silva (Joca) - que emocionou a todos com histórias de um tempo distante, que deixou nele marcas definitivas, no desenrolar dos dias de cárcere, mesmo com a proibição de torturas para qualquer um deles decretada pelo Governador Jayme Augusto da Costa e Silva. Marcado por um tempo de clandestinidade, de fuga, de tentativas de voltar a trabalhar, o hoje aposentado e doente Joca parece ter sido esquecido daqueles que defendem esses presos e lhes garante os direitos a uma vida digna e justa.
Para aquele auditório lotado, na sua maioria ocupado por
estudantes, o encontro foi um divisor de águas. Colocava-se sobre a mesa de
discussões um até então obscuro tempo de confinamento, de reunião de gente do
nordeste (Pernambuco, Paraíba, R. G. do Norte, Ceará, Bahia), afora gente de
São Paulo e até do Uruguai, todos distantes do continente, exilados na ilha.
Tomara que, da
avaliação final desse importante estudo, capitaneado pela UFRPE, através da
Profa. Dra Marcília Gama, surja como resultado, lançar luzes sobre o sombrio
tempo de prisão insular e, para aquele ex-prisioneiro, tão marcado pela
história prisional ilhada, abandonado à própria adversidade, necessitado de
justiça e ajuda, ainda exista esperanças!
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Foto 01 - Joca, em 1964
Foto 02 - antigo quartel do 30º BC, na ilha, onde ele trabalhou no calçamento.
Foto 03 - Dona Zefinha, Joca e Grazielle Rodrigues, no encontro.
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Foto 01 - Joca, em 1964
Foto 02 - antigo quartel do 30º BC, na ilha, onde ele trabalhou no calçamento.
Foto 03 - Dona Zefinha, Joca e Grazielle Rodrigues, no encontro.
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